Se os construtores tradicionais de automóveis, em vias de dar os primeiros passos na concepção e produção de veículos eléctricos, estavam preocupados com a Tesla, podem começar a roer as unhas a propósito da Lucid Motors. Tudo porque o primeiro veículo desta nova marca americana, que vai ser fabricado numas novas instalações a construir no Arizona, promete revolucionar a indústria.

Apresentado às quatro da tarde de quarta-feira na Califórnia, meia-noite de quinta-feira em Lisboa, o Lucid Air é uma berlina de luxo com 4,97 metros de comprimento, com um habitáculo vasto, uma impressionante capacidade para transportar bagagens, atrás e à frente, além de muito equipamento e sistemas de ajuda à condução. Mas talvez os pormenores que mais vão sensibilizar os utilizadores deste tipo de veículos tenham a ver com a grande autonomia (máximo de 832 km segundo o método americano EPA, contra 647 km para o Tesla e 325 km do Porsche) e a elevada potência, pois o Lucid Air, com 1080 cv, lidera confortavelmente face ao Model S Performance (785 cv e 967 Nm) e ao Porsche Taycan Turbo S (761 cv e 1050 Nm).

Como é por fora?

O Air não faz grande diferença para os únicos dois concorrentes que de momento disputam este segmento, do Model S da Tesla ao Taycan da Porsche, pois o recém-chegado reivindica 4,97 m de comprimento, o mesmo do Tesla e apenas mais 0,7 cm do que o Porsche. Já na distância entre eixos, o Lucid anuncia 2,96 m, mais uma vez o mesmo do Model S, o que o deixa com mais 6 cm do que o Taycan.

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A largura do Air (1,937 m) é ligeiramente inferior ao Taycan (1,966 m) e Model S (1.964 m), com a altura do novo modelo (1,410 m) a posicionar-se entre o Tesla (1,445 m) e o Porsche (1,378 m). Já em termos de bagageira, a Lucid Motors reclama a maior frunk do sector, com 202 litros, o que lhe permite anunciar um total de 739 litros, não muito longe dos 745 litros da Tesla, mas a milhas dos 366 litros do Porsche.

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A maior diferença que o Air traz consigo é ao nível do estilo, com um tejadilho em vidro e um enorme óculo traseiro, que ainda assim não impede o modelo de se assumir como um quatro portas, apesar de ter uma frente e uma traseira mais curtas do que o normal.

Que novidades traz por dentro?

O habitáculo do Air foi concebido como duas filosofias dentro do mesmo espaço, tanto que até os bancos posteriores exibem uma cor diferente dos da frente, o que acontece pela primeira vez. O conceito do fabricante aponta para uma sensação mais desportiva à frente e maior conforto e requinte atrás, onde para já o assento prevê três lugares, para depois passar a estar igualmente disponível com apenas dois, mas reclináveis em 55º.

Em vez de um grande painel central vertical, como no Model S, o Air opta por um imenso e curvo painel de instrumentos com 34 polegadas e definição 5K, que ocupa mais do que 50% do tablier, oferecendo, de acordo com a Lucid, mais 50% de área do que o ecrã da Porsche. Quando o condutor quer ver algo com mais detalhe, basta-lhe “varrer” para baixo essa área específica do painel, ou a aplicação, para que esta passe a estar disponível no ecrã vertical integrado na consola, em baixo.

Em vez de investir tempo e dinheiro, a Lucid optou por integrar no Air a Amazon e o seu assistente Alexa. Desta forma, é possível ao condutor controlar muitas mais funções com comandos de voz, facilitando a operação. A Lucid afirma ainda que os Air avançarão de início com o Nível 2 de ajudas à condução, essencialmente lane centering e cruise control adaptativo com travagem de emergência, para posteriormente realizar o upgrade Over-The-Air para Nível 3, aqui já com um LiDAR.

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Qual a capacidade das baterias? E a autonomia?

Apesar de não produzir as suas próprias baterias, a Lucid afirma que a LG Chem fabrica as células com a tecnologia da marca americana, sendo bom recordar que esta não é propriamente virgem na fabricação de acumuladores. Isto porque é um departamento da Lucid (mais precisamente a Atieva) que concebeu e fornece as baterias e as unidades de gestão de energia para os Fórmula E, desde que há duas temporadas estes passaram a ser capazes de realizar toda a corrida sem ter de mudar de carro a meio da prova.

De acordo com o inglês Peter Rawlinson, o ex-engenheiro chefe do Model S na Tesla, vão surgir, da Primavera de 2021 até ao primeiro trimestre de 2022, quatro versões do modelo (Air, Air Touring, Air Grand Touring e Air Dream Edition), com uma bateria que deverá rondar 75 kWh nas versões mais acessíveis e 113 kWh nas mais rebuscadas e onerosas.

