José Mourinho e o Tottenham eliminaram o Lokomotiv Plovdiv da Liga Europa na semana passada, golearam o Southampton no fim de semana seguinte, afastaram o Shkëndija na passada quinta-feira e este domingo voltavam a Londres para receber o Newcastle. Assente em três vitórias consecutivas, tudo parecia correr às mil maravilhas para o treinador português — mas os maus ventos chegaram de longe da fronteira britânica.

Durante uma conferência da fundação TELMEX Telcel, no México, Iker Casillas falou sobre a relação — ou a falta dela — que manteve com José Mourinho quando o treinador esteve no Real Madrid, altura em que o internacional espanhol até perdeu a titularidade para Adán, guarda-redes que está atualmente no Sporting.

“Fomos duas pessoas que se deram bem durante um ano e meio, mas no ano seguinte tivemos discrepâncias, que eram normais entre o capitão e o treinador. Não significa que seja mais do que o treinador, mas o capitão tem de falar praticamente todos os dias com ele e a relação vai-se desgastando. O José Mourinho pensava que eu não estava ao nível de outro colega de equipa ou, acrescentando a isso, que a nossa relação já não era tão boa e que era muito mais fácil para ele escolher entre um ou outro. Foi uma questão mais a nível pessoal”, explicou o antigo jogador do FC Porto, que revelou depois que decidiu “não ter relação” com o técnico.

“Não gostei das coisas que vi e ele escolheu outro companheiro de equipa. Esta última situação chegou-me muito mais amadurecida, aos 33 anos. Olhas para o clube, tentas não criar mais controvérsia do que já havia e, bem, eu faria o mesmo que fiz naquela altura e penso que não estava errado”, garantiu Casillas, realçando que a relação entre os dois é nesta altura cordial. “Há muitas coisas que as pessoas não vêem mas com ele tenho uma boa relação. Vimo-nos várias vezes desde então e temos tido palavras bonitas. Não é uma questão de continuar a guardar rancor, toda a gente procurava o melhor para a equipa”, sentenciou o espanhol.

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Ora, depois de revelada uma história sobre um dos capítulos mais atribulados da carreira de José Mourinho, a passagem pelo Real Madrid, o Tottenham recebia o Newcastle em Londres. O treinador português lançava Lo Celso, Lucas Moura e Son, apoiados por Winks e Højbjerg na retaguarda, e fazia Harry Kane regressar ao onze inicial, depois de o avançado inglês ter sido ligeiramente poupado no compromisso europeu na Macedónia. Reguilón, lateral esquerdo que chegou na semana passada vindo do Sevilha, estava no banco e já era opção para Mourinho.

O encontro com o Newcastle não deixava de ser especial: tal como o próprio treinador português reconheceu na antevisão, recordando que tem uma ligação com o clube graças a Bobby Robson, que treinou o clube no final da carreira e de quem foi adjunto durante vários anos. “Sinto uma ligação com o clube por causa do Mr. Robson, é tão simples como isso. Ele tinha uma grande paixão pelo Newcastle e pela região, Durham. Estavam no coração dele. Por isso, através dele, tornei-me um pequeno magpie“, explicou, entre alguns sorrisos, reconhecendo depois que existiu a possibilidade de acompanhar Robson para o clube inglês, ainda que tenha decidido desde logo começar a carreira a solo. “Nessa altura eu já estava a começar a olhar para uma direção diferente. O Mr. Robson sempre soube que eu queria dar-lhe tudo o que tinha mas que ao mesmo tempo tinha os olhos numa direção diferente. Mas sim, existiu essa possibilidade”, terminou Mourinho.

Dentro de campo, e ao longo de uma primeira parte em que os spurs foram notoriamente superiores e muito mais equipa do que o Newcastle, o Tottenham acabou por inaugurar o marcador antes de estar cumprida a meia-hora inicial: Lucas Moura apareceu ao segundo poste a desviar, depois de um cruzamento de Kane no lado contrário, e colocou a equipa de Mourinho a ganhar (25′). Ao intervalo, o técnico tirou Son e lançou Bergwijn, já a pensar no jogo de quinta-feira contra o Macabbi Haifa no playoff da Liga Europa, e o Tottenham parecia querer adormecer ligeiramente a partida para gerir a vantagem.

O Newcastle melhorou ligeiramente, teve mais bola e passou mais tempo no meio-campo adversário mas nunca conseguiu criar ocasiões de perigo. Mourinho lançou Ndombele e Lamela para os lugares de Lo Celso e Lucas Moura, prescindindo de alguma criatividade para reforçar a combatividade, o Tottenham já não chegou ao segundo golo e acabou traído por uma grande penalidade cometida por Eric Dier já nos descontos. Na conversão, Callum Wilson marcou o primeiro golo do Newcastle aos spurs em mais de 600 minutos e roubou a vitória à equipa de Mourinho (90+7′).

O treinador português saiu disparado para o balneário assim que a bola entrou dentro da baliza, não assistiu ao final da partida — que aconteceu quase de imediato — e acabou por não conseguir ganhar, interrompendo a série de três vitórias seguidas que trazia entre Premier League e Liga Europa. Mourinho não se esqueceu de Bobby Robson e revelou uma ligação especial ao Newcastle mas acabou por não sorrir no encontro com os magpies.