Os generais Manuel Hélder Vieira Dias Júnior, “Kopelipa”, e Leopoldino Fragoso do Nascimento, “Dino”, foram ontem constituídos arguidos pela Procuradoria Geral da República, confirmou ao Observador fonte ligada aos dois homens-chave de José Eduardo dos Santos.
Os antigos chefes da Casa Militar e da Casa de Segurança do ex-Presidente da República angolano são visados no processo que investiga os negócios do CIF – China Internacional Fund, que teve dois edifícios arrestados em fevereiro deste ano pelo Serviço Nacional de Recuperação de Activos, adianta a mesma fonte. O Observador não conseguiu apurar junto da Procuradoria-Geral da República de que crimes os dois generais são suspeitos, mas recentemente Hélder Pitta Gróz tinha adiantado que estava sob investigação “a atividade da CIF” no plano nacional de de luta anti-corrupção, a grande bandeira da governação do Presidente João Lourenço.
Combate à corrupção: a bandeira de João Lourenço que se tornou numa espada de dois gumes
Como ministro de Estado, que também era, o general de 4 estrelas Kopelipa poderia ter pedido imunidade, quando deixou o poder, mas optou por não o fazer, pelo que agora não está a salvo de ser alvo de processos judiciais.
Já nesta quarta-feira o site angolano ClubK adiantava que a PGR se preparava para os tornar arguidos, depois de na semana passada terem sido notificados para serem ouvidos no dia 30.
Além das tuas torres gigantes de um laranja-dourado que se destacam na paisagem de Luanda, em fevereiro foram apreendidos mais de mil imóveis inacabados na Zango Zero (urbanização Vida Pacífica) e na centralidade (palavra usada em Angola para bairro suburbano com muitos prédios) do Kilamba Kiaxi. Segundo o Serviço Nacional de Recuperação de Ativos, tinham sido construídos com fundos públicos que estavam na posse do CIF, um “obscuro consórcio sediado em Hong Kong” cujas verbas eram geridas a “partir de um misterioso Gabinete de Reconstrução Nacional [GRN] dirigido pelo general Kopelipa”, como diz em “Magnífica e miserável, Angola desde a Guerra Civil” um dos maiores especialistas em assuntos angolanos, o académico Ricardo Soares de Oliveira.
Em fevereiro, os generais negaram ao Expresso ter qualquer ligação ao consórcio chinês, dizendo-se alvo de perseguição. O general Kopelipa assegurava então não ter “nenhuma participação social nem no CIF nem em nenhuma outra empresa chinesa”, garantindo que o GRN se limitara a dar terrenos baldios ao consórcio para construir uma grande área comercial e empresarial. Um compromisso que Sam Pa, presidente do CIF, tinha assumido na presença de José Eduardo dos Santos. Os dois afirmaram ao semanário português que os edifícios arrestados eram propriedade do CIF Limited Hong Kong, associado à Sonangol e à Endiama.
É numa das duas torres do centro de Luanda, o “CIF one”, construído com crédito chinês, que está, “num andar inteiro”, o grupo Cochan, de “Dino”, onde tem “todas a suas empresas, mas também um restaurante, um bar, massagens, etc,”, diz ao Observador um alto quadro de uma empresa portuguesa que conhece o espaço.