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De Camões às Três Marias: estes são os nomes que fazem parte do cânone da literatura portuguesa

Este artigo tem mais de 3 anos

Ricardo Araújo Pereira revelou numa sessão transmitida online a partir de Lisboa os autores que integraram "O Cânone", uma lista dos mais importantes escritores e movimentos da literatura portuguesa.

Foram revelados esta quinta-feira os cerca de 50 nomes que compõem O Cânone, uma coleção de ensaios que quer propor uma lista dos mais importantes escritores, escolas e movimentos da história da literatura portuguesa. A lista inclui autores mais óbvios, como Luís de Camões, Eça de Queirós ou Fernando Pessoa, e outros menos óbvios, como Frei Luís de Sousa ou Dom Duarte. De fora ficaram escritores como Sophia de Mello Breyner ou Eugénio de Andrade que, embora referidos nalguns dos textos, não tiveram direito a ensaios isolados.

Coube ao humorista Ricardo Araújo Pereira partilhar com os leitores os nomes que integram o volume coordenado por António M. Feijó, João R. Figueiredo e Miguel Tamen, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, numa sessão no Jardim Botânico Tropical de Lisboa, que foi transmitida em direto a partir das 18h nas páginas de Facebook da Tinta-da-China e da Fundação Cupertino de Miranda, responsáveis pela edição de O Cânone.

A lista completa é a seguinte:

No livro, tal como na lista divulgada pelo humorista, os autores estão organizados por ordem alfabética, à exceção de dois, que abrem e fecham o volume: Fernando Pessoa e Luís de Camões, que têm direito a dois ensaios cada um pela sua importância. Os temas, movimentos ou conceitos abordados incluem, por exemplo, os períodos do Renascimento e Barroco (cujos ensaios foram escritos por Hélio Alves) ou as duas principais revistas modernistas, Orpheu e Presença. O Cânone inclui também ensaios sobre literatura escrita por mulheres e por escritores homossexuais. “Tentámos ser o mais inclusivo possíveis”, afirmou João R. Figueiredo, que esteve presente na apresentação desta quarta-feira, juntamente com os outros coordenadores.

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“Não é um cânone no sentido de estar gravado em mármore”

António M. Feijó descreveu a lista de autores do Cânone como “convencional”, embora existam “alguns nomes que, em princípio, não estariam numa coleção de ensaios desta natureza”, como admitiu. “Isto não é um cânone no sentido de estar gravado em mármore — tem ideias sobre alguns autores. Pensámos em escrever ensaios que são interessantes em si. O elenco de nomes é menos importante, poderia ser muito suplementado, alguns [nomes] podiam ser substituídos”, disse durante a apresentação no Jardim Botânico. “Não há uma lista definitiva.”

Para os coordenados do volume, “o interesse não é tanto na lista de nomes, que é relativamente convencional, mas em ter pessoas falassem de um modo que fosse relativamente excêntrico ou que dessem alguma coisa que fosse interessante e relevante”. Já Miguel Tamen apontou que um cânone “é uma lista” e que “as listas mudam muito”. “A nossa lista é uma lista possível e com certeza que se aqui há 70 anos se tivessem feito uma lista, esta teria nomes que não nos ocorreram.” O professor espera que esta “possa interessar as pessoas” a lerem o livro.

Feijó explicou que foram convidadas “pessoas de gerações muito diferentes, no início de uma carreira universitária nas quais conhecemos talento e que pensamos que o que fazem é muito interessante”, mas também pessoas da mesma geração que os professores da Faculdade de Letras de Lisboa, nas quais reconhecem “grande talento no que fazem”.

[Reveja a apresentação de O Cânone, no Jardim Botânico de Lisboa:]

Ou seja, os ensaios não foram necessariamente escritos por investigadores especialistas nos autores que abordaram: “Misturámos ensaios escritos por pessoas que já tinham escrito muita coisa sobre esses autores com ensaios de pessoas que nunca tinham escrito sobre esses autores”, esclareceu Miguel Tamen, acrescentando que “uma pessoa que nunca escreveu sobre um autor não a torna ignorante”, sendo que um especialista pode tornar-se “ignorante” por não conseguir ver certos aspetos.

“Mais do que estar a discutir nomes, inclusões ou exclusões, sentimos que era mais interessante perceber onde é que podia haver um bom ensaio sobre isso.” E, sobretudo, os responsáveis gostavam “que as pessoas lessem vários dos ensaios e pensassem que isto é muito interessante por razões muito diferentes”, disse Feijó.

Outra preocupação foi a de que os textos exprimissem a opinião pessoal de quem os escreveu: “Às vezes, os críticos acham que ser crítico é não exprimir opinião sobre coisa alguma. A tradição do ensaio literário é aquilo que, em nosso entender, a crítica literária é — é a expressão de opiniões. Pedimos às pessoas que escrevessem as suas mais fundadas opiniões. Algumas são absolutamente consensuais, desde logo a começar por algumas das nossas opiniões. Dizer que Camões e Pessoa são os escritores mais influentes da literatura portuguesa não é nada de aventuroso, podia aparecer num programa do ensino secundário”, exemplificou Tamen.

“Outras são muito mais minoritárias. As ideias do João [R. Figueiredo] sobre Frei Luís de Sousa não são com certeza partilhadas por muitas pessoas que estão habituadas à literatura do século XVII, mas é o vigor com que se defendem essas opiniões que, a nosso ver, dá interesse a uma empreitada desta”.

Como foi apontado durante a sessão desta quarta-feira, a inclusão de Frei Luís de Sousa, autor de Vida de Dom Frei Bartolomeu dos Mártires, é uma das surpresas de O Cânone, que João Figueiredo justificou pela grande qualidade da sua prosa. “Frei Luís de Sousa é um prosador excecional e habitualmente não se conhece. Para a generalidade das pessoas, quer dizer a peça do Garrett, que tem como herói muito efabulado este homem que foi um frade dominicado, historiador, que tem uma prosa absolutamente excecional”, afirmou o professor.

Há “outros nomes que poderiam estar aqui”

Sobre a não inclusão de nomes como Sophia de Mello Breyner, Eugénio de Andrade ou Vergílio Ferreira, António Feijó admitiu que há “outros nomes que podiam estar aqui”, mas que também foi preciso impor limites. Alguns, não tento um texto especificamente dedicado a eles, são referidos noutros “por diferentes razões”. É o caso de Sophia.

“As pessoas que dão por falta de nomes e gostariam que certos nomes estivessem numa lista têm de fazer um argumento a favor deles. A história da crítica portuguesa tem muitos poucos argumentos”, considerou Miguel Tamen. “Como dizia um crítico que não era português, tem muitas demonstrações no sentido militar do termo, mas não tem realmente argumentos. Quem acha que certos nomes deviam estar lá, tem bom remédio, escreva um livro. É disso que precisamos”, desafiou.

Esta quinta-feira haverá uma segunda apresentação, que consistirá numa conversa entre os coordenadores de O Cânone e o presidente do conselho de administração do Teatro de Nacional de S. João, Pedro Sobrado. Também esta apresentação será transmitida online, às a partir da Casa de São Roque, no Porto.

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