Levante o copo bem lá no alto. Façamos um brinde. É que é verão, é altura de desfrutar as manhãs frescas e as tardes soalheiras que parecem nunca chegar ao fim. Há calor, há mais ânimo nesta fase pós-pandemia, vontade de sair de casa e reunir família e amigos — em segurança — ao redor de uma mesa. É que chegou o Tempo, sabe? Chegou o Tempo de aproveitar o melhor que o Centro do país tem para oferecer. Por isso, o convite é simples e a experiência, gastronómica.
Sozinho ou acompanhado, embarque nesta viagem e descubra os petiscos mais autênticos e as bebidas tradicionais das oito regiões do Centro. A rota está traçada, vamos a isto?
Na Ria de Aveiro, uma revolução de sabores
Ora, comecemos pela Ria de Aveiro. Entre o rio e o mar, a vibrante região com onze municípios, que se estende ao longo de 45 quilómetros de costa atlântica, surpreende pelo encontro único entre paisagens belíssimas, biodiversidade abundante e herança artística e cultural.
À sua mesa não poderá faltar o melhor do pescado nacional. Falamos de especialidades como a Caldeirada de Enguias ou de peixes variados, assim como as afamadas Espetadas de Mexilhão.
Não é coincidência que Ílhavo seja considerada a capital nacional do bacalhau, um dos alimentos mais tradicionais da gastronomia portuguesa. É que estas são as gentes que sabem confecionar este peixe, de características únicas, como ninguém: existe uma grande variedade de especialidades, onde o Bacalhau de Cura Tradicional Portuguesa ocupa um lugar especial.
É certo que o mar esconde muitos segredos, mas nem só de pescado vive esta região. Arrisque também nos petiscos à base de carne: falamos do famoso Leitão da Bairrada, da Chanfana de Cabrito ou Borrego, assada na tradicional caçoila de barro preto. Sem esquecer a suculenta Vitela assada à moda de Sever do Vouga. A acompanhar os petiscos, sugerimos que experimente os vários vinhos regionais de qualidade superior, como os da Bairrada – e aqui fazemos uma nota especial: experimente o espumante desta região e deixe-se levar pelos sabores que encontrará em cada golo. Para terminar, o Licor de Alguidar de Aveiro, um néctar doce, que já é produzido há mais de cem anos.
Viseu Dão Lafões. Alguém falou em variedade?
Um petisco aqui, outro petisco ali. Em terras de Viriato, a gastronomia viseense é uma das atrações especiais desta região do Centro. Antes de se sentar à mesa, deixe que os montes e os vales, assim como o charme rústico das aldeias envolvidas pela serra, lhe abram o apetite. Iguarias como o Rancho à moda de Viseu, ex libris da cidade, ou o Arroz de Carqueja, especialidade regional, são algumas das opções a experimentar. Mas como gostamos de partilhar os segredos menos conhecidos, fica aqui a sugestão: procure pela Vitela Assada de Lafões e pelo Entrecosto com Chouriço e Grelos. Destacamos também os Vinhos do Dão: maduros, de aromas mais frutados, são ideais para acompanhar os petiscos ou apreciar o fim de um dia de verão bem vivido, olhando a paisagem ímpar desta região. Duas sugestões mais leves, mas não menos importantes, são a Maçã da Beira Alta e a Maçã Bravo de Esmolfe, dois produtos certificados exclusivamente portugueses (e muito suculentos, garantimos).
Serra da Estrela. Ora, o queijo, claro!
Cortamos às fatias? Abrimos por cima? Ainda hoje a discussão se mantém: como é que se abre o Queijo Serra da Estrela, um dos mais famosos produtos portugueses? Isso, deixamos à sua consideração, mas queremos que saiba que este é um manjar obrigatório. Produzida na região montanhosa da serra com leite cru de ovelha da raça Bordaleira da Serra da Estrela ou Churra Mondegueira, esta iguaria detém a distinção DOP (Denominação de Origem Protegida) na União Europeia.
