Numa fase em que a situação epidemiológica na região de Lisboa e Vale do Tejo continua a suscitar “preocupação”, apesar da relativa “estabilização dos números diários”, assumiu a secretária de Estado, Jamila Madeira, é para os meses de inverno — e para uma provável segunda vaga de Covid-19 — que Portugal tem as atenções voltadas.
Esta é a mensagem que as autoridades de saúde, assim como o primeiro ministro, António Costa — que, esta quarta-feira, advertiu que o país não aguenta um novo período de confinamento — querem realçar. Graça Freitas, na conferência de imprensa da Direção-Geral da Saúde, explicou que o grande país de observação do hemisfério sul é a Austrália, por ser “altamente desenvolvido do ponto de vista da saúde, dos estudos que faz e da vigilância epidemiológica que faz”. A entrar no inverno, o país pelo qual Portugal se guia, e que, depois de uma primeira onda, “conseguiu baixar bastante os números, e até teve um período com muitos poucos casos”, enfrenta agora “uma segunda onda simétrica à primeira”, explicou a diretora-geral da Saúde, acrescentando ainda que, para Portugal, o “grande observatório continua a ser este país” para a Covid-19.
Sem antecipar cenários, Jamila Madeira confirmou, no entanto, que a DGS já está a delinear a estratégia para os meses que se adivinha. Um dos desafios chega já em setembro, com a reabertura dos estabelecimentos de ensino, prevista para entre os dias 14 e 17 de setembro. Nesse sentido, Graça Freitas afirmou que o ano letivo está a ser preparado para que decorra com “normalidade”, mas também em clima de “segurança”. As medidas previstas para os estabelecimentos de ensino são “múltiplas”, esclareceu a DGS, como a existência de “circuitos diferentes”, a utilização de máscara, uma “determinada disposição das carteiras nas salas” e a higienização dos espaços. Mas o que tem gerado mais “confusão” é a questão do distanciamento social entre os alunos. Graça Freitas explicou, então, que “sempre que possível deve garantir-se um distanciamento físico entre os alunos e entre os alunos e docentes de pelo menos um metro, sem que isso comprometa o normal funcionamento das atividades letivas”.
Questionada ainda sobre potenciais casos de reinfeção, Graça Freitas começou por dizer que “não há nenhuma prova inequívoca de que, em Portugal ou noutro país, exista esse fenómeno da reinfeção”. Sabe-se, no entanto, até à data, “que algumas pessoas que tiveram a doença, depois de terem dois testes negativos, mais tarde – ao serem novamente testados – tiveram novo teste positivo”. No entanto, isso “não significa que os próprios estejam infetados nem que transmitam”. Pode significar apenas que, a nível da sua área respiratória superior, existam partículas do vírus, detetadas no teste, “mas que podem não provocar doença”.
Enquanto não surgem mais estudos científicos para responder a todas essas questões, no imediato, um dos desafios na saúde passa, agora, por recuperar “toda a assistência médica e hospitalar” que foi adiada devido à pandemia. Segundo a secretária de Estado, isso “passa por programas de incentivos aos profissionais de saúde”, tendo sido publicada, esta quarta-feira, uma portaria que “aprova o regime excecional de incentivos à recuperação da atividade assistencial não realizada por causa da pandemia da Covid-19”. Essa produção adicional será realizada, preferencialmente, fora do horário de trabalho das equipas, nomeadamente aos fins de semana, anunciou Jamila Madeira. Ou seja, o Serviço Nacional de Saúde terá um reforço ao nível da organização e de recursos humanos.
A secretária de Estado assegurou que, desde o início do ano, foram realizadas, “com recurso a meios à distância, mais de oito milhões de consultas não presenciais”, o que representa um aumento de 65 por cento, em relação ao total no mesmo período em 2019.
“A linha SNS24 deu resposta, desde o início do ano, a um total de 1.383.812 chamadas. A plataforma Trace Covid, de monitorização e acompanhamento do ciclo de vigilâncias dos utentes suspeitos e infetados com Covid-19, contou com um registo de cerca de 75 mil profissionais, desde o momento em que foi implementada, contribuindo para 1.447.097 vigilâncias realizadas por telefone”, adiantou. “Em média têm-se registado cinco mil utilizadores ativos, por dia”, continuou, acrescentando que isso representa “um investimento sem precedentes na utilização de meios tecnológicos”.
Nesse contexto, Jamila Madeira assegurou ainda que, “ao abrigo do orçamento suplementar”, continuará a ser ampliada “a rede de equipamentos de saúde, com a aquisição e entrega de mais kits de tele-saúde”.