Já são conhecidas as medidas que vigorarão no país a partir da próxima terça-feira, quando Portugal voltar a entrar em situação de contingência para fazer frente à próxima fase da epidemia de Covid-19. António Costa justificou as novas regras com 17 gráficos que resumem os dados dos últimos tempos. Analise-os aqui.

A curva em crescendo dos casos de Covid-19

A linha que demonstra a evolução ao longo do tempo do número total de casos de infeção pelo novo coronavírus em Portugal está longe do crescimento exponencial que se temia no início da epidemia. Nota-se, ainda assim, um “aumento constante” no número de infetados nos últimos dias, como adjetivou António Costa.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Mas não é inesperado: “Sempre dissemos que, naturalmente, eliminando o desconfinamento isso seria provável que viesse a acontecer”, notou o primeiro-ministro. Por isso é que o risco de transmissibilidade (Rt), que chegou a estar abaixo de 1 durante o confinamento, passou a ultrapassar esse valor várias vezes desde 18 de maio — dia da entrada na segunda fase do desconfinamento.

O aumento “sustentado” no número de casos diários

O delineamento das medidas impostas a partir da próxima terça-feira em Portugal também teve em conta que, “desde sensivelmente o início do mês de agosto, tem havido um número sustentado de novos casos, de que os números de hoje [quinta-feira, 10 de setembro] e ontem [quarta-feira, 9 de setembro] são significativos”, admitiu António Costa.

É precisamente esse o intervalo de tempo assinalado no terceiro e quarto gráficos expostos na conferência de imprensa. Ambos notam uma subida no número de casos diários desde meados de agosto até agora. Tudo por causa da “multiplicação de deslocação e encontro” próprios da “atividade social” e das “relações familiares”, analisa o líder do governo.

O mesmo fenómeno fica espelhado no gráfico que demonstra a evolução da taxa de incidência de novos casos por cada 100 mil habitantes ao longo dos sete dias e dos 14 dias anteriores. Os dados mostram um pico em abril (no auge da epidemia), outro mais atenuado no início de julho. Mas os números dos últimos dias fazem adivinhar a chegada de um novo cume nos gráficos, o que teve peso nas medidas de contingência anunciadas agora.

Outro dado a ter em conta é o número de casos ativos de Covid-19, dia após dia no país. Após uma estabilização em meados de maio, o valor subiu ligeiramente durante dois meses e depois voltou a descer até ao início de agosto. Agora, no entanto, o número de casos ativos voltou a subir consideravelmente. Ou seja, há mais pessoas infetadas identificadas neste momento do que havia a meio do verão.

Após uma altura em que a região de Lisboa e Vale do Tejo esteve no centro das atenções dos especialistas, as autoridades de saúde precisam agora de voltar a olhar para o Norte. Um dos gráficos apresentados por António Costa mostra que, se durante longas semanas a região de Lisboa e Vale do Tejo foi o epicentro da epidemia, o número de novos casos do Norte voltou a subir consideravelmente.

A suave subida no número de internamentos

Desde meados de abril que o número de internamentos por Covid-19 tinha diminuído muito. Mesmo tendo em conta um ligeiro aumento registado no início do verão, o valor parecia estável — um sinal de que os mais vulneráveis à infeção pelo novo coronavírus estavam agora mais resguardados e as medidas de contenção estavam enraizadas na população.

Mas os últimos dias lançaram um alerta: desde meados de agosto que as autoridades de saúde registaram um ligeiro aumento no número de pessoas internadas após terem sido diagnosticadas com Covid-19. A 6 de setembro (último domingo) eram 391 e há uma semana que esse número não parava de subir, mesmo que subtilmente.

É uma tendência que se repete no gráfico que contabiliza os internamento nas unidades de cuidados intensivos. Neste momento, Portugal está longe dos 271 doentes em UCI no pico da epidemia e até mesmo dos 172 infetados em estado grave por altura do início do desconfinamento. Mas o número tem subido desde o final de agosto e, a 7 de setembro, eram 52.

Menos óbitos, mais recuperados

Há dois sinais de maior otimismo nos últimos dias. Um deles é o número de óbitos por Covid-19 registados em Portugal, que se tem mantido estável e sempre abaixo das sete vítimas mortais desde o início de agosto. Como o vírus tende a ser mais agressivo com quem tem uma saúde mais vulnerável, isto significa que a população de risco está mais protegida.

O outro sinal positivo tem a ver com a evolução do número de recuperados da Covid-19 em Portugal, uma vez que desde maio que esse valor cresce de forma sustentada. Na última quarta-feira, já eram 43.284 as pessoas que se curaram da infeção pelo novo coronavírus. E o ritmo a que isso acontece não tem dado sinais de abrandamento. É, então, “uma evolução francamente favorável”, diz o primeiro-ministro.

A estes gráficos junta-se outro, apresentado mais à frente da conferência de imprensa de António Costa, que demonstra a percentagem de infetados pelo SARS-CoV-2 que são tratados em casa e que necessitam de cuidado hospitalar. Neste momento, 97,6% das pessoas com Covid-19 recuperam em casa — um número que tem aumentado paulatinamente —, 2,1% precisa de ajuda hospitalar e 0,3% necessita de internamento nos cuidados intensivos.

Portugal entre os países que mais testam

Em conferência de imprensa, António Costa sublinhou que Portugal é dos países da União Europeia e Reino Unido que mais testes efetuam por milhão de habitantes. É o quinto, ultrapassado pela Dinamarca, Reino Unido, Chipre e Lituânia. São comparações que dão confiança ao governo.

O primeiro-ministro realçou ainda que Portugal alcançou um novo recorde no número de testes feitos diariamente: foram 20.527 a 8 de setembro. Desde o início de março até agora, o país já efetuou quase 2,2 milhões de testes, como mostra o gráfico aqui em baixo.

Estes números transparecem também uma maior capacidade de testagem diário pelo Serviço Nacional de Saúde, disse António Costa, capacidade que será reforçada para fazer frente aos próximos tempos, afirmou o primeiro-ministro. A produção máxima deve duplicar de 10.076 a 20 de julho para 21.730.

Fora do SNS, mas a prestar apoio no combate à pandemia, também o número de laboratórios a realizar testes à Covid-19 tem aumentado. No setor privado, que tinha 10 laboratórios a 07 de abril, são agora 33. No setor académico, passaram de 10 para 27. Em termos gerais, o número de laboratórios duplicou de 50 para 102.

Acontece que, apesar de o número de testes feitos diariamente ter subido apenas suavemente nos últimos tempos, a percentagem das análises com resultado positivo para a infeção pelo novo coronavírus subiu para mais de 3%. Nas últimas semanas, a percentagem estava sempre abaixo desse valor, por isso é que este aumento percentual “deve merecer a atenção de todos”, considerou Costa.