Toda a gente sabe que a leitura é crucial no desenvolvimento cognitivo de crianças e jovens, mas a realidade do nosso país está longe de o refletir, e muitos são os que reviram os olhos quando a conversa passa por ler um livro. Se dúvidas tivéssemos de que as coisas são mesmo assim, um estudo recente veio provar que os alunos do 3.º ciclo e ensino secundário leem cada vez menos. Levada a cabo pelo Plano Nacional de Leitura (PNL2027) e pelo Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa (CIES-IUL), a pesquisa revelou que, em 2019, 21,8% daqueles alunos assumiram não ter lido qualquer livro por prazer nos 12 meses anteriores ao inquérito, o que representa um crescimento de cerca de 10% em relação a 2007.

Sabendo-se que os hábitos de leitura são maioritariamente integrados durante a infância e adolescência, é inevitável ficar apreensivo com estes números. Tanto mais que os primeiros resultados do estudo apontam para uma relação entre o comportamento dos alunos face aos livros e o contexto familiar em que estão inseridos. Quanto mais forte é a relação da família com a leitura – independentemente do nível de escolaridade dos pais —, mais livros os jovens dizem ter lido. De salientar que mais de metade dos alunos (57%) diz que a família tem uma relação distante com a leitura e a percentagem de estudantes com menos de 20 livros em casa quase duplicou entre 2007 e 2019, passando dos 14,5% para 27,3%.

Estimular a leitura entre os mais novos, envolver a família nesse propósito e facilitar o acesso a livros para aquelas faixas etárias é precisamente um dos objetivos do Prémio de Literatura Infantil Pingo Doce, criado por esta cadeia em 2014. O livro vencedor da edição deste ano — “Leituras e Papas de Aveia” — da autoria de António Pedro Martins com ilustrações de Duarte Carolino, já está disponível em todas as lojas Pingo Doce do país, e conta as aventuras da pequena Olívia e dos monstrinhos que habitam o seu colchão. António Pedro e Duarte contam-lhe um pouco mais sobre esta experiência no vídeo:

Mais afeto e melhores notas

São inúmeros os benefícios que resultam da leitura, que pode – e deve – ser incentivada desde os primeiros tempos de vida, mesmo ainda na barriga da mãe, como defendem alguns especialistas.

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Além de estreitar enormemente os laços afetivos entre pais e filhos, ler para as crianças vai estimular o seu desenvolvimento cognitivo, já que a leitura ensina a comunicação básica, incentiva a fala e ajuda a introduzir letras, números, cores e formas. Além disso, sabe-se também que desafia a memória, aguça a criatividade e imaginação e ainda treina a escuta e a concentração. Como consequência, pesquisas não faltam a relacionar os hábitos de leitura e o bom desempenho académico e até profissional.

Num interessante estudo sobre o tema, intitulado “The Sooner, the Better: Early Reading to Children”, os investigadores concluíram exatamente que ler livros a crianças pequenas contribui significativamente para um ambiente doméstico favorável à literacia e ao desenvolvimento da linguagem desde cedo. Já antes havia sido percebido que a leitura é um precioso auxiliar no enriquecimento do vocabulário ao longo dos primeiros anos.

Apreender o mundo e assimilar valores

Algumas investigações sugerem também que a leitura de histórias promove o desenvolvimento emocional, uma vez que, ao ouvir ler, a criança capta o tom de voz e as expressões de quem o faz, interioriza valores importantes (como a amizade ou a liberdade, por exemplo) e aprende a distinguir o certo do errado. Outra das consequências da leitura — especialmente a leitura de ficção — diz respeito ao desenvolvimento da empatia, o que também justifica a importância dos contos de fadas. Há ainda a perceção de que os livros contribuem para a redução de preconceitos da parte de quem lê ou ouve ler, uma vez que ajudam a conhecer e a compreender o mundo em que se vive.

A cereja no topo do bolo (sobretudo para pais desesperados devido à energia inesgotável dos filhos) é que a leitura favorece o relaxamento, verificando-se uma diminuição dos níveis de ansiedade, de acordo com a pesquisa levada a cabo pelo neuropsicólogo David Lewis-Hodgson, responsável pelo Mindlab, da Universidade de Sussex, Brighton, Reino Unido.

E o melhor é que tudo isto pode ser obtido de forma muito fácil, sem sair de casa e recorrendo apenas ao mais simples que há: amor, tempo em família e livros.

Como incentivá-los a ler?

Pôr os mais novos a ler não é tarefa impossível, sobretudo se se seguir algumas destas sugestões:

Prateleiras cheias de livros – Fazer do livro uma presença constante em casa desde sempre é meio caminho andado para que os mais novos ganhem o gosto pela leitura. Se crescerem rodeados de livros vão achar natural lê-los pela vida fora.

Dar o exemplo – Parte importante da educação faz-se pelo exemplo e o caso da leitura não é exceção. Por isso, há que ler – com eles e sem eles – para que percebam que ler é um hábito normal e desejável na família.

Criar rotinas – É bom que os mais novos tenham liberdade para ler quando e onde quiserem (dentro dos limites do bom senso, claro), mas é importante estipular momentos diários, como a altura antes de dormir, por exemplo, para lhes ler uma história ou, se as crianças já souberem ler, para o fazerem sozinhas ou lado a lado.

Qual é o livro mais adequado a cada idade?

Saber que livros são adequados a cada faixa etária pode ser determinante para que os mais novos mantenham o entusiasmo à medida que crescem. Antes de mais, é importante que se adequem, de alguma forma, aos seus gostos, e a quantidade de texto e de ilustrações deve ser proporcional à sua idade e conhecimentos. Aqui ficam algumas sugestões:

Até aos 5/6 meses – Livros pequenos e cartonados, de pano ou plástico com grandes figuras coloridas;

Dos 6 aos 12 meses – Livros com texturas ou sons, ilustrações de animais, objetos do quotidiano ou meios de transporte. O material deve ser resistente e durável;

1 a 3 anos – Textos simples, com rimas e repetições, como fábulas em verso, por exemplo. Livros com ilustrações variadas são sempre uma boa aposta, assim como com diferentes texturas;

3 a 6 anos – As histórias podem começar a apresentar mais texto e menos imagens. As fábulas e os contos de fadas são uma opção nestas idades;

6 a 8 anos – Livros ainda com imagens, mas em menor número, já que as histórias são mais longas e as personagens começam a apresentar características definidas em termos de caráter, e o final feliz é ansiado pela criança;

8 a 10 anos – Histórias mais complexas, com princípio, meio e fim. Nesta idade, as crianças são recetivas a livros com os seus heróis preferidos (por exemplo, personagens de um jogo ou filme), sendo esta uma forma de os cativar para a leitura;

10 a 12 anos – Começa a transição para livros com enredos densos e vocabulário mais rico, com as ilustrações a escassearem ou até a desaparecerem por completo. Livros de aventuras, mundos mágicos, mitos e lendas, detetives e até ficção científica são muito apreciados nesta idade.

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