A nova variante do SARS-CoV-2, identificada originalmente no Reino Unido mas que já circula em Portugal também, poderá obrigar o governo a introduzir novas medidas de restrição nas escolas, confirmou Graça Freitas, diretora-geral da saúde, em conferência de imprensa.
O novo coronavírus sofreu mutações que o tornaram mais transmissível, embora a doença que provoca em algumas delas não seja diferente da induzida por outras variantes. Portugal está a estudar “intensivamente” esta nova variante de SARS-CoV-2, que, “só pela quantidade [de infetados] pode constituir um risco acrescido”, descreveu.
No entanto, como também há indicações de que a nova variante pode ter uma maior capacidade de circular entre as crianças e os mais jovens, Graça Freitas admitiu que isso poderá implicar a implementação de novas medidas de contenção, nomeadamente nas escolas.
Questionada pelo Observador sobre esse tema, a diretora-geral da saúde sublinhou, no entanto, que essa hipótese “carece de confirmação” e, mesmo que possa vir a ser instalada uma estratégia diferente, é necessário ter em conta que, mesmo perante uma variante mais transmissível, a gravidade dos casos não difere das outras variantes.
Portugal está a comprar vacinas fora do contingente europeu
Graça Freitas revelou que estão a ser utilizados vários mecanismos para adquirir mais vacinas contra a Covid-19 em Portugal. A compra de vacinas está a ser efetuada através do esforço europeu, mas também de um contacto nacional diretamente com as empresas fornecedoras.
“A resposta é sim, estamos em múltiplos mecanismos de aquisição, europeia ou nacionalmente”, confirmou a diretora-geral da saúde numa pergunta colocada pelo Observador. “Tudo faremos para termos mais vacinas num curto período de tempo”, prometeu Graça Freitas, recordando no entanto que “as vacinas vão chegando à medida que são produzidas”.
Segundo os dados revelados por Graça Freitas em conferência de imprensa, desde 27 de dezembro de 2020, data de início da vacinação em Portugal, já foram administradas 32 mil doses da vacina. Não significa, no entanto, que 32 mil pessoas tenham terminado de ser vacinadas: “Como sabem, cada pessoa deve receber duas doses. Por isso, estas 32 mil carecem de outras 32 mil para completar o esquema vacinal”, ressalvou.
As autoridades de saúde internacionais, assim como os assessores da Direção-Geral da Saúde, estão a estudar o impacto de alargar ou não o período ao fim do qual se recebe a segunda dose da vacina contra a Covid-19. A receção da segunda dose é uma condição imprescindível para garantir o sucesso da imunização com a vacina da Pfizer/BioNTech.
Neste momento, a recomendação da Pfizer é que a segunda dose seja administrada ao fim de 21 dias, um período que pode ser (mas não deve ser) alargado aos 42. Graça Freitas admite que a opção está a ser analisada mas que, enquanto não houver evidência dos impactos dessa estratégia, mantém-se o esquema original de inoculação.
Morte de funcionária do IPO está em investigação
Graça Freitas abordou o tema da funcionária do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto que morreu poucos dias depois de ter recebido a vacina da Covid-19. A diretora-geral da saúde disse apenas que se trata de uma morte que “ainda está em investigação” e que por isso será necessário “aguardar serenamente” pela sua conclusão.
Mesmo assim, ressalvou que “há fenómenos que podem estar temporalmente relacionados, e que não quer dizer que um seja por causa do outro”. Ou seja, a morte súbita da mulher ocorreu dias depois de ser vacinada contra a Covid-19, mas isso não implica que tenha sido desencadeada pela vacina.
Quanto à situação epidemiológica em Portugal, Graça Freitas afirma que em todo o país “estão em isolamento profilático ou em isolamento por doença mais de 170 mil pessoas, todas a serem acompanhadas pelo Serviço Nacional de Saúde”.
Para além disso, houve o esclarecimento de que “no período de 14 a 27 de dezembro, 37 concelhos, com 542 mil habitantes estavam na categoria máxima de incidência cumulativa”, ou seja, estavam a cima dos 960 casos por 100 mil habitantes.
Ainda no mesmo período, 112 concelhos (onde reside um total de 5,2 milhões de pessoas) estavam com uma incidência entre 480 e 960 casos por 100 mil habitantes. No geral, os níveis de incidência estão “mais homogéneos entre concelhos e regiões, sendo mais elevada no Alentejo, que conta com 666 casos por cada 100 mil habitantes”.
Graça Freitas não esconde que neste momento a taxa de mortalidade está elevada, “de facto”, mas relembra que ela “não acompanha em simultâneo o aparecimento ou flutuações de número de casos”, ou seja, primeiro há mais novos casos, depois mais novos internamentos e só depois mais mortes.
Será esta fase de aumento coincidente com o possível pico desta segunda vaga? Ainda não é claro, isto porque, lembra Graça Freitas, “só sabemos que estivemos num pico quando começamos a descer, antes disso é difícil perceber”.