Fazendo uma retrospetiva à caminhada recente do Manchester United, Ole Gunnar Solskjaer andou a “brincar com o fogo”. Não de forma consciente, claro. Ali houve um misto de confiança involuntária e crença sem limites naquilo que a equipa era capaz de fazer, mas a deslocação à Alemanha para defrontar o RB Leipzig fez com que a formação de Old Trafford chocasse com uma realidade: nem sempre os maus inícios de jogos dão margem para que exista uma recuperação na parte final. Foi por pouco, verdade seja dita, mas não deu. E a eliminação da fase de grupos da Champions depois de um arranque com uma vitória em Paris e uma goleada em casa frente ao mesmo conjunto de Julian Nagelsmann voltou a atirar o quotidiano do clube para a discussão sobre o futuro do treinador.

93 toques, 38 passes, sete recuperações, um golo, um livre na trave, uma assistência: Bruno deu tudo mas Solskjaer tirou-lhe as asas

“Não fomos suficientemente bons. Temos de fazer muito mais para representar um clube tão grande, especialmente a jogar na Liga dos Campeões contra grandes equipas”, assumiu Bruno Fernandes, que mais uma vez veio a público abordar o insucesso europeu da equipa. O português, que foi eleito mais uma vez como o melhor da Liga no último mês, continua a ser um abono de família de uma formação capaz do melhor e do pior no mesmo jogo (às vezes na mesma parte do jogo) mas que raramente deixa de contar com um golo, uma assistência ou uma voz de liderança em campo do médio. O que, e mais uma vez, nem sempre chega. E nem as quatro vitórias seguidas na Premier League deixavam de colocar o dérbi de Manchester como mais uma “final”. “Só ficarei feliz quando vencer a Liga. O objetivo de ter vindo para Inglaterra, para um clube tão grande, é vencer a Liga. E acho que temos hipóteses de conseguir isso”, destacou o número 18 após receber o prémio de MVP do mês de novembro.

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Do outro lado, o City. Que, apesar da campanha quase sem mácula na Champions, também não começou bem a época e que venceu apenas o Arsenal entre os adversários de maior peso que encontrou na Premier League, entre o empate com o Liverpool e as derrotas com Leicester e Tottenham. Aliás, a equipa de Pep Guardiola até partia para este dérbi com menos um ponto do que o United (além de no ano passado ter perdido mais vezes do que aquelas que ganhou contra o rival da cidade) mas tinha uma grande diferença: surgia num momento em crescendo, com uma maior estabilidade em termos defensivos consubstanciada em cinco jogos seguidos sem sofrer, com Raheem Sterling mais “protagonista” na frente e, sobretudo, com uma subida a pique de Kevin de Bruyne.

“Sou uma pessoa com sorte. Em Barcelona, em Munique e aqui treinei jogadores incríveis. Por exemplo, se me perguntarem qual foi o melhor guarda-redes, não sei dizer e seria um desrespeito com os outros se escolher o Victor [Valdés], o Neuer ou o Edi [Ederson]. Mas se escolhia o Kevin para o melhor onze que treinei? Claro. Não é preciso ser-se brilhante ou muito esperto para se perceber que ele estaria lá sempre”, admitiu Guardiola antes de um jogo que foi também lançado pelo capitão belga: “Eles têm novos jogadores, talvez joguem de uma forma mais ofensiva mas vamos ver. Nos primeiros cinco minutos veremos como será o jogo. No ano passado jogaram de forma mais defensiva, apostaram no contra-ataque e ganharam porque cometemos um par de erros”.

Os heróis até poderiam ser outros mas muito do que se passaria no dérbi de Manchester estaria sempre ligado aos dois médios, Bruno Fernandes e Kevin de Bruyne. Provavelmente, os dois médios com mais apetência para fazer golos e assistências da Premier League (como mostram os números). No entanto, hoje nem eles conseguiram fazer a diferença num nulo com poucas oportunidades e que não conseguiu espantar os fantasmas do passado, apesar dos muitos passes de cada equipa (mais de 1.000 no total) sem a objetividade necessária para marcar.

Olhando para a primeira parte, basta dizer que se tocou apenas 13 vezes na bola na área contrária para se ter uma ideia do tipo de jogo em causa – e que, como dizia De Bruyne, se percebeu nos primeiros minutos. Sem ter linhas tão baixas como aconteceu no ano passado no Etihad, por exemplo, o Manchester United tentou roubar a posse ao City (que terminou os 45 minutos iniciais com “apenas” 52%) e apostou em algumas zonas de pressão mais altas que condicionassem a construção dos visitantes, à semelhança do que a sua defesa teve de enfrentar. Mahrez, num lance em que surgiu isolado em frente a De Gea pela direita, teve a melhor oportunidade da primeira parte mas o espanhol fez bem a “mancha”, ao passo que os red devils criaram sobretudo perigo em lances de bola parada, com Maguire e Lindelöf a fazerem valer o bom jogo aéreo para levarem perigo à baliza de Ederson.

O segundo tempo ainda deu uma falsa sensação de mudança, com um penálti a favor do Manchester United por falta de Kyle Walker sobre Rashford após grande passe de Bruno Fernandes que foi anulado pelo VAR, por posição irregular do avançado inglês. O Manchester City tentou agarrar mais no jogo, subiu linhas mas o nulo nunca foi desfeito nem sequer esteve muito ameaçado num encontro onde as defesas ganharam aos ataques e onde os meio-campos trabalharam muito mas porfiaram pouco para mudar um resultado há muito anunciado e que permite a Liverpool e Tottenham aumentarem a vantagem na frente da Premier League este domingo.