É nesta região, uma das mais verdes do país, que em comunhão com a natureza e a arte de bem receber, surgem alguns dos petiscos mais saborosos do Centro de Portugal. Aqui, a gastronomia é generosa e os sabores serranos aquecem a alma: experimente colocar o Queijo Serra da Estrela sobre uma fatia de Pão de Seia ou recorra à tradição “à pastor” e desfrute da textura amanteigada sobre um pedaço de broa de milho portuguesa. Utilize marmelada, considerada o acompanhamento oficial do queijo Serra da Estrela. Os enchidos também são protagonistas por aqui: arrisque na morcela de Seia tradicional, no lombo serrano e, para os mais corajosos, porque não experimentar a chouriça picante? E, já que estamos pelos enchidos, também podemos matar a fome com o famoso borrego assado, tão característico nesta região.
A Ginja produzida na Serra da Estrela é também um dos ex libris da região, assim como o Licor de Mirtilo, de sabor intenso e aconchegante, produzido a partir de mirtilos colhidos nas encostas da serra, ou o Licor de cereja do Fundão, que já ganhou prémios pela sua qualidade. E, claro, não deixe de provar os famosos vinhos da região da Beira Interior.
Coimbra, terra dos mil encantos gastronómicos
Esperemos que ainda não esteja cheio porque a viagem continua por Coimbra. Uma terra de muitos encantos e gente autêntica, indissociável da história de Portugal. Sabia que, em 2018, a região conquistou o título de Região Europeia da Gastronomia 2021, distinção atribuída pelo IGCAT (Instituto Internacional de Gastronomia, Cultura, Artes e Turismo)?
Das águas do Mondego, vem a lampreia, o “bicho feio”, como é apelidada a especialidade que não gera consensos. Costuma dizer-se que não há meio termo: ou se adora, ou não se suporta o sabor. Quanto a nós, apreciadores assumidos, sugerimos o Arroz de Lampreia.
Prefere pratos de carne? São bastantes as opções a que pode recorrer: o popular Leitão assado da Bairrada, considerado uma das sete maravilhas gastronómicas de Portugal, destaque ainda para a Lampatana e a Chanfana.
Prepare o seu paladar para o marcante vinho da Bairrada, território de terras férteis e castas de alta qualidade, como é o caso da casta Baga, se preferir vinho tinto, ou da casta Bical, se o vinho branco for mais do seu agrado. Para complementar, acompanhe o vinho com pedaços de Queijo Rabaçal, que detém o título DOP (Denominação de Origem Protegida), e um pouco de mel da Serra da Lousã, duas estrelas da região.
O território de Coimbra oferece ainda várias opções de cerveja artesanal e Licor de Medronho.
Leiria é para todos os gostos
Em Leiria, o difícil é saber por onde começar a explorar, entre património histórico — o Mosteiro da Batalha foi classificado como Património Mundial da UNESCO —, cultural e muita natureza. Comecemos pelo que aqui nos trouxe: a saborosa gastronomia regional.
Ora, Leiria é uma terra que satisfaz todos os gostos. Já Eça de Queiroz, em várias obras literárias, fazia referência a conhecidos pitéus da região: é exemplo disso a Sopa Seca, que surge mencionada em “A Ilustre Casa de Ramirez”. Outras especialidades que merecem a sua atenção são o Tachadéu, o Leitão da Boavista, a Cabidela Serrana, o Arroz de Serrabulho e a muito tradicional e deliciosa Morcela de Arroz.
Amante de queijo? Não nos esquecemos de si: procure pelos tradicionais queijinhos de azeite, e acompanhe com Torresmos, um dos protagonistas da gastronomia leiriense. É um belíssimo complemento para qualquer refeição.
No final do repasto, Deixe-se envolver pelo sabor suave e aveludado de um licor de Chícharo D’ Alvaiázere, que ao longo dos anos tem granjeado o reconhecimento dos principais palcos nacionais e internacionais. Brindamos antes de prosseguir o roteiro?
