A-dos-Francos vestiu-se de rosa para apoiar o menino querido da terra, João Almeida, mas a “febre” que se tem vivido em torno do jovem português está longe de se resumir à terra que o viu crescer. Até nas redes sociais isso vai sendo percetível. Que o diga Bernhard Eisel, que de forma diplomática veio fazer uma espécie de mea culpa no Twitter por ter abordado pouco as prestações não só do líder do Giro mas também de Rúben Guerreiro, que ganhou a etapa de domingo com chegada a subir a Roccaraso que valeu também a camisola azul da montanha.

Depois de fazer da camisola rosa uma almofada, João Almeida foi terceiro na 10.ª etapa com uma enorme prestação e segurou liderança

“Tens razão. Esqueci-me de mencioná-lo e à sua grande performance, peço desculpa por isso. Mas elogiei o João Almeida e o Rúben Guerreiro pelas suas performances uns minutos depois nas suas entrevistas. Vejam sempre até final”, esclareceu o austríaco de 39 anos, que antes das passagens por FDJeux.com, T-Mobile, Sky e Dimension Data começou na Mapei Quick-Step, equipa que iria acabar para dar lugar à Deceuninck–Quick-Step, em 2003, onde se encontra nesta altura João Almeida a fazer o primeiro ano no World Tour e numa corrida de três semanas. Uma já passou e melhor era impossível; a próxima será novo desafio de peso para o jovem português. E confiança não falta nem da parte do corredor das Caldas da Rainha nem dos próprios apostadores: segundo a Betano.pt, Almeida já lidera essa corrida, à frente do experiente transalpino Vincenzo Nibali.

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A etapa da véspera, entre Lanciano e Tortoreto (ganha finalmente por Peter Sagan, que andava há muito em busca do primeiro triunfo), mostrou o porquê de tudo isso: ao ver Pello Bilbao descolar, e perante a inação do pelotão e das principais equipas que têm corredores no top 10 da classificação, João Almeida arrancou para anular a fuga do espanhol, fez mais um forcing e foi ainda buscar mais quatro segundos de avanço sobre os principais rivais por terminar na terceira posição, um lugar que consegue pela segunda vez nesta edição do Giro. “Foi um dia duro no escritório, para todos. Estou muito feliz com o resultado e a equipa voltou a ser perfeita. Vi o ataque mas tinha colegas de equipa comigo para o perseguir e fizemos a nossa corrida”, resumiu sobre mais uma corrida em que se fez notar o frio e a chuva – e que de manhã tinha ficado marcada pela saída da Jumbo-Visma e da Mitchelton.

Esta quarta-feira, na ligação entre Porto Sant’Elpidio e Rimini na distância de 182 quilómetros, os favoritos eram os do costume, com Arnaud Démare à procura da quarta vitória, Peter Sagan a tentar repetir o triunfo da véspera e nomes como Davide Ballerini, Gaviria ou Elia Viviani (que teve uma queda a cerca de 30 quilómetros num embate com uma mota numa rotunda que ainda fez temer o pior) em busca do primeiro sucesso. No caso de João Almeida, o objetivo passava por manter o avanço numa etapa para rolar que começou com uma fuga madrugadora com cinco elementos onde entravam Mattia Bais (Androni Giocattoli-Sidermec), Fabio Mazzucco, Francesco Romano (Bardiani-CSF-Faizanè), Sander Armée (Lotto–Soudal) e Marco Frapporti (Vini Zabù-KTM). Armée e Bais foram depois mais audazes e fugiram para arriscar a surpresa, deixando o trio a 1.40 à mercê do pelotão.

Sander Armée, que nos últimos quilómetros ia perdendo tempo para o pelotão, foi o último herói do dia antes de ser alcançado a 6.500 metros da meta, numa chegada ao sprint ganha por Arnaud Démare. Com este resultado, João Almeida conseguiu segurar a camisola rosa pelo nono dia consecutivo com os mesmos 34 segundos de vantagem em relação ao holandês Wilco Kelderman, curiosamente mais um dia do que Richard Carapaz, vencedor do Giro em 2019 que ganhou a liderança a Jan Polanc a oito etapas do final da prova. No anterior, em 2018, Simon Yates (que esteve na atual edição da Volta a Itália mas saiu com um teste positivo à Covid-19) esteve de rosa 13 dias antes de ser superado pelo vencedor final, Chris Froome. Todavia, esta quinta-feira haverá mais um desafio de gigante para o português na 12.ª etapa em Cesenatico, a terra de Marco Pantani onde é provável que existam vários ataques antes do contrarrelógio de 34 quilómetros no sábado.