A candidata presidencial Ana Gomes afirmou este sábado que a campanha eleitoral está condicionada por muitas restrições, entre as quais a indefinição do atual Presidente da República em assumir a sua recandidatura para se “furtar ao debate”.

Acho que esta será uma campanha difícil, com muitas restrições por causa da pandemia”, afirmou Ana Gomes no Funchal, no âmbito da visita em campanha eleitoral que efetua este fim de semana à Madeira.

A candidata acrescentou que existem outras condicionantes nesta campanha, “como, por exemplo, um candidato, o senhor Presidente da República atual, que até hoje diz que ainda não sabe se é candidato”.

Ana Gomes considerou que esta é uma maneira de Marcelo Rebelo de Sousa “até agora se furtar ao escrutínio ao debate”. Acrescentou que vai ser também desigual, porque os restantes candidatos estão “a concorrer contra o atual Presidente à procura de um segundo mandato”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ana Gomes sublinhou que “pode fazer várias diferenças” com a sua candidatura a Belém, enunciando ser uma mulher “que não tem medo de pôr os dedos nas feridas”, como aconteceu com a situação da Zona Franca da Madeira que disse ser um “cancro, que era um esquema ilegal”.

Também não tenho medo de exigir às autoridades nacionais que façam o que a Comissão [Europeia] lhes manda fazer em oito meses, que é recuperar esses fundos que foram perdidos e pô-los ao serviço do povo da Madeira”, mencionou.

A candidata ainda opinou que “já é tempo” de Portugal ter “uma mulher Presidente da Republica”. Ana Gomes declarou ser “completamente a favor de uma estratégia de regionalização como estratégia de desenvolvimento do país”, assumindo ter sido “sempre defensora das autonomias regionais da Madeira e dos Açores”.

“Acho que há questões que dependem de uma melhoria da articulação das autoridades regionais com as nacionais em favor das populações”, disse, defendendo “um aprofundamento dos fundos europeus, agora vem aí a bazuca, o novo orçamento europeu, é fundamental que a Madeira não continue a ser prejudicada“.

No seu entender, “a Madeira tem sido prejudicada”, nesta matéria, também devido ao Centro Internacional de Negócios (CINM), o que provoca a existência de um PIB “artificialmente inflacionado”, o que a impede de aceder a mais fundos comunitários.

Orgulho-me de ter desencadeado a investigação da Comissão Europeia que ainda ontem [sexta-feira] levou a conclusões bastante duras para Portugal, mas positivas, porque inclusivamente obriga as autoridades nacionais a irem recuperar o dinheiro que fugiu do erário público, para financiar políticas públicas”, no seu entender “à conta de esquemas ilegais que se praticavam à sombra da Zona Franca da Madeira”, vincou.

Ana Gomes ainda refutou o argumento de que os cerca de 6.000 trabalhadores e as 2.300 empresa sedeadas no Centro Internacional de Negócios pagam impostos e geram 100 milhões de euros de receitas fiscais para a Madeira, sublinhando que este valor “não compensa o povo da região e de Portugal”.

“E não é aceitável que as autoridades deem dados falsificados, vergonhosos, num esquema que serve a criminalidade organizada associada, que é de todo o tipo, desde crime de trafico droga, armas e humano”, frisou.

Ana Gomes insistiu: “Não tenho nada contra CINM, acho pode ser uma instituição importante numa estratégia de desenvolvimento da Madeira, desde que cumpra as regras e não se preste para ser o veículo para criminalidade financeira e fiscal internacional”.

A dois meses das eleições presidenciais, marcadas para 24 de janeiro, são oito os pré-candidatos ao cargo de Presidente da República atualmente ocupado por Marcelo Rebelo de Sousa, que ainda não anunciou se irá recandidatar-se. O programa da visita à Madeira inclui encontros com militantes, o representante da República, elementos da universidade da região e visitas a várias instituições.