Jorge Jesus teve alguns jogos marcantes no Brasil ao serviço do Flamengo. À cabeça, a final da Libertadores. Logo à cabeça: Santos Borré tinha marcado ainda no quarto de hora inicial, os minutos iam passando e os rubro-negros sagraram-se pela segunda vez campeões sul-americanos com um bis de Gabigol aos 89′ e aos 90+2′. Mas houve mais, como a dramática passagem aos quartos da prova continental nos penáltis com o Emelec, a vitória por 3-0 com o Palmeiras no Campeonato, a Supertaça do Brasil versão “rolo compressor” com o Athl. Paranaense, o último encontro que valeu o Carioca frente ao Fluminense. Entre tudo isto, o treinador prefere ainda assim a goleada por 5-0 no Maracanã frente ao Grémio, depois do despique que teve com o homólogo Renato Gaúcho.
Jesus sempre foi um apaixonado pela América do Sul e, durante vários anos quando estava ainda a treinar em Portugal, passava madrugadas a ver jogos do outro lado do Atlântico. No Flamengo, além de detetar os jogadores que mais impressionavam, tinha de estudar como se comportavam no plano coletivo e individual quando preparava jogos do Flamengo. Alguns contratou para os rubro-negros, casos de Léo Pereira (o central esquerdino que queria para Pablo Marí) ou Michael, revelação de 2019 pelo Goiás; outros não foram tentados mas podem chegar ao Benfica e Everton, mais conhecido como Cebolinha, está na calha para reforçar os encarnados, bem mais perto do que outros referenciados como Gilberto (Fluminense) ou Lucas Veríssimo (Santos).
Nesta altura, Benfica e Grémio já acertaram o valor base que será desembolsado pelo internacional brasileiro, que a rondar os 20 milhões de euros, devendo ficar abaixo dos 22 milhões que são ainda hoje recorde na Luz e que foram investidos em Raúl Jiménez. Em causa estará também uma percentagem que continuará na posse da equipa brasileira, na ordem dos 10% do total ou da mais valia. O acordo com o jogador também está conseguido e existe apenas um ponto a travar o total acordo: a forma de pagamento, mais faseada pela intenção dos encarnados, com um menor número de tranches no desejo dos responsáveis da equipa de Porto Alegre. As duas partes irão continuar a negociar mas tudo aponta para que Cebolinha já não fuja ao Benfica, ultrapassando assim o interesse dos ingleses do Everton que pretendiam juntar o extremo a Richarlison e Bernard na equipa comandada por Carlo Ancelotti.
De acordo com o Globoesporte, foi o próprio jogador que preferiu a opção Portugal e por influência de Jesus, que pediu a sua contratação e que “facilita” também a adaptação à Europa. Em causa estará um contrato até 2025 para o internacional de 24 anos, que tem o seu passe repartido por quatro partes (o que acaba por atrasar também o fecho do negócio): o Grémio detém 50%, o empresário Gilmar Veloz – que a determinado momento trabalhou muito com o mercado nacional, intermediando a vindas de Polga, Luisão ou Liedson, além de representar Luiz Felipe Scolari quando foi selecionador nacional – tem 30%, o Fortaleza e o investidor Celso Rigo 10% cada.
Não temos pronunciamento oficial, de momento não há nada. Estas questões só nos desestabilizam. Deixem as coisas acontecerem naturalmente. Se ele vai jogar o Gre-Nal ou não, não há como dizer, pois não há nada concreto sobre nada. O que há de concreto é que, sim, vamos receber uma delegação do Benfica”, confirmou Romildo Júnior, presidente do Grémio, à Fox Sports.
Nascido em Maracanaú, Everton (que era então apenas Everton) esteve na formação no Fortaleza e destacou-se num torneio das camadas jovens em Pernambuco onde estava não só o Grémio mas algumas equipas europeias. A formação de Porto Alegre garantiu a contratação do jogador ainda com 16 anos, num empréstimo que se tornou depois compra definitiva no ano seguinte. Com apenas 17 anos, fez a estreia pelos seniores num jogo com o São José a contar para o Campeonato Gaúcho. Foi nesse ano que recebeu a alcunha pelo lateral Pará, tornando-se Cebolinha em alusão à personagem da turma da Mónica antes da chegada de Cristian Rodríguez, que é também conhecido como Cebola Rodíguez, jogador uruguaio que passou pelo Benfica em 2007, mudou-se para o FC Porto em 2008 e foi emprestado em 2014 ao Grémio por parte do Atl. Madrid, por quem assinara em 2012.
Com o passar dos anos, Everton tornou-se um titular indiscutível do conjunto de Porto Alegre, tendo ganho tudo o que havia para ganhar nos últimos três anos menos o Campeonato: conquistou a Taça dos Libertadores em 2017, numa final com duas vitórias com os argentinos do Lanús; tinha ganho antes a Taça do Brasil numa final com o Atl. Mineiro onde marcou e Pedro Rocha, agora reforço do Flamengo por empréstimo do Spartak Moscovo, bisou na primeira mão; venceu a seguir a Supertaça Sul-Americana (Independiente), dois Campeonatos Gaúchos e ainda a Supertaça Gaúcha. E esse é o próximo objetivo do jogador, ainda antes de sair do Brasil: conseguir o terceiro título estadual consecutivo, numa final que se irá realizar com o rival Internacional esta quarta-feira.
Em paralelo, e perante o destaque em termos nacionais, Everton Cebolinha foi pela primeira vez convocado para a seleção do Brasil, tendo sido depois convocado para a Copa América do ano passado ganha com um triunfo frente ao Peru na final, realizada no Maracanã, e onde foi o melhor marcador da competição a par de Guerrero (ambos marcaram no jogo decisivo) apesar de nunca ter feito antes qualquer golo com a camisola da canarinha. Sem o lesionado Neymar, o extremo foi decisivo para o conjunto de Tite não falhar na prova de futebol seguinte organizada pelo país depois do fracasso com a goleada sofrida frente à Alemanha no Mundial de 2014.
“Mais do que fazer comparações, há uma coisa importante a explicar sobre ele: é um jogador que, como todos sabem, dribla muito. Mas ele é muito direto, entra na diagonal e dribla o adversário sempre com o objetivo de marcar golos. Ele sempre tem esse objetivo na cabeça, não é aquele que dribla apenas por driblar. Nisso, ele faz lembrar o Cristiano Ronaldo: o pensamento é driblar para marcar golos. É um garoto com qualidade e velocidade extraordinárias. É um mestre em entrar na diagonal”, comentou à Rádio Marte, de Itália, Luiz Felipe Scolari, que foi treinador do Grémio entre 2014 e 2015 antes de ir para os chineses do Guangzhou Evergrande, numa fase onde o Everton Cebolinha estava a ser associado a uma possível transferência para o Nápoles.