Região Médio Tejo, a rainha dos petiscos
Chegámos ao coração de Portugal: eis uma das regiões com mais encantos do centro do país. É aqui que se sente o peso da herança histórica dos Templários. Mas como nem só de património é feita uma região, exploremos mais além. Os sabores são genuínos e acomodam todas as preferências: opte por começar pelos enchidos e, claro, pelo Presunto de Mação, prossiga e experimente os Maranhos de Abrantes, que servem de belíssima entrada para os magníficos pratos típicos de peixe do rio e de caça. Há mais ainda: sugerimos as migas de bacalhau, o Feijão com Couve de Alcanena ou a Açorda de Ovas de Constância. Na Sertã, destaque para o Bucho Recheado e também para os maranhos. Sente-se à mesa, mas não se esqueça que do rio também surgem várias iguarias a considerar: é o caso da Açorda de Sável da lampreia, do Achigã Frito e Grelhado, e das Enguias, que podem ser confecionadas de várias formas: fritas, grelhadas ou em ensopado.
A escolha é imensa, mas as bebidas que preservam a identidade da região não podem ser colocadas de lado: acompanhe com um copo de Vinho Medieval de Ourém ou Vinho do Mouchão.
Oeste, iguarias do mar e não só
São tantas as surpresas ao longo da costa do Oeste: o cheiro a oceano acompanha-nos ao longo desta viagem. Os sabores que vêm do mar merecem ser conhecidos: petiscos como as Enguias e as Amêijoas da Lagoa de Óbidos, e ainda os mariscos de Porto das Barcas. As iguarias confecionadas à base de carne ocupam também um lugar especial: deguste o melhor da região como o Cabrito no Forno as múltiplas variações da codorniz ou o Coelho Guisado com arroz.
É de Alcobaça que vem o típico Frango na Púcara, servido aos pedaços com arroz e batata frita, um petisco para saciar o apetite a qualquer hora. E no final da refeição, porque não trincar uma suculenta maçã de Alcobaça, ou
uma Pêra Rocha do Oeste? Pode consumi-los tanto ao natural como transformados em doçaria
regional.
Numa região de néctares inolvidáveis, a receita é antiga e começou a ser produzida nesta região em 1930. Falamos do Licor de Ginja de Alcobaça (há quem diga que está ao nível das aguardentes dos nossos vizinhos franceses). Outro tesouro que não se pode esquecer: referimo-nos a um famoso licor português, a Ginja de Óbidos. Peça uma “Ginjinha”. Em Torres Vedras, experimente o vinho, é que o município é casa de uma das mais extensas áreas vinícolas do país.
E, já que está por esta região, não deixe de provar a famosa aguardente da Lourinhã, local icónico quando se fala nesta bebida. É uma bebida tão conhecida, que há até quem lhe dê o nome de Lourignac, colocando-a como uma das três regiões no espaço europeu em posição de igualdade com as célebres aguardentes francesas – Cognac e Armagnac.
Beira Baixa. Migas, migas e mais migas
Por fim, a Beira Baixa, onde os produtos vêm da terra e são preparados com a mestria da sabedoria antiga. Paragem obrigatória em Castelo Branco para degustar as famosas Empadas. Na Póvoa de Rio de Moinhos, pergunte pelos famosos enchidos, como a morcela, o chouriço, a farinheira. Mais opções? Temos tudo estudado, não se preocupe: não perca as Migas de Batata com Tomate, em Ninho do Açor, ou as Migas de Peixe, em Malpica do Tejo. Haverá lá algo mais português que as migas, o verdadeiro petisco das aldeias, que nos aquecem e confortam o apetite? E não deixe de se deleitar com o cabrito estonado, os maranhos e o bucho recheado, o cabrito e o borrego assados em forno de lenha e as carnes de caça. Em Oleiros, aproveite para provar o cabrito estonado de Oleiros, uma especialidade única.
Para opções mais leves, pode optar por pedir o Queijo de Castelo Branco ou o Queijo Amarelo da Beira Baixa. Se estiver a sentir-se com vontade de arriscar, tente o Queijo Picante da Beira Baixa.
São tantos os encantos do Centro do país, região com charme e alternativas gastronómicas para explorar. Agora sim: barriga cheia, ânimo renovado… brindamos ao bom da vida? Sim, chegou o tempo de aproveitar o melhor que o Centro tem.
Saiba mais sobre este projeto em https://observador.pt/seccao/centro-de-portugal/