A Câmara Municipal de Sintra esclareceu esta quarta-feira que o terreno onde se situam as jazidas com pegadas de dinossauro, que está a ser alvo de uma providência cautelar, é privado e não está sob tutela da autarquia.

Na terça-feira, um grupo composto por geólogos, museólogos, paleontólogos e biólogos interpôs uma providência cautelar no tribunal de Sintra com o intuito de intimar a autarquia e o Instituto da Conservação da Natureza (ICNF) a proceder à limpeza e preservação dos terrenos onde se localiza a jazida de Carenque.

A autarquia vai aguardar a eventual notificação para se pronunciar sobre esta questão. No entanto, estranhamos que a providência cautelar seja colocada contra a câmara, uma vez que o terreno em causa é propriedade privada e o monumento natural classificado não está sobre a tutela da câmara municipal de Sintra”, afirma fonte da autarquia do distrito de Lisboa, numa resposta enviada à agência Lusa.

Na terça-feira, em declarações à Lusa, o geólogo Galompim de Carvalho, principal promotor desta ação judicial, afirmou que o local onde se encontra a jazida está “transformado numa lixeira” e que o monumento “corre sérios riscos de ficar destruído”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Esta providência cautelar tem como objetivo interromper o estado de degradação da jazida. Há lixo, entulho, estão a crescer arbustos, o local está irreconhecível. Queremos pôr fim a isto”, sublinhou o geólogo.

Por seu lado, a Câmara de Sintra refere que os serviços camarários estiveram no local e “constataram que o terreno não necessita de uma limpeza profunda, com exceção de quatro pneus que deverão ser retirados durante o dia esta quarta-feira.

A Lusa contactou também o ICNF, mas não obteve resposta.

Em causa está uma superfície rochosa, localizada na aldeia de Carenque, no concelho de Sintra, onde há 34 anos dois geólogos portugueses descobriram cerca de duas dezenas de pegadas de dinossauro, com cerca de 95 milhões de anos. Esta jazida viria a ser classificada em 1997 como “monumento natural”.

Galopim de Carvalho explicou à Lusa que esta “importante jazida paleontológica corresponde a uma superfície rochosa com cerca de duas centenas de pegadas”, de onde sobressai “um trilho com 132 metros de comprimento, no troço visível, formado por marcas subcirculares, com 50 a 60 centímetros de diâmetro, atribuídas a um dinossáurio bípede”.

O geólogo liderou em 1992 uma campanha para a preservação das pegadas, ameaçadas pela construção da Circular Regional Exterior de Lisboa (CREL), conhecida como “a batalha de Carenque”, que culminou na abertura da via em túnel sob a jazida, num investimento acrescido de oito milhões de euros (um milhão e seiscentos mil contos, na época).