As baterias da Lucid trabalham a 924 V, o que explica que anunciem a capacidade de recarregar a 300 kW, contra 270 kW dos Taycan mais potentes (225 kW nos restantes) e 250 kW nos Tesla. Mas, neste caso particular, é bom esperar pela versão definitiva do modelo, uma vez que a Porsche também prometeu ser capaz de lidar com 350 kW, para depois se ficar por valores bem inferiores.

A Lucid Motors reclama um consumo inferior em 17%, o que lhe permite conseguir a mesma autonomia com uma bateria menor e lhe confere uma vantagem de 20% nos custos. A confirmar-se, isto representa ganhos importantes num dos elementos-chave de um veículo eléctrico. Garante ainda o construtor que o Air será capaz de ligações bidireccionais, o que lhe permitirá receber e fornecer energia à rede, podendo alimentar com energia uma casa de fim-de-semana ou um outro Lucid.

A autonomia é uma das áreas onde a Lucid é mais forte, anunciando 517 milhas (832 km) para a versão de 113 kWh com jantes 19”, que permitem percorrer mais 38 milhas (61 km). Isto coloca o Air com uma eficiência energética de 13,55 kWh/100 km, contra 15,42 kWh/100 km da Tesla e cerca de 21 kWh/100 km para o Taycan.

Que motores utiliza? E a potência?

Em relação aos motores, a Lucid afirma que são concebidos pela marca, mas não assegurou que são fabricados pela empresa. Mencionou, isso sim, que trabalham com unidades de 600 cv, que podem montar só atrás, bem como atrás e à frente. É esta a versão ao serviço da Dream Edition, que usufrui de uma potência útil de 1080 cv. Paralelamente, Rawlinson revelou estarem a desenvolver uma versão Performance do Air, com três motores (dois atrás, o que faz lembrar a versão Plaid com que a Tesla bateu a Porsche no Nürburgring) e que, necessariamente, deverá entregar cerca de 1500 cv.

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Mais do que a potência, Peter Rawlinson salientou as pequenas dimensões e peso das suas mecânicas. Segundo ele, são muito mais pequenas do que as utilizadas pelos concorrentes, o que deixa mais espaço livre para beneficiar o habitáculo e a mala. O truque da Lucid Motors, de acordo com o seu CEO e CTO, é o facto de o conjunto motor/transmissão/inversor estar integrado, pesando somente 75 kg.

Quando chega e quanto custa?

O Lucid Air já está disponível para encomenda, as versões normais contra um depósito de 1000 dólares e a Dream Edition por 7500$. As vendas vão ser processadas online, estando previstas 20 stores, para já apenas nos EUA, podendo outras surgir mais tarde e noutros mercados, sem que pareçam existir objectivos fixados. Além do mercado americano e canadiano, os primeiros a receber o modelo, alguns mercados europeus vão também comercializar o Air, ainda que posteriormente, sem que a marca tenha revelado quais nem quando.

O Lucid Air mais acessível será a versão Air, proposta no mercado doméstico por um pouco menos de 80.000 dólares, mas não antes de 2022. Previamente, surgirá o Air Touring com 620 cv e uma autonomia de 653 km (406 milhas) e o Air Grand Touring, com 800 cv e 832 km (517 milhas), o segundo a estar disponível em meados de 2021 por 139.000$ e o primeiro no final do ano por 95.000$.

O Lucid mais possante, com 1080 cv e proposto por 169.000 dólares, será o primeiro a chegar ao mercado, na Primavera de 2021. Além de estar limitado a 270 km/h, vai de 0-96,7 km/h em 2,5 segundos, contra os 2,3 segundos Model S Performance e 2,6 segundos do Porsche Taycan Turbo S (valores que figuram nos sites dos fabricantes para a aceleração de 0-60 milhas). Já na aceleração do ¼ de milha, de 0 a 402 metros, o Lucid anuncia 9,9 segundos, enquanto nenhum dos seus rivais baixa dos 10,4 segundos. No capítulo da autonomia, o Air Dream Edition oferece duas baterias distintas, uma capaz de percorrer 653 km entre recargas e a outra 809 km.

Concentrando-nos exclusivamente nos preços, face a estes valores agora anunciados para as versões do Lucid Air no mercado norte-americano, o Taycan é proposto por 103.800 dólares (versão 4S), 150.900$ (Turbo) e 185.000$ (Turbo S), enquanto o Model S está disponível por 74.990$ (Long Range) e 94.990$ (Performance). Veja aqui a apresentação do modelo: