Escola Secundária Pedro Nunes, Escola Secundária Maria Amália e Instituto Espanhol de Lisboa. São três casos, na capital do país, onde o regresso às aulas se tem traduzido diariamente em multidões, ora de pais, ora de alunos, à porta dos estabelecimentos de ensino ou nas zonas circundantes. Já na Secundária Padre António Vieira, em Alvalade, o primeiro dia de aulas também ficou marcado esta quinta-feira por ajuntamentos à porta da escola, como constatou a equipa de reportagem da Rádio Observador, embora os encarregados de educação esperem que a situação não se repita.

[ouça aqui a reportagem]

No regresso às aulas na Secundária Padre António Vieira não foi possível evitar os ajuntamentos

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“Tem sido o caos todos os dias, mas esta quinta-feira com a chuva, a confusão ainda foi pior”, conta ao Observador um encarregado de educação com três filhos a estudar no instituto Giner de los Rios, a escola espanhola do Dafundo, e que tem fotografado diariamente o cenário que ali encontra.

O problema, na opinião deste pai que pede o anonimato, passa por a escola ter optado por criar horários diferentes para a entrada das várias turmas, obrigando quem tem mais do que um filho a ficar no passeio à espera que todos entrem. “Para quem tem só um filho não há problema”, diz, lembrando que no seu caso são três menores que tem de deixar na escola.

A confusão à porta da escola está muito pior do que o ano passado. Os meus filhos entram com diferença de 10 minutos, o que quer dizer que eu (como muitos outros) fico durante meia hora no passeio com os miúdos ao meu lado. E tenho sorte de, pelo menos, entrarem todos pelo mesmo portão”, conta.

Para evitar aglomerados à entrada do instituto espanhol, a escola internacional optou por ter diferentes zonas de entrega de alunos. O problema com esta solução, conta o mesmo pai, é que há famílias que têm filhos a entrar à mesma hora em portões diferentes ou, como é o seu caso, entradas muito espaçadas. “Em vez de chegar, deixar os três e seguir, fico à espera. Em vez de dois minutos são 30.”

As crianças só entram no estabelecimento de ensino quando o adulto encarregado por esse grupo de alunos, normalmente um professor, os vem buscar.

Na manhã de quinta-feira, na Rua Direita do Dafundo, nas imediações do Instituto Espanhol, a aglomeração de alunos e pais já era visível

Na zona da Estrela, também em Lisboa, situação idêntica tem-se vivido à porta do Liceu Pedro Nunes, mas com uma diferença. Ali, não há vários horários de entrada desfasados e uma das mães, citada pela agência Lusa, pede para esta escola a solução que terá criado problemas no instituto espanhol.

“Se em vez de estarem todos aqui às 8h15, uns entrassem às 8h00, outros às 8h30 e outros às 9h00, não haveria este tipo de concentração”, disse, pedindo o anonimato. Os cerca de 1.200 alunos do secundário têm apenas duas horas distintas de entrada, separadas por 15 minutos: 8h15 e 8h30. Um dos principais problemas, contam os pais, foi criado pela entrada, demasiado estreita para escoar tantos estudantes — apesar de ser dupla, apenas uma das portas estava aberta.

Segundo a agência de notícias, à hora de entrada mais de mil alunos amontoavam-se à porta do estabelecimento de ensino. “Eu não o deixei vir de transportes públicos por causa do risco de contaminação e depois estão aqui todos encavalitados. Isto é uma vergonha”, criticou outra mãe. A agravar o descontentamento dos pais está o facto de a escola ter mais entradas: a porta principal do edifício, um acesso semelhante ao que foi usado e ainda uma entrada que dá acesso ao parque de estacionamento.

Perante as críticas, Rosário Andorinha, diretora da escola, assume o erro e garantiu que na sexta-feira haverá uma nova entrada a funcionar. Já usar o portão lateral diz estar fora de questão, uma vez que é utilizado por carros. Mas deixou um recado a pais e alunos: o cumprimento das regras fora da escola não é da sua responsabilidade.

Os mais de mil alunos da Escola Secundária Pedro Nunes têm de entrar todos os dias por uma porta única no primeiro dia de aulas em plena pandemia de Covid-19, em Lisboa, 17 de setembro de 2020. TIAGO PETINGA/LUSA

Ajuntamento à porta do Liceu Pedro Nunes, em Lisboa

A um quilómetro e meio de distância, mais perto do centro da cidade, Fátima Lopes, diretora da escola Maria Amália Vaz de Carvalho, usa o mesmo argumento. “A parte extra escola não conseguimos controlar. Dentro da escola os alunos são impecáveis”, argumenta, em declarações à SIC Notícias, frisando que os estudantes juntam-se uns com os outros do lado de fora do liceu.

No interior do estabelecimento de ensino, garante Fátima Lopes, o plano de contingência, que respeita todas as indicações da Direção Geral de Saúde, está a ser cumprido.

Há dois dias consecutivos, segundo aquela estação televisiva, que os alunos não respeitam o distanciamento social do lado de fora da escola. No total, são mais de mil alunos a frequentar aquela secundária.

Para tentar evitar a repetição deste cenário, Fátima Lopes pediu a intervenção da Escola Segura que irá estar à porta do estabelecimento de ensino às 10h00 e às 14h00, os horários mais problemáticos, para sensibilizar os alunos e dispersá-los, se necessário.