A líder da oposição na Bielorrússia, Svetlana Tikhanovskaya, exigiu esta sexta-feira perante o Conselho de Segurança da ONU o uso de “todos os mecanismos”, incluindo sanções, para terminar a “violência” e as “violações dos direitos humanos” do governo de Minsk.

“O povo bielorrusso necessita da ajuda das Nações Unidas” defendeu Tikhanovskaya numa intervenção por videoconferência durante uma reunião informal do Conselho de Segurança (CS) impulsionada pela Estónia.

A opositora, exilada na Lituânia, pediu à comunidade internacional o uso de “todos os mecanismos para deter a violência, incluindo sanções aos indivíduos que cometeram violações eleitorais e crimes contra a humanidade”.

Em simultâneo, apelou à ONU para “condenar o uso excessivo da força” contra os manifestantes por parte das forças de segurança e convocar uma sessão especial do Conselho de direitos humanos para discutir a crise no país na sequência das eleições presidenciais de 9 de agosto, que a oposição considera fraudulentas.

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Os protestos antigovernamentais eclodiram na capital Minsk e várias cidades do país na sequência da divulgação dos resultados oficiais e que garantiram ao Presidente Alexandre Lukashenko um sexto mandato com 80% dos votos.

Cinco perguntas e respostas para entender o que se passa na Bielorrússia — e a razão do nervosismo de Lukashenko

Lukashenko, que há 26 anos lidera em estilo autoritário a ex-república soviética de 9,5 milhões de habitantes, tem acusado os manifestantes de serem “marionetas” do ocidente.

Nos primeiros dias de protestos, a polícia deteve cerca de 7.000 pessoas e reprimiu centenas de forma musculada, suscitando protestos internacionais e ameaça de sanções.

Tikhanovskaya, 37 anos, também solicitou o envio imediato de observadores internacionais para que documentem a situação no terreno.

Quero deixar muito claro. A colaboração com o regime do senhor Lukashenko neste momento significa apoio à violência e à violação descarada dos direitos humanos”, insistiu.

Em simultâneo, a antiga professora de inglês e candidata da oposição unificada, mas com reduzida experiência política, assegurou que a sua corrente está disposta a iniciar um diálogo com todas as partes e países que respeitem a soberania e a integridade territorial da Bielorrússia.

A situação do país não está incluída na agenda oficial do CS, mas foi esta sexta-feira abordada em formato informal, uma decisão muito criticada pela Rússia.

O embaixador adjunto da Rússia na ONU, Dmitri Polyanskiy, assegurou que ninguém nega que algumas das intervenções policiais contra os manifestantes na Bielorrússia tenham sido inapropriadas, mas sublinhou que a situação está a ser investigada e que ações deste género também ocorrem em numerosos países, sem que tal implique uma ameaça para a paz e segurança internacionais.

Nesse sentido, Polyanskiy questionou se as potências ocidentais estariam dispostas a que o CS discutisse as mobilizações dos “coletes amarelos” em França ou do movimento “Black Lives Matter” nos Estados Unidos, que também registaram choques violentos entre forças policiais e manifestantes.

O diplomata russo definiu a atual situação na Bielorrússia como uma “interferência descarada de poderes estrangeiros” com o objetivo de uma “alteração de regime”.

Na reunião participaram os ministros dos Negócios Estrangeiros de diversos países do leste e norte da Europa, que denunciaram em simultâneo com as potências ocidentais os alegados abusos contra a oposição e manifestantes pelo regime de Lukashenko.

Os EUA, União Europeia e diversos países vizinhos da Bielorrússia rejeitaram a recente vitória eleitoral de Lukashenko e condenaram a repressão policial, e em simultâneo exortaram Minsk a estabelecer um diálogo com a oposição.

A oposição bielorrussa, que nega estar por detrás dos protestos que considera “espontâneos”, pede o fim da repressão, a libertação dos presos políticos e apela à comunidade internacional para reconhecer Tikhanovskaya presidente legítima do país.