A notícia marcou esta quarta-feira. Os testes clínicos à vacina na qual estão depositadas as maiores esperanças (a vacina da Universidade de Oxford e da farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca) foram suspensos depois de ter sido detetada uma possível reação adversa a um voluntário no Reino Unido. Mas esta não foi a primeira vez. Em julho, uma situação semelhante levou a uma paragem abrupta dos testes clínicos, que foram retomados assim que se percebeu que o voluntário em causa tinha outra doença que em nada estava relacionada com o profilaxia para a Covid-19.

A informação foi revelada esta quarta-feira de manhã numa chamada por videoconferência feita pelo CEO da AstraZeneca junto de investidores. Segundo o Stat News, um site de notícias norte-americano relacionado com medicina, que falou com três investidores presentes na vídeochamada, o presidente executivo da farmacêutica anglo-sueca, Pascal Soriot, revelou essa e outras informações — que não estavam no comunicado hoje divulgado pela AstraZeneca.

A primeira vez que os testes clínicos foram suspensos foi em julho (antes de a vacina ter sido altamente mediatizada na sequência do anúncio da compra por parte de Comissão Europeia e de vários países). Isto depois de terem sido detetados sinais de doença neurológica num voluntário que estava a participar nos testes. Depois de uma análise mais detalhada, percebeu-se que o voluntário estava a ser diagnosticado com esclerose múltipla, que nada tinha a ver com o tratamento da vacina para a Covid-19.

Testes à vacina suspensos. O que já se sabe e o que ainda falta saber

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Além disso, o CEO da farmacêutica revelou ainda que o voluntário britânico que levou esta quarta-feira à suspensão da fase 2/3 dos testes clínicos é na verdade uma mulher, do Reino Unido, que desenvolveu mielite transversa, uma doença inflamatória de ordem neurológica que normalmente afeta a massa cinzenta e a medula espinhal e cuja causa não é completamente conhecida, mas que pode estar associada a infeções virais.

Segundo a Stat, Pascal Soriot também revelou na reunião com investidores que o diagnóstico da paciente ainda não está confirmado, mas que o seu estado de saúde está a melhorar e que poderia ter alta do hospital ainda esta quarta-feira. Mais: o presidente executivo da farmacêutica revelou ainda que está confirmado que àquela voluntária em causa foi mesmo administrada a suposta vacina para a Covid-19 e não um placebo.

No comunicado emitido esta quarta-feira, a AstraZeneca revelou apenas que um comité de peritos independentes iria ajudar a determinar quando é que a suspensão dos testes pode ser levantada. Certo é que, apesar de já ter havido uma suspensão menos mediatizada em julho, a fase 3 dos ensaios clínicos da AstraZeneca é a primeira a ser posta em espera, enquanto os ensaios clínicos das restantes vacinas prosseguem.

É, de resto, comum, suspender os testes quando se deteta alguma anomalia. Foi isso mesmo que confirmou, em declarações à Rádio Observador, Miguel Castanho, investigador principal do Instituto de Medicina Molecular. “Num quadro normal, numa situação que não fosse de pandemia, menos mediática e politizada para o desenvolvimento de uma terapêutica, podíamos considerar este tipo de acontecimentos mais ou menos corrente: é normal que haja casos adversos e, quando acontecem, é preciso voltar atrás, reanalisar, repensar e começar tudo de novo, se necessário”, disse.