Era um voo, apenas um voo, transformado em muito mais do que um voo. Quando deixou a Argentina para rumar à Catalunha, a entrada no avião privado de Jorge Messi, pai e representante do capitão do Barcelona, teve honras de transmissão em direto em alguns canais sul-americanos como se dali dependesse o futuro do futebol mundial. Não era propriamente caso para tanto mas mostra bem os tempos que se vivem no país e no clube. Após aterrar, apanhou um táxi à saída do aeroporto dizendo apenas “Não sei, não sei” ao batalhão de jornalistas ali presentes.

Começavam aí 13 horas frenéticas que, no final, podem terminar num volte-face inesperado na novela diária que existe há mais de uma semana desde que o número 10 enviou um burofax a pedir a rescisão unilateral de contrato. E quem o diz é também quem deu em primeira mão essa “bomba” no mercado de transferências de verão mas já lá vamos. Depois de chegar a Barcelona às 7h45, Jorge Messi foi até à Fundação Lionel Messi, que tem os seus escritórios a menos de um quilómetro de Camp Nou. Saiu do táxi e entrou no edifício pela garagem, a pé. Aí foi menos evasivo, assumindo como “difícil” a continuidade do jogador nos catalães, ao mesmo tempo que garantia que não tinha existido qualquer conversa com Pep Guardiola. Rodrigo, filho mais velho e o número 1 da Fundação, já estava à sua espera tal como uma equipa de advogados que tem acompanhado a família Messi no processo, como conta o Mundo Deportivo que cita também as palavras deixadas perante os microfones da Cuatro.

O grupo saiu já perto das 14 horas para almoçar, num restaurante italiano, La Focaccia Dante Gori, no bairro de Sarriá, onde conseguiram evitar mais contactos com a imprensa por terem entrado de carro para a garagem. Nesse hiato, Josep Maria Bartomeu participava numa cerimónia de homenagem a Ivan Rakitic, vendido ao Sevilha por 1,5 milhões de euros mais nove milhões em variáveis depois de ter ganho 13 títulos no Barcelona. Pelo gesto ou pela postura, o presidente blaugrana mostrava-se tranquilo. Aliás, o próprio clube deixou expresso um statement na imagem que escolheu para os novos equipamentos, onde colocou o capitão como figura central de uma imagem onde estavam também Griezmann, Piqué ou Ter Stegen. Só depois de tudo isto se realizou a reunião, como foi descrevendo também o TyC Sports, canal que quase transformou o caso num reality show.

Ao longo de uma hora e meia, duas partes e cinco intervenientes estiveram juntos numa sala de reuniões. De um lado, e além de Bartomeu, outro dirigente do Barça, Javier Bordas; do outro, e além de Jorge e Rodrigo Messi, o advogado Jorge Pecourt, da Cuatrecasas – empresa da qual o clube se desvinculou depois de saber que estava a trabalhar com o argentino. Não houve propriamente tensão, não houve qualquer exaltação, não houve também nenhuma decisão entre as partes. Os argumentos, esses, foram os mesmos: o clube a reforçar que tinha contrato com o jogador, que contava com ele para ser a figura central do novo projeto desportivo liderado por Koeman e que queria renovar até ao Mundial de 2022, os representantes do argentino a dizerem que já tinha rescindido, que chegara ao fim uma ligação de 20 anos e que não fazia sentido falar em renovar quando quer é sair. Não foi uma conversa final mas percebeu-se em pouco tempo em que ponto estão as negociações, resumiu o Sport. Mais: percebeu-se que não é assim tão claro que a saída de Messi esteja garantida. Antes pelo contrário.

O TyC Sports, que tem acompanhado ao detalhe todo o enredo e que foi o primeiro a avançar com a rescisão de Lionel Messi com o clube catalão, assumiu que houve uma inversão de papéis e que o argentino está mais próximo de ficar do que de sair. “Há 90% de hipóteses de Messi continuar em Barcelona. Amanhã pode haver uma decisão definitiva. Agora Messi está a avaliar seriamente a possibilidade de ficar em Barcelona até 2021 e sair pela porta grande no final do seu contrato”, comentou o jornalista Martin Arevalo, numa ideia que foi amplamente difundida pela imprensa espanhola e que foi ao encontro da opinião do primo Maxi Biancucchi ao Tuttomercato.

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