A Fiat Chrysler Automobiles (FCA) e o Grupo PSA viram ontem, segunda-feira, as respectivas assembleias de accionistas aprovar a fusão dos dois conglomerados, com mais de 99% de votos a favor. Da operação resultará o quarto maior grupo automóvel do mundo, a Stellantis, que será presidida por John Elkann (FCA), mas o cargo de CEO é assumido pelo português Carlos Tavares (PSA), a quem caberá propor e implementar a continuidade ou extinção de algumas das 14 marcas do novo grupo. E os analistas nem esperaram pela concretização do negócio, prevista para 16 de Janeiro, para avançar com possíveis “baixas”.
Carlos Tavares. Dos testes de condução à liderança do quarto maior grupo automóvel do mundo
Quatro marcas dos franceses (Peugeot, Citroën, DS, Opel/Vauxhall) juntam-se a 10 dos italo-americanos (Fiat; Fiat Professional; Chrysler; Abarth; Lancia; Alfa Romeo; Jeep; Dodge; RAM e Maserati), mas nem todas devem sobreviver, de acordo com especialistas ouvidos pela Associated Press e Automotive News. Chrysler e Lancia posicionam-se como as mais periclitantes, a Dodge pode sucumbir e não há garantias de que a extinção não afectará a insígnia de luxo da PSA, a DS. A realidade é que o construtor francês dá lucro, o que pode pesar a favor da continuidade desta aposta de Carlos Tavares, mas também é verdade que o volume de vendas é baixo e a gama é pequena. Ampliá-la exigirá investimentos que a Stellantis poderá querer deslocar para outras marcas com maior potencial de crescimento.
Uma escolha mais óbvia e racional, apontam os especialistas, seria acabar com a Chrysler. Isto porque o fabricante norte-americano parece estar parado no tempo, há muito tempo. Recorde-se que já quando a FCA apresentou a sua estratégia a cinco anos, de 2018 até 2022, não havia sequer Stellantis no horizonte e já a Chrysler se via esvaziada de importância no plano de lançamento de novos modelos. Na altura, por opção de Sergio Marchionne. Resultado: a marca coloca o seu emblema apenas em dois modelos, o monovolume Pacifica/Voyager e o sedan 300, que conta já com nove anos de mercado.
Igualmente com muitos anos no mercado está o Ypsilon, hatchback que é exclusivamente comercializado em Itália e onde é, de facto, um dos modelos mais populares por conta do seu preço competitivo. Mas é também o único modelo da Lancia e, por isso, justificam-se as dúvidas quanto à sobrevivência da marca na era Stellantis. Quanto à Dodge, as incertezas prendem-se com a assumida posição mais ambientalista de Joe Biden, a favor de opções de mobilidade com menores consumos e emissões. Sucede que o portefólio da Dodge assenta em mecânicas nos antípodas dessa linha.
Realce para o facto de a posição oficial dos dois grupos, desde que foram encetadas as conversações com vista à fusão, ser que esta operação não iria conduzir à extinção de marcas. Os analistas duvidam, mas só tempo revelará se estão certos.