No passado sábado, Cristiano Ronaldo marcou finalmente de livre direto. Dois anos depois de chegar à Juventus, um ano depois de acertar na baliza de livre pela última vez, ao serviço da Seleção Nacional, o jogador português conseguiu fazer golo depois de afastar as pernas, subir os calções e respirar fundo, naquela preparação tão própria e tão reconhecida. Mas mais do que esse golo contra o Torino, mais do que o encerrar de uma série pouco positiva de 42 livres consecutivos sem conseguir marcar nenhum, foi a celebração de Ronaldo que acabou por fazer correr tinta.

Num grito quase em formato de espanta fantasmas, o português abriu os braços, ativou todos os músculos e olhou fixamente para a frente, sendo de imediato congratulado pelos colegas de equipa, cientes do importante momento que tinham acabado de presenciar — assim como o normalmente sisudo Maurizio Sarri, que sorriu junto ao banco de suplentes. Um grito que, 12 anos depois, fez lembrar outro praticamente igual: quando Ronaldo marcou de livre direto contra o Portsmouth, ainda ao serviço do Manchester United e em 2008, num dos golos mais conhecidos do avançado português. Nesse dia, um ano antes de sair para o Real Madrid, Cristiano Ronaldo abriu os braços, ativou todos os músculos e olhou fixamente para a frente. “A mesma energia”, escreveu o site Bleacher Report para descrever uma comparação entre duas fotografias com 12 anos de diferença mas nem um centímetro de distância no que toca à sensação.

Depois de tudo isto, a Juventus entrava esta terça-feira em campo para defrontar o AC Milan em San Siro com a certeza de que uma vitória significava ficar com mais dez pontos do que a Lazio, já que a equipa comandada por Simone Inzaghi perdeu em casa do Lecce — num jogo onde Patric, defesa dos romanos, acabou expulso depois de morder um jogador adversário. Sem Dybala e De Ligt, ambos suspensos, Sarri lançava Higuaín na frente de ataque, perto de Ronaldo e Bernardeschi, e Rugani era o central titular ao lado de Bonucci. Do outro lado, Rafael Leão começava na condição de suplente e Ibrahimovic era o homem mais adiantado da equipa de Stefano Pioli.

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Depois de uma primeira parte em que o AC Milan mostrou vontade de fazer frente à Juventus, ainda que as melhores oportunidades tenham pertencido aos bianconeri, Rabiot abriu o marcador logo nos instantes iniciais do segundo tempo, com uma arrancada impressionante que começou no próprio meio-campo e terminou com um remate perfeito de fora de área (47′). Cristiano Ronaldo aumentou a vantagem da Juventus (53′), depois de um passe longo de Cuadrado e da total desorientação da defesa rossoneri, e a vitória parecia garantida depois de o jogador português marcar pelo quinto jogo consecutivo, mantendo a lógica de fazer golo em todos os jogos da retoma até agora.

Até que, de repente e em cinco minutos, tudo mudou. Ibrahimovic reduziu a desvantagem (62′), na conversão de uma grande penalidade cometida por Bonucci, Kessié empatou logo depois na sequência de uma boa jogada de ataque rendilhada (66′) e Rafael Leão, que entretanto já tinha entrado, confirmou a reviravolta com um remate rasteiro no interior da grande área (67′). Até ao fim, e numa fase de total desorientação defensiva por parte da Juventus, Rebic ainda fechou a vitória do AC Milan depois de um passe inexplicável de Alex Sandro, que tinha acabado de entrar (80′).

No dia em que podia ter ficado com dez pontos de vantagem em relação à Lazio, a Juventus perdeu pontos pela primeira vez nesta retoma e falhou aquele que seria o xeque-mate à conquista na nona Serie A consecutiva. Já o AC Milan, que na meia-final da Taça de Itália perdida para a equipa de Sarri já tinha mostrado que tinha qualidade e capacidade para melhor do que o atual sétimo lugar do campeonato, deu a volta a um jogo em cinco minutos, mostrou eficácia e inteligência para segurar a vitória e conquistou três pontos importantes na luta pelas competições europeias.