A impotência de inverter a derrota caseira com o Everton, os sustos forasteiros nas pré-eliminatórias da Liga Europa, a alegria pela goleada ao Southampton, a desilusão pelo empate consentido nos descontos em casa frente ao Newcaslle.  Em duas semanas o Tottenham avançava para o seu quinto encontro oficial depois de ter sentido os três resultados possíveis na Premier League, sabendo ainda que iria receber na quinta-feira o Maccabi Haifa para a Liga Europa e teria de deslocar-se a Old Trafford para defrontar o Manchester United no domingo, de novo para o Campeonato. Por isso e pela própria competição, José Mourinho teve um lançamento mais cauteloso da partida com o Chelsea para os oitavos da Taça da Liga, assumindo que a prioridade são as outras provas.

Mourinho, o “pequeno ‘magpie’” que tropeçou contra o Newcastle mas nunca se esqueceu de Bobby Robson

“Gostava de vencer a Taça da Liga mas penso que não é possível. Temos um jogo na quinta-feira. A Liga Europa não dá tanto dinheiro como a Liga dos Campeões mas estar na fase de grupos é importante para um clube como o Tottenham. O que fariam no meu lugar?”, questionou o português, prosseguindo: “Se chegarmos à fase de grupos da Liga Europa temos boas oportunidades para passar para a fase a eliminar da competição, é também por isso que o jogo que teremos na quinta-feira será tão importante para nós”, resumiu numa semana que ficou também marcada pelo alegado interesse em Rüdiger, central alemão que pode estar de saída do Chelsea.

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Eles jogaram no sábado e têm um plantel fantástico. O treinador deles poderá lançar a equipa na máxima força se preferir”, acrescentou José Mourinho a propósito das opções de Frank Lampard.

“O Tottenham tem um excelente plantel. Sinto que qualquer onze lançado por José Mourinho vai dar uma resposta muito forte”, defendeu Frank Lampard, antigo médio e capitão do Chelsea comandado pelo português enquanto jogador e que estava agora no outro lado da barricada onde ganhou ao antigo mestre os dois encontros realizados na última temporada para a Premier League (já depois de ter ganho pelo Derby County ao Manchester United, num jogo para a Taça de Inglaterra). “Tive um técnico que, quando um dia estava no banho, foi ao chuveiro dizer-me que era o melhor jogador do mundo mas que precisava ganhar títulos. Nunca me esquecerei dessa conversa, foi um ótimo momento de gestão. Mourinho deu-me o impulso que precisava naquele momento. Ele sabia que que não era o melhor do mundo, provavelmente não pensava que era mas foi algo que me fez aprender e pensar muito sobre o que é gerir, o que é a gestão”, recordou numa entrevista a propósito dos anos que partilharam em Stamford Bridge com vários títulos à mistura enquanto treinador-capitão.

Ao contrário do que se passa com vários treinadores com ligação forte ao português, Lampard, que talvez fosse o que maior conexão tinha a Mourinho, é diferente. Cumprimenta com muito respeito o seu antigo “mestre”, acena para os adjuntos e segue para a sua zona técnica. O antigo internacional inglês quer ser mais do que o ex-líder de Mourinho em campo. E esse marcar de posição é extensível a outros palcos, como se viu na forma como mostrou o seu desagrado perante o banco do Liverpool na derrota por 5-3 em Anfield naquele que foi um dos melhores jogos da Premier League. Depois do trabalho feito no ano passado sem reforços, e apesar do início titubeante de época, Lampard acredita que tem um plantel jovem para recriar uma dinâmica ganhadora no clube. Em paralelo, vai criando uma “rivalidade”, que se começa a notar também na zona dos bancos, mas nem sempre ganha.

Sem Son por lesão, Mourinho cumpriu ao fazer uma autêntica revolução na equipa inicial que, em relação ao jogo com o Newcastle no domingo, manteve apenas o guarda-redes Lloris e o (agora) médio defensivo Eric Dier. E se o técnico português dizia antes do encontro que, com esta densidade competitiva, era provável que mais lesões fossem aparecendo, ainda apanhou um susto quando o mesmo Dier ficou sentado no relvado agarrado à perna, embora tenha conseguido ainda recuperar. Também o Chelsea alterou oito titulares em comparação com o 3-3 frente ao WBA e foram as três unidades que se mantiveram que foram conseguindo fazer a diferença pelo menos até ao intervalo: Kovacic a dominar, Mason Mount a desequilibrar e Timo Werner a marcar.

Com um esquema tático diferente, onde Dier recuava sem bola para terceiro central e Lamela e Bergwijn a dois na frente em vez da habitual estrutura de dois alas com uma unidade mais fixa, o Tottenham optou por dar a maior parte da iniciativa ao Chelsea jogando mais na expetativa e tentando explorar as transições com Ndombelé, Gedson e os laterais a incorporarem-se nas ações ofensivas. Até meio da primeira parte, não funcionou. E se é verdade que os visitantes tiveram apenas um remate ao lado de Mount, estavam mais confortáveis na partida, inaugurando mesmo o marcador numa jogada onde Reguilón falhou, perdeu a bola no seu meio-campo, teve uma má abordagem à iniciativa de Azpilicueta na direita e Werner rematou à entrada da área para o 1-0 (19′).

Em desvantagem, aí sim, o Tottenham melhorou. Foi mais agressivo, ganhou mais segundas bolas, teve duas boas oportunidades junto da baliza do estreante Mendy (que ameaça mesmo a titularidade de Kepa nas outras provas) com Gedson a ficar perto de empatar isolado frente ao antigo guarda-redes do Rennes (23′) e Lamela a obrigar o senegalês a uma apertada intervenção com os pés após remate cruzado (35′). O intervalo chegou com a vantagem dos blues, com Kovacic e Jorginho a dominarem no corredor central mas com os spurs a darem sinais de que, numa outra estrutura e com outra ideia, podiam discutir a passagem aos quartos da Taça da Liga.

O jogo estava em aberto mas, durante o intervalo, aquilo que se discutia era o momento de tensão entre Mourinho e Lampard por volta da meia hora de jogo, com o português aparentemente pelos gestos a criticar a forma como o homólogo se expressava de forma mais efusiva na linha em vantagem. Também isso funcionava como aliciante para o que se passaria no segundo tempo, onde o Tottenham entrou com maior capacidade, teve mais um remate com perigo para nova defesa de Mendy mas não conseguia dar a volta a um Chelsea que mudou a sua abordagem, teve uma postura de mais contenção e aproveitou erros contrários na fase inicial da construção para ameaçar a baliza de Lloris. O vencedor parecia encontrado mas os visitados ganharam uma nova vida a sete minutos do final, quando Lamela apareceu bem ao segundo poste um cruzamento da esquerda e fez o 1-1. Tudo ficaria decidido nos penáltis e se a 15 minutos do final Mourinho foi ao balneário ver o que se passava com Dier, saiu a correr para lá de sorriso nos lábios quando Mount falhou e o Tottenham garantiu o apuramento (5-4).