Fernando Medina, presidente da Câmara Municial de Lisboa, escreveu um artigo de opinião no jornal britânico The Independent que foi publicado este domingo com o título: “After coronavirus, Lisbon is getting rid of Airbnb and turning short term holiday rentals into homes for key workers” [em português: “Depois do coronavírus Lisboa livra-se do Aibnb e transforma arrendamentos turísticos de curta duração em casas para trabalhadores de serviços essenciais”. Contudo, afinal, o título foi da responsabilidade do jornal e já foi alterado.
O The Independent alterou o título do artigo, quando este já tinha começado a suscitar várias críticas, para “After coronavirus, Lisbon is replacing some Airbnb and turning short term holiday rentals into homes for key workers“. Aqui as palavras-chave são “some [alguns]” e retirar-se “getting rid [livrar-se]“, ficando o título em português como: “Depois do coronavírus Lisboa substitui alguns Aibnb para transformar arrendamentos turísticos de curta duração em casas de serviços essenciais”.
Ao Observador, o gabinete do presidente da Câmara Municipal de Lisboa confirma a alteração referindo que “em nenhum carater do texto se fala em acabar com o Airbnb em Lisboa ou extinguir o alojamento local”. Além disso, clarifica que o título inicial foi inteiramente da responsabilidade do The Independent.
No Twitter, Fernando Medina deu também a mesma justificação esta tarde em resposta a outro tweet: “O artigo de opinião foi escrito por mim, o título e lead são do editor de opinião. Aliás, se ler o artigo nunca se fala em acabar com AL [alojamento local]. O nosso objetivo, com o “Renda Segura”, é arrendar casas a proprietários de AL para os subarrendar como renda acessível”.
O artigo de opinião foi escrito por mim, o título e lead são do editor de opinião. Aliás, se ler o artigo nunca se fala em acabar com AL. O nosso objetivo, com o "Renda Segura", é arrendar casas a proprietários de AL para os subarrendar como renda acessível.
— Fernando Medina (@F__Medina) July 6, 2020
Um artigo de opinião para mudar o rumo de uma cidade “pós-pandemia”
“Como muitas outras cidades, estamos a reavaliar as nossas prioridades pós-pandemia”, começa por escrever, no britânico The Independent. No artigo de opinião, o autarca assegura que “agora é o momento de fazer as coisas de maneira diferente” e quer colocar no topo da lista de prioridades os profissionais de serviços essenciais ao transformar antigos alojamentos para turistas em casas para estes trabalhadores.
O meu artigo de opinião no The Independent sobre o Programa Renda Segura e o futuro de Lisboa depois da pandemia de covid19.https://t.co/s9HKVRwN7h
— Fernando Medina (@F__Medina) July 5, 2020
Lisboa tem “beneficiado enormemente” em anos recentes com a vinda de milhões de turistas, mas pagou “um preço social”. Trabalhadores essenciais e as suas famílias têm sido sido “forçados” a sair da cidade à medida que os “alugueres temporários do tipo Airbnb” ocuparam um terço das propriedades no centro da cidade de Lisboa, “aumentando os preços de arrendamento, esvaziando comunidades e ameaçando o seu caráter único”.
A estratégia apresentada por Medina passa por priorizar alojamentos acessíveis para profissionais de saúde, trabalhadores do sector dos transportes, professores e outros milhares de pessoas nos serviços essenciais. A ideia é que a câmara arrende as casas aos proprietários para depois subarrendá-las à população, numa jogada que o próprio Medina considera “ousada” e que dá ao autarca uma oportunidade para transformar Lisboa numa cidade “mais vibrante, saudável e equitativa”.
“De Melbourne a Paris, a maré está a virar contra a expansão urbana e a voltar aos centros urbanos revitalizados, onde os moradores podem obter serviços importantes, como médicos, escolas e lojas a uma distância a pé de 20 minutos”, continua. Lisboa recebe 4 milhões de visitantes por ano, uma realidade que ameaça os seus 500 mil residentes de ficarem “sobrecarregados” pelo turismo de massa, com a solução a passar por transformar os alugueres estilo Airbnb em “alojamentos seguros”.
Além de identificar que o preço das propriedades “dispararam nos últimos anos”, Medina diz estar a trabalhar com empresas privadas para renovar alguns edifícios negligenciados da cidade.
As medidas referidas no artigo de opinião são também uma forma de contribuir para a crise das alterações climáticas. “Cidades mais densas significam menos pessoas a viajar diariamente para o centro. Menos veículos na estrada significam menos poluição e emissões nocivas que envenenam o ar que respiramos.”
No entanto, Medina deixa claro que “nada disto significa que não queremos turismo ou que não precisamos que os visitantes regressem a Lisboa o mais depressa possível”.
Ao longo do dia têm surgido críticas a este artigo de opinião de Fernando Medina, acusando-o de incoerência. A Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP) exigiu esta segunda-feira um esclarecimento da Câmara de Lisboa sobre a intenção de acabar com alojamento local na capital, para o transformar em casas para trabalhadores, no âmbito da pandemia da Covid-19. Além disso, Luís Newton, presidente de bancada do PSD na Assembleia Municipal de Lisboa, reagiu ao artigo dizendo que Fernando Medina “está claramente desorientado”.
*Artigo atualizado às 17h37 com informação da alteração do título do artigo de opinião e com reações da ALEP e do PSD Lisboa.