Passaram-se 21 anos desde que a princesa plebeia — nascida no Kuwait, mas com raízes palestinianas — se tornou rainha consorte. Ao lado de Abdullah II, que assumiu o trono jordano em 1999, poucas semanas antes da morte do pai, destacou-se, desde o primeiro dia, como uma figura querida e carismática. Rania chega aos 50 com uma sobriedade que contrasta com os movimentados anos que a projetaram internacionalmente, quer a abraçar causas tão nobres como a violência sobre as mulheres e as necessidades educativas de crianças desfavorecidas, quer a aparecer lado a lado com líderes políticos e estrelas do mundo da música e do cinema.
Rania, a rainha estrela, vive hoje longe do aparato de outros tempos. Refugiada nas redes sociais (soma mais de dez milhões de seguidores no Twitter e mais de seis milhões no Instagram), é lá que deambula entre os compromissos oficiais e a esfera familiar. Assinalou em junho 27 anos de casamento — “Como não me apaixonar por este sorriso, outra e outra vez”, escreveu numa dedicatória ao marido para assinalar a data.
O casal tem quatro filhos: Hussein, o príncipe herdeiro de 26 anos, Iman de 23, Salma, que aos 19 já alcançou o feito de ser a primeira mulher piloto nas Forças Armadas do seu país, e Hashem, que aos 15 anos e tal como os irmãos estuda na Academia Internacional de Amã, instituição de ensino bilingue fundada pela mãe em 2004.
Os primeiros anos de reinado estão para Rania como os loucos anos 20 estão para o século passado. Das receções de Estado às luxuosas galas de beneficência em Versalhes, passando por reuniões do Fórum Económico Mundial, cerimónias de prémios e até antestreias de filmes, a rainha da Jordânia estava em todas, quase sempre acompanhada pelo marido, mas claramente em vantagem no que tocava a atenção mediática.
A sua beleza natural, os seus discursos ponderados e apaixonados e a sua elegância nata conquistaram o mundo. Num dia, sentava-se à mesa para jantar com Sarkozy, Bruni e Bono Vox. No dia seguinte, fazia compras em lojas de luxo em Itália. Aparição após aparição, tornou-se um ícone de estilo e figura transversal a publicação de moda e noticiários.
Dentro do próprio país, é acarinhada mas também polémica. Sempre de cabeça descoberta, o que gera desconforto entre as alas mais conservadoras da Jordânia, além de plebeia, Rania é também a rainha estrangeira e de origem palestiniana, o que é encarado como uma ameaça à dinastia haxemita. Nasceu no Kuwait, de onde a família saiu após a invasão por parte do Iraque, em 1990. Foi na Universidade Americana, no Cairo, que estudou Administração e Gestão de Empresas, imediatamente antes de se fixar em Amã, a capital jordana.
Chegou a trabalhar nos departamentos comerciais da Citibank e da Apple, mas em agosto de 1992 conheceu Abdullah bin Al-Hussein, o príncipe herdeiro da Jordânia, durante um jantar. Terá sido amor à primeira vista. O noivado foi oficializado no final desse mesmo ano e, seis meses depois, o casal deu o nó, ainda sem o peso da coroa. A ocasião foi sumptuosa, dividida entre dois palácios (com um cortejo pelas ruas da capital pelo meio) e com a noiva a envergar duas criações do britânico Bruce Oldfield.
Daí em diante, mulheres e crianças protagonizaram as principais lutas de Rania, dentro e fora das fronteiras do país. Em 2006, chegou mesmo a integrar os órgãos de direção da Organização das Nações Unidas, a par com o apoio a várias fundações com ação nestas áreas. Por onde passou, a sua influência foi reconhecida e Portugal não é exceção. Em 2009, foi agraciada com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique e ainda com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada.
A última década, porém, foi de abrandamento. Talvez porque há precisamente dez anos, pela primeira vez, Rania ficou mal na fotografia. Em vésperas da revolução que viria a depor vários ditadores árabes, a rainha da Jordânia convocou uma faustosa reunião para celebrar o seu 40º aniversário. A rainha não olhou a custos e deslocou cerca de 600 convidados para o deserto de Wadi Rum, região árida e pobre do país. A vida pública da rainha da Jordânia voltou-se, subitamente, para dentro de portas, com o mundo a usar as ferramentas digitais para observar ao longe a mulher que parece manter-se imune à passagem do tempo.
Na fotogaleria, veja a evolução de Rania, rainha da Jordânia, ao longo dos últimos 30 anos.