Porque é que nos estão a empurrar?”, questiona Marta Temido sobre a carta aberta que o bastonário da Ordem dos médicos e cinco anteriores bastonários subscreveram e em que pedem uma “mudança imediata de rumo na estratégia” do Serviço Nacional de Saúde (SNS), que envolva mais os setores privado e social na resposta a todos os doentes.

Em entrevista à TVI, a ministra garante que essa parceria já é “efetiva”, dando como exemplo “a área dos meios complementares de diagnóstico e terapêutica e de diagnóstico para a SAS-COV-2”, em que a colaboração “é claríssima”, tendo em conta que “metade dos testes” são feitos por privados.

Questionada sobre quem está a empurrar , a ministra respondeu que “é o que parece, porque a colaboração entre o SNS e o setor privado existe, é natural“.

Dizendo compreender as preocupações do bastonário e dos ex-bastonários, Marta Temido defende, no entanto, que “também temos de ter todos a perceção de que essa colaboração, que é desejável, existe, [mas] tem de ser espontânea, está planeada, programada”.

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Bastonários da Ordem dos Médicos: resposta do SNS a todos os doentes é insuficiente, é preciso envolver privados

Questionada se o Governo não envolveu mais os privados no combate à pandemia por implicar uma fatura mais pesada, a ministra respondeu que “não é uma questão de fatura, é uma questão de escolhas e são as escolhas da saúde dos portugueses”.

“Nós temos de ter a perceção de que a abordagem que o setor público tem é diferente, não é uma abordagem centrada em atos, é uma abordagem centrada num cuidado integral”, considera Marta Temido. “Limitarmo-nos a passar cheques poderá ser uma questão pontual mas não é uma solução integrada”.

“A pandemia o que exige é que o setor que trabalha com o SNS complementarmente continue a fazer aquilo que é a resposta aos cheques cirúrgicos, a resposta à rede de cuidados continuados e integrados”.

A ministra garante que “o SNS está a responder” às novas necessidades da pandemia e às restantes doenças. “Quer um exemplo de como está a responder? Nós já temos os números da atividades assistencial em setembro — e em setembro já se constata que aquilo que era uma redução de mais de um milhão e 200 mil consultas médicas nos cuidados de saúde primários agora já está em 400 mil”, disse Marta Temido.

“Todos os dias os portugueses utilizam requisições passadas pelo SNS para fazerem exames laboratoriais no setor privado, para fazerem raios X, para terem vales cirúrgicos, para utilizarem as camas de cuidados continuados e integrados. Desculpe, o que é que há de novo aqui?”, questionou a ministra.

Questionada se admite contratualizar serviços prestados pelos grupos privados, a ministra foi taxativa: “Claro, mas alguém tem alguma dúvida que, se for necessário, o Estado o fará? Agora, o que nós temos de ter é a perceção de que temos um sistema, que é o SNS, público, pago por impostos, financiado por todos nós, que tem um desafio que é duplo — dar uma resposta à Covid e às demais necessidades — e não podemos encostar metade do Serviço Nacional de Saúde e dizer-lhe que vai ocupar-se de uma só realidade“.

Marta Temido lembra, aliás, que “há muitas respostas que só o SNS é que tem — há muitos cheques cirúrgicos que nós tentamos, de situações complicadas que muito gostaríamos de ver resolvidas num curto espaço de tempo, mas não se consegue, porque não há resposta alternativa” do setor privado.

“Vamos lá a ver, temos de falar franco e falar claro — o SNS poderá precisar do setor privado e do setor social. Estão cá para nos ajudar? Eu espero que sim”.