A notícia caiu como uma bomba. E não, agora não estamos a falar da rescisão de Lionel Messi com o Barcelona mas sim uma investigação apresentada no programa Què T’hi Jugues da Cadena Ser que, de forma resumida, acusava a Junta Diretiva blaugrana, liderada por Josep Maria Bartomeu, de ter contratado uma empresa, a I3 Ventures, para fazer através de vários perfis falsos nas redes sociais uma espécie de “guerra suja” contra tudo o que pudesse beliscar o presidente dos catalães, incluindo não só antigos líderes (Joan Laporta e Víctor Font) mas também figuras de relevo no passado como Pep Guardiola, Xavi Hernández ou Carlos Puyol e até jogadores do atual plantel, como Messi ou Piqué. E iam recuperar o início da história: uma viagem de Jaume Masferrer, uma das pessoas mais próximas de Bartomeu, à Argentina, onde fica a sede da empresa, em 2017, altura em que foram criadas muitas das contas falsas que depois foram escrevendo inúmeras publicações tentando denegrir a imagem dos visados.
Alguns exemplos: uma das contas visava sobretudo o presidente da Real Federação Espanhola de Futebol, Luis Rubiales, e apontava também a uma parte mais política, agarrando em frases mais inflamadas de Juan Laporta ou Guardiola para criticar as posições independentistas; outra seguia mais o quotidiano do futebol profissional mas para dizer que era Messi que retardava a renovação e que Piqué era um dos piores “meninos mimados” do plantel. O valor total pago foi de um milhão de euros divididos em seis faturas. O Barcelona assumiu o contrato que havia com a empresa sem anunciar montantes (pouco depois rescindiu esse vínculo) mas refutou por completo que alguma vez tenha pedido esse tipo de “guerra suja” e pediu mesmo uma auditoria para avaliar as acusações.
Em julho, quatro meses e meio depois do escândalo (não assumido e até repudiado), o relatório final entregue pela Price Waterhouse Coopers deitou abaixo todas as teorias que eram apontadas a Bartomeu e seus pares. Por um lado, destacou que “o clube não contratou nenhuma campanha difamatória”; por outro, garantiu que “não foi detetada nenhuma conduta corrupta nem de benefício económico porque tudo está dentro dos valores de mercado”. E o clube fez o contra-ataque após o sucedido, garantindo que iria avançar com processos contra quem fez essas acusações e que tentaria também perceber quem estava por trás desses comentários. Assunto arrumado? Sim. Pelo menos aí. Na Justiça, nem por isso. E, segundo o El Mundo, a Divisão Criminal dos Mossos d’Esquadra encontrou matéria para acusar os intervenientes de corrupção e delito económico no “Barçagate”.
De acordo com a publicação, a análise à queixa apresentada por oito associados do clube mostra evidências de corrupção e foi por isso que a proposta de investigação avançou em plena pandemia (20 de maio). E o ofício que foi consultado pelo El Mundo especifica bem o que está em causa: “a contratação da I3 Ventures por um milhão de euros é pouco ajustada dentro da prática comercial habitual e foi feita por um preço seis vezes superior ao normal” (o clube sustenta que chegou a receber propostas superiores no concurso) e “fracionado de uma forma fraudulenta nos contratos e nas faturas [n.d.r. sempre abaixo dos 200 mil euros] para evitar a supervisão do órgão de controlo”, liderado por Emili Rosaud – um vice que se demitiu depois do escândalo, com mais cinco dirigentes. Ou seja, e de acordo com a polícia, há indícios de “delitos de administração desleal e corrupção entre particulares”.