Trabalhar numa autocaravana em vários pontos do país (ou da Europa) durante seis meses parecia um cenário distante, mas em plena pandemia de Covid-19 talvez seja tão válido como outro qualquer. Que o diga a Indie Campers, a startup com ADN português de aluguer de autocaravanas que criou dois planos de subscrição só a pensar nas pessoas em teletrabalho ou que se definem como  “nómadas digitais”.

“Tínhamos mais procura de s’olo travelers’ para ‘freelancing’, para trabalhar remotamente, e até pessoas que estavam agora sem trabalhar por vários motivos e decidiram viajar durante períodos mais extensos”, diz ao Observador Miguel Fraga, responsável de comunicação e marketing, que acredita que existe uma nova tendência no assunto e, por isso, estava na altura de criar um produto de resposta.

Mais do que o impacto na economia global, a Covid-19 teve outro no tecido social, nomeadamente na alteração de hábitos. A forma como nos deslocamos ou as precauções que passaram a fazer parte de uma viagem em transportes públicos são um dos pontos, tal como as restrições associadas a viagens turísticas, mas a verdadeira mudança está na forma como trabalhamos. O teletrabalho imposto em nome da saúde pública veio pavimentar um caminho que a internet já havia começado e tornado viável, o da eliminação da necessidade presencial, e isto deixou em aberto um leque de novas possibilidades.

Foi assim que nasceu um pacote de dois planos de aluguer de autocaravanas, um mensal e outro anual. “Pelos nossos clientes e pelos potenciais utilizadores, é uma solução para aqueles que querem passar mais tempo na estrada do que o aluguer habitual, de sete a 10 noites”, acrescenta Miguel Fraga.

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Com esta aposta, é possível subscrever um plano mensal – a partir de 733 euros por mês (23,5 euros por dia) – ou anual – a partir de 699 euros por mês (22,5 euros por dia). Incluídos estão os seguros, assistência e manutenção.

“Até aqui já era possível alugar qualquer período, não havia era um pacote de tempo. Além disso, a diferença fundamental era o preço, ou seja, temos um valor no aluguer normal, pensado para a nossa duração média, uma a duas semanas, e nunca para aluguer de um ano”.

Associados aos planos estão ainda alguns valores a ter em conta. No plano de subscrição mensal estão incluídos 1000 quilómetros (km) por mês, que podem depois ser aumentados com pacotes de 1500 e 2000 km. Já no plano anual estão incluídos 10 mil km como base, sendo possível adquirir pacotes adicionais de 15 mil, 20 mil e 25 mil kms, todos estes taxados no ato de entrega do veículo. Planos superiores a seis meses contam também com alguns extras como mesas e cadeiras exteriores, kits de cama e isenção de custo de animais de estimação. A internet, por sua vez, deve ser requisitada na altura do aluguer e será taxada como extra.

Sobre a política de cancelamento, Miguel diz que ainda serão feitos alguns ajustes mas, para já, se o pedido de cancelamento for feito dois dias depois do aluguer, não será reembolsado qualquer valor e o total da subscrição terá de ser pago na totalidade.

“O nosso aluguer normal vai flexibilizar ainda mais a política de cancelamento e vai acontecer o mesmo com o serviço de subscrição. Neste momento, a partir do momento em que começas a viagem, não permitimos devolução”, esclarece.

O serviço mantém, como até aqui, a possibilidade de devolução da caravana em qualquer uma das 37 localizações geográficas em 15 países europeus. Um número que, segundo Miguel, foi estagnado por culpa da pandemia. “Todos os anos expandimos a nossa operação; em oferta da nossa frota – que está nas 1250 autocaravanas mas que daqui a cinco meses passa a 1900 – e ao nível da expansão geográfica. No próximo ano vamos incorporar Estugarda e Hannover (Alemanha), Nantes (França) e Malmo (Suécia) além da mais preponderante, a expansão para os Estados Unidos. É a primeira vez que vamos sair da Europa, uma coisa que já estava pensada para 2020, que não prosseguimos e que em 2021 vai avançar.”

Do lado de lá do Atlântico existem várias possibilidades, sendo que a costa Oeste seria o principal objetivo, uma ideia que entretanto foi abrindo. “A Este também tem bastantes valências – Nova Iorque, Boston, Miami mais abaixo – com procura e interesse. Naturalmente a costa Oeste tem muita pesquisa mas este ano, pensando as consequências dessa expansão e percebendo que a costa Este está a seis, sete horas da Europa enquanto que a Oeste fica a 12, 13, estamos a decidir o planeamento que começa sempre em abril.”

Mas o atraso na expansão não foi a única consequência que a Covid-19 trouxe à Indie Campers num ano que “estava a correr especialmente bem”, reitera Miguel. “Passámos mal internamente, ficámos frustrados, porque fizemos um trabalho meritório e foi por água abaixo. Percebemos depois que não valia a pena e virámo-nos para o melhor que temos, que são as pessoas que trabalham cá. Temos neste momento 155 pessoas e, mesmo sendo uma empresa de turismo que ao invés de fazer receitas diárias de 100 reservas, passou para 1, tentámos transmitir segurança, perceber como é que podíamos sair da situação”.

A tendência negativa inverteu, segundo o responsável pela comunicação, em meados de Maio. Para uma empresa que “cresce 100 por cento duas vezes ao ano desde 2013”, a estratégia passou por apostar na comunicação e em novas ideias. “A partir daí, e não obstante o impacto, não vamos decrescer. Também não vamos crescer, mas vamos manter”.

A Indie Campers foi fundada em 2013 por Hugo Oliveira e o austríaco Stefan Koeppl, ambos estudantes universitários e amigos.