“Acabou a lua de mel com Andrea Pirlo”. Foi desta forma que a imprensa italiana dissecou o último empate cedido pela Juventus na Serie A, frente ao Benevento, que teve o condão também de mostrar a dependência que a equipa continua a assumir de Cristiano Ronaldo, que falhou o jogo por opção técnica tendo em vista o denso calendário que se avizinha. No entanto, e mais do que a ausência do português, aquilo que voltou a ficar patente foram todos os problemas de compreensão de mensagem do treinador, a ponto de já ser comparado com Maurizio Sarri.

“Ronaldo teve um pequeno problema no meio da semana e mesmo assim queria jogar a Champions. Depois disso, era natural que precisasse de descansar. É um jogador muito importante, foi assim com o Real Madrid entre 2009 e 2018 e foi assim nos clubes anteriores. É o tipo de jogador que faz sempre a diferença nos jogos e na marcação de golos, mas temos de ganhar este tipo de jogos com ou sem Ronaldo”, realçou o técnico italiano depois da igualdade com o Benevento que deixou a equipa a seis pontos do líder AC Milan, tendo mais empates (cinco) do que vitórias (quatro) nos encontros realizados na Serie A. “Pirlo entendeu agora o que significa liderar um grupo nos momentos decisivos”, destacava o Corriere della Sera, a propósito dos problemas que o treinador está a sentir.

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O grande obstáculo entre o técnico e o plantel entronca na comunicação, com uma fonte a revelar ao mesmo jornal que “o que está a acontecer é o mesmo que acontecia com Sarri”. Por norma, Pirlo costuma deixar a discussão da parte tática ao adjunto Igor Tudor e as instruções durante o jogo a outro dos adjuntos, Roberto Baronio. Alguns jogadores, como Dybala ou Kulusevski, terão com isso dificuldades em entender o que é pedido sobretudo quando a equipa não tem bola. A isso acrescenta-se outro ponto, esse mais percetível nos jogos: as constantes mudanças em termos táticos de uma equipa que tenta ainda adaptar-se a uma nova ideia fazem com que muitas vezes existam falhas de ligação nos setores que acabam depois por pesar e muito nos resultados finais. “As escolhas de Cristiano Ronaldo [dos jogos que deve falhar] ao menos têm mérito numa coisa: identificam problemas, antes que seja demasiado tarde para os resolver”, reforçou a mesma fonte ao Corriere della Sera.

Era neste cenário que chegava o encontro do Dínamo Kiev, sem relevância para o apuramento da equipa para os oitavos da Champions (carimbado no último jogo com um golo de Morata nos descontos) mas fundamental para os bianconeri poderem discutir o primeiro lugar do grupo na última jornada em Barcelona e, em paralelo, começarem a dar passos para uma redenção necessária quando já leva três meses oficiais de época. E com Ronaldo de regresso e com um extra de motivação, depois de ter sido escolhido para o prémio Golden Foot de 2020. Para não varias, o português marcou e logo o golo 750 na carreira nos seniores, tendo ainda ultrapassado um recorde de Lionel Messi ao tornar-se o jogador com mais golos marcados em casa na Champions.

O português deu o primeiro aviso logo aos três minutos com um remate ao lado, a que se seguiu nova tentativa de Chiesa e uma grande defesa de Bushchan a remate de McKennie. O golo parecia ser uma questão de tempo, tendo surgido pouco depois por Chiesa, a aparecer ao primeiro poste após cruzamento de Alex Sandro (20′). A Juventus estava melhor em termos ofensivos do que é normal, com maior mobilidade e mais capacidade de colocar muitas unidades em zonas de finalização, e contava também com uma equipa a sentir dificuldades em sair em transição. Daí que a única intervenção tenha chegado já a cinco minutos do intervalos, para grande defesa de Szczesny, depois de um remate à trave de Ronaldo sozinho na área após nova grande jogada de Alex Sandro (30′).

No segundo tempo, os reajustes feitos por Mircea Lucescu ainda permitiram aos ucranianos fazer duas investidas com perigo no último terço dos transalpinos mas o segundo golo, apontado por Ronaldo após remate de Morata (57′), desequilibrou por completo a partida, antes do 3-0 do avançado espanhol no seguimento de mais um passe letal de Chiesa, o elemento em maior preponderância na frente de ataque (66′). O português voltou, a Juventus voltou a ganhar mas os maiores testes ainda estão para chegar, na Serie A e em Camp Nou. Já Ronaldo continua a sua caminhada até ao próximo recorde que tem na mira a nível de clubes: o de Pelé. Até lá, e a título de curiosidade, tornou-se também o jogador a marcar à mesma equipa na Champions com maior diferença de tempo, neste caso 13 anos, depois de ter feito um golo aos ucranianos no Manchester United em 2007.