O presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, desafiou esta terça-feira o primeiro-ministro a colocar o seu Governo e o PS “na ordem”, considerando que António Costa “deve explicações ao país” sobre o surto em Reguengos de Monsaraz.

“Exige-se a António Costa que meta na ordem o seu Governo e o PS. Portugal não tem donos, o PS não é o dono disto tudo”, escreve o líder numa nota enviada aos jornalistas.

O presidente do CDS-PP salienta que, “face ao filme de terror sobre as mortes em Reguengos de Monsaraz, que todos os dias conhece novos enredos, é o primeiro-ministro que deve explicações ao país”.

Na ótica de Francisco Rodrigues dos Santos, “António Costa não pode continuar a apanhar banhos de sol enquanto os portugueses levam banhos de promiscuidade e irresponsabilidade política”.

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“António Costa é líder do partido que Governa Portugal, que escolheu Ana Mendes Godinho para ministra, que nomeou Graça Freitas para a diretora da DGS [Direção-geral da Saúde], que tem como camarada José Robalo, diretor regional de Saúde, e que patrocinou a eleição de José Calixto para presidente de Câmara de Reguengos de Monsaraz, o mesmo que também preside à fundação que detém o lar”, elenca.

O líder democrata-cristão critica igualmente que a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social tenha dito que “não leu o relatório da Ordem dos Médicos e que a fiscalização da tutela falhou”, e que “os planos de contingência que a DGS deveria desenhar para os lares” continuem a “não existir”.

Na nota enviada às redações, Rodrigues dos Santos indica igualmente que “o diretor regional de Saúde ameaçou com processo disciplinar os médicos que denunciaram a falta de condições do lar” e que “o presidente de câmara – que também presidente à fundação [responsável pelo lar] – não impediu que esta tragédia acontecesse debaixo do seu nariz”.

“A bem da transparência, do mérito e da democracia, o Estado e o Partido Socialista não podem ser cada vez mais uma e a mesma coisa”, insiste.

O surto de Reguengos de Monsaraz, detetado em 18 de junho, provocou 162 casos de infeção, a maior parte no lar (80 utentes e 26 profissionais), mas também 56 pessoas da comunidade, tendo morrido 18 doentes (16 utentes e uma funcionária do lar e um homem da comunidade).

Posteriormente, num relatório da auditoria conhecido no dia 06 de agosto, a Ordem dos Médicos disse que o lar da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva não cumpria as orientações da Direção-Geral da Saúde (DGS) e apontou responsabilidades à administração, à Autoridade de Saúde Pública e à ARS.

A Procuradoria-Geral da República disse depois à Lusa que foi instaurado um inquérito sobre o surto de Covid-19 neste lar e que está a analisar o relatório da Ordem.

No sábado, PSD e CDS-PP requereram a audição urgente das ministras da Segurança Social e da Saúde no parlamento, e também da diretora-geral da Saúde.

O líder dos centristas foi mais longe e pediu a demissão da ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, tendo sido acompanhado pelo Chega.

No sábado passado, a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social admitiu ao Expresso que faltam funcionários nos lares, lembrando que há um programa para colmatar essa falha, mas considerou que a dimensão dos surtos de Covid-19 “não é demasiado grande em termos de proporção”.

Hoje, o primeiro-ministro manifestou “toda a confiança política” na ministra Ana Mendes Godinho.

Portugal regista hoje mais cinco mortes por Covid-19 e mais 214 casos confirmados de infeção em relação a segunda-feira, segundo o boletim epidemiológico da DGS, hoje divulgado.