Quando em 2016 lançou, com Sara Couto, a Glam to Glam – o primeiro marketplace nacional dedicado em exclusivo à moda em segunda mão –, Catarina Nogueira tinha um plano: encontrar alternativas mais baratas para quem queria ter roupa nova, mas tinha limitação de recursos. A ideia maturou, o site cresceu, a procura aumentou e a fórmula parecia resultar. Mas o modelo de um mercado circular, pensado de pessoas para pessoas, atraiu a atenção do lado de lá da barricada e a Glam To Glam começou a receber pedidos de lojistas que queriam escoar o stock que tinham.
Recebemos alguns pedidos de pessoas que tinham encerrado a sua loja e que pediam para ser a Glam To Glam a vender os produtos. A verdade é que, antes deste boom de moda em segunda mão, não existiam soluções tecnológicas como esta”, explicou Catarina Nogueira ao Observador.
Este tipo de pedidos levou-as à questão que, na verdade, ditaria o fim do modelo de negócio da Glam To Glam e as faria avançar com uma nova abordagem. Ponto de partida: perceber qual seria o destino dos produtos que não eram vendidos em cada estação. “Descobrimos que as lojas de comércio local guardam centenas de peças do seu stock e muitas delas somam milhares de euros. Portanto foi uma evolução, as coisas começaram a fazer sentido e, do ponto de vista do negócio, a United Boutiques (UB) representa algumas das coisas que não conseguíamos resolver na Glam To Glam”.
No projeto anterior de Catarina, qualquer pessoa podia criar uma conta no site e colocar peças de roupa à venda, gratuitamente. Antes de ficarem visíveis na loja online, tinham de estar em bom estado e de ser aprovadas pela equipa da Glam to Glam. Cada vendedora era livre de definir o preço das peças, mas se a equipa identificasse algum desajuste podia aconselhar a cliente a reajustar.
Já com a ideia da United Boutique em mente, em 2019, avançou com uma candidatura ao startup voucher — medida da Startup Portugal que permite desenvolver ideias de negócio com o apoio de uma bolsa mensal, mentoria e serviços de incubadoras: “Fizemos o programa inteiro do startup voucher e, nesse tempo, estudámos muito bem o mercado, desenvolvemos a proposta”.
Entretanto, Sara Couto acabou por sair do projeto, mas Catarina continuou. E a pandemia foi um dos fatores que viria a acentuar o sucesso deste novo modelo. Com o encerramento forçado dos espaços comerciais e as restrições obrigatórias do pós-confinamento, a economia dos pequenos negócios foi das que mais se ressentiu, mas o problema não era novo e Catarina Nogueira já o conhecia.
“Estamos a falar de negócios familiares, uma gestão muito pequena. E por muito que percebam que o comércio online está a crescer, não têm capacidade para produzir ou alimentar um site. Eu sou programadora e essa é a parte fácil, a difícil é fotografar os produtos quando eles chegam, colocá-los no site, fazer o atendimento e responder a pessoas, fazer o envio. Começámos a desenhar a UB exclusiva para estas pessoas que sabem que querem vender online mas que não têm capacidade, tempo ou dinheiro para o fazer”, explica a empreendedora.
Vinte lojas, espalhadas pelas várias geografias do país, mais de uma centena de marcas e 500 referências, são estes os números que cabem dentro da “startup tecnológica da área da moda” como Catarina a descreve.
Na prática, a loja agrupa um conjunto de negócios que assim disponibilizam, através do site da United Boutiques, todo o excedente de stock que têm e que vai de artigos de moda de grandes designers nacionais e internacionais a roupa para homem, mulher ou criança, acessórios, entre outros. Depois, direciona-os a clientes que procuram peças exclusivas a preços competitivos. Tudo dentro de um modelo de consignação.
Isto ajudou-nos a perceber que o stock parado é exatamente só isso, parado. Continua a ter valor. Existe a ideia de que o outlet é composto por peças que ninguém quer ou com defeito e nós provamos que não é mais do que peças que ficaram por vender por motivos de mercado”, conta.
Estava assim encontrada a resposta para uma das problemáticas prioritárias para Catarina Nogueira – combater o desperdício têxtil e oferecer aos lojistas de comércio local uma plataforma sustentada para que pudessem fazer a transição para o online. Tudo isto alicerçado num “baixo investimento” de dois dos fundadores (os valores não foram revelados), João Bigotte e António António Seiça. A estes, juntou-se Dário Fonseca, responsável pela angariação de lojas, que nos últimos anos desempenhou funções na plataforma de telegestão Modulos One ou na Goruu.
“Os negócios que englobamos na United por iniciativa são totalmente escolhidos por nós, ou seja, fazemos uma avaliação da loja, dos produtos, das marcas, estudamos toda a valência do processo de inclusão”, esclarece Catarina, mas a visibilidade já lhes faz chegar contactos que procuram aceder à plataforma. Em troca pelo serviço, os lojistas pagam uma percentagem por cada artigo vendido, sendo o valor ajustável consoante o negócio.