A coordenadora do BE, Catarina Martins, acusou esta terça-feira o PSD de uma “contradição gigantesca” já que Rui Rio disse que não faria um “acordo com um partido xenófobo e racista” e agora fê-lo com o Chega nos Açores.
Na segunda-feira, o líder do PSD, Rui Rio, concordou com os quatro objetivos do Chega para viabilizar o governo nos Açores, considerando que aquele partido “se moderou” na região, e acusou PS e BE de andarem de “cabeça perdida”.
“Eu julgo que o PSD está envolto numa contradição gigantesca. O doutor Rui Rio já disse uma coisa e o seu contrário várias vezes. Disse que não faria um acordo com um partido xenófobo, racista, que apela ao ódio, e fez esse acordo”, respondeu Catarina Martins aos jornalistas, no final de uma reunião com a CGTP, em Lisboa.
Na perspetiva da líder do BE, independentemente dos argumentos do PSD, Rio “está a fazer o que sempre disse que não faria”, sendo este “infelizmente um caminho a que se tem assistido nalguns países da Europa que é quando direita que se diz democrática abre a porta às forças que não são democráticas”, o que tem “custos graves”.
E se alguém teve alguma dúvida sobre os custos que tem para a democracia e para quem acredita na democracia abrir à porta ao discurso do ódio, xenófobo, autoritário, veja bem o que está a acontecer nos Estados Unidos em que um presidente [Donald Trump] perde as eleições e diz que não se quer ir embora e que não quer sequer que os votos sejam contados”, comparou.
Para Catarina Martins, “o que acontece no resto do mundo valia a pena ser observado pelo doutor Rui Rio”.
“Nestes momentos há sempre quem tenha tentações de discursos que apelam à raiva e à revolta sem nenhuma solução. Que o PSD seja um desses partidos é só uma constatação triste”, lamentou.
Na segunda-feira, em declarações aos jornalistas, à margem de uma reunião por videoconferência com a Confederação Empresarial de Portugal – CIP, Rui Rio disse concordar com os quatro objetivos que o Chega defendeu para viabilizar o novo Governo Regional.
“Fazer uma proposta de redução dos deputados regionais. Isto é fascista? É de extrema direita? É uma proposta fascista querer baixar o número de pessoas com o rendimento mínimo nacional garantido e terem emprego e rendimento? Isto é fascista? Criar um gabinete de luta contra a corrupção. É fascista lutar contra a corrupção? Reforçar a autonomia dos Açores”, interrogou o líder dos sociais-democratas.
Questionado pelos jornalistas se o partido tinha, ao aceitar negociar com o Chega uma solução política, “passado a linha vermelha”, Rui Rio negou.
“O PSD passou a linha vermelha de querer baixar os deputados regionais, de querer baixar o número de pessoas desempregadas e de combater a corrupção. Foi essa a linha vermelha que o PSD passou”, disse, deixando críticas ao primeiro-ministro, Partido Socialista e Bloco de Esquerda.
“O dr. António Costa, o Partido Socialista e o Bloco de Esquerda estão efetivamente de cabeça perdida e estão claramente a mentir aos portugueses”, referiu, acrescentando que os mesmos “não tem tido noção do ridículo que estão a dizer”.
José Manuel Bolieiro foi indigitado no sábado presidente do Governo Regional pelo representante da República para os Açores, Pedro Catarino.
O PS venceu as eleições legislativas regionais, no dia 25 de outubro, mas perdeu a maioria absoluta, que detinha há 20 anos, elegendo 25 deputados.
PSD, CDS-PP e PPM, que juntos representavam 26 deputados, anunciaram esta semana um acordo de governação, tendo alcançado acordos de incidência parlamentar com o Chega e o Iniciativa Liberal (IL).
Com o apoio dos dois deputados do Chega e do deputado único do IL, a coligação de direita soma 29 deputados na Assembleia Legislativa dos Açores, um número suficiente para atingir a maioria absoluta.