A imagem não é de arquivo. Ao fim de semanas a desfilar sem público, a moda quebrou o longo jejum e voltou a sentar os seus convidados na primeira fila. O passo foi dado pela Etro, marca italiana dirigida por Verónica e Kean. A dupla fez história ao realizar o primeiro desfile com público no local depois do confinamento ditado pela pandemia.

No total, 80 pessoas assistiram à apresentação, seguindo um conjunto de novos procedimentos ao qual a moda terá de se habituar se quiser retomar parte da velha normalidade — o uso de máscara foi obrigatório, o desfile aconteceu ao ar livre e com uma distância pouco usual entre as cadeiras e foi medida a temperatura a todos os convidados antes de entrarem no recinto.

Celebrity Arrivals At Etro Fashion Show

Medição da temperatura dos convidados à entrada do desfile da Etro, na última quarta-feira © Alessandro Bremec/NurPhoto via Getty Images

“Estamos vivos e ao vivo”, admitiram os criadores durante a conferência de imprensa que se seguiu. “É um ato de coragem que vem do coração. Quisemos trazer de volta a vida e energia à nossa cidade”, acrescentou Kean Etro. Milão, a cidade em questão, assistiu durante os últimos quatro dias a uma evento híbrido — as apresentações digitais predominaram, enquanto poucas marcas trouxeram o desconfinamento para dentro do calendário.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Apesar da audácia, a marca não escapou a críticas. Mais do que ter arriscado em convidar pessoas para assistir ao desfile, houve quem chamasse a atenção para a escolha dos influenciadores digitais presentes no evento. O perfil de Instagram Diet Prada constatou que, em 24 (mais de um quarto da assistência), nenhum deles era negro. Entre os utilizadores que comentaram a publicação está Naomi Campbell — “Estou farta. Isto tem de parar”.

https://www.instagram.com/p/CCrOS9EnzIc/

Enquanto uns reincidiram nos erros do passado, outros aproveitaram a semana da moda masculina de Milão para dar provas de mudança. Uma outra marca italiana, a MSGM, deu um passo adiante na sua estratégia de sustentabilidade ao apresentar a primeira coleção inteiramente tingida com recurso a pigmentos biodegradáveis e fabricada em algodão orgânico certificado. A partir de 2021, anunciou ainda a marca, todos os cabides e sacos usados nas lojas serão reciclados, à semelhança das etiquetas da roupa, que passarão a ser feitas de poliéster reciclado.

A Dolce & Gabbana cumpriu o prometido e também apresentou a sua coleção masculina primavera-verão 2021 diante de dezenas de convidados. Depois da Etro, o segundo desfile a reunir público à volta de uma passerelle. “O desfile não pode ser substituído por uma coisa num ecrã. Tem de haver contacto físico, conexão humana. Porque a moda começa nas pessoas”, afirmou Domenico Dolce à revista Vogue.

https://www.youtube.com/watch?v=tYtq1pokp-I

De máscara na cara e depois de lhes ter sido medida a temperatura à entrada, os cerca de 260 convidados ocuparam os lugares dispostos ao ar livre, nos jardins de uma universidade nos arredores de Milão. A coleção não sofreu com o impacto da pandemia, nem em dimensão, nem em inspiração. A paisagem mediterrânica, em particular o azul e branco da azulejaria, tingiram o desfile, que contou com mais de uma centena de coordenados.

Nem todos os pesos pesados na moda italiana alinharam no regresso ao desfile de carne e osso. Nomes como Versace e Gucci mantiveram a distância, mas com algum rasgo. A primeira convidou o rapper britânico AJ Tracey e a manequim Anok Yai afro-americana para uma atuação que revelou parte da coleção. A Gucci transmitiu o making of da campanha fotográfica num direito que durou 12 horas.

A Missoni deixou de lado as novidades sazonais e apresentou um pequeno documentário sobre a história da marca, contada na primeira pessoa pelas três gerações que já passaram pelo leme da empresa — Rosita, Angela e Margherita. Ermenegildo Zegna apostou num formato híbrido. A apresentação foi transmitida em direito, com um exército de manequins a desfilar num rooftop, porém sem público no local.

No meio de um calendário internacional, esteve também um nome familiar. David Catalán, designer espanhol radicado em Portugal e presença habitual na passerelle do Portugal Fashion, apresentou a coleção para o próximo verão através de um vídeo, agora partilhado nas plataformas digitais da Camera Nazionale della Moda Italiana.