Mark Zuckerberg revelou esta quinta-feira que as contas de Donald Trump no Facebook e Instagram vão ficar suspensas por tempo indeterminado e “pelo menos durante duas semanas”. A suspensão decretada na noite de quarta-feira, depois dos confrontos no Capitólio, previa uma duração de 24 horas, mas o líder da maior rede social do mundo decidiu alargá-la.
“Acreditamos que os riscos de permitir que o presidente continue a usar o nosso serviço durante este período são simplesmente enormes. Por isso, vamos estender a suspensão que ativámos nas suas contas de Instagram e Facebook indefinidamente e por pelo menos durante as duas semanas [que se seguem] até que a transição de poder esteja concluída”, escreveu.
https://www.facebook.com/zuck/posts/10112681480907401
O multimilionário de 36 anos disse ainda que os “eventos chocantes” das últimas 24 horas tinham demonstrado que o presidente “pretende usar o tempo que lhe resta” na Casa Branca para “minar a transição pacífica e legal de poder para seu sucessor eleito, Joe Biden”. Na mesma publicação, Zuckerberg diz que as declarações de Trump foram removidas porque podiam provocar mais violência.
“Nos últimos anos, permitimos que o presidente Trump usasse a nossa plataforma de acordo com nossas regras, às vezes removendo conteúdo ou rotulando as suas publicações, quando estas violavam as nossas políticas. Fizemos isso porque acreditamos que o público tem direito a ter um acesso o mais amplo possível ao discurso político, mesmo ao que é polémico. Mas o contexto atual agora é fundamentalmente diferente e envolve a utilização da nossa plataforma para incitar uma insurreição violenta contra um governo eleito democraticamente”, acrescentou.
Na noite de quarta-feira, o Twitter também bloqueou a conta do presidente cessante dos Estados Unidos da América pela primeira vez, sendo esta a medida mais punitiva que as redes sociais alguma vez decretaram contra Donald Trump. A suspensão aconteceu no dia que foi marcado pela agitação social e violência em Washington e que tirou a vida a quatro pessoas, ferindo outras 14.
O bloqueio da conta de Trump no Twitter foi estabelecido por um período de 12 horas e os responsáveis da rede social pediram ainda que três tweets do republicano fossem removidos por “violações graves da política de integridade cívica”, que se encontram agora indisponíveis para visualização. No primeiro tweet, publicado já durante a invasão ao Capitólio, Trump criticava Pence por não ter tido “coragem” de anular as eleições. Nos outros dois tweets, o presidente cessante insistia na teoria de fraude eleitoral para a qual não apresentou, até à data, provas.
https://twitter.com/TwitterSafety/status/1346970431039934464
O Twitter deixou ainda um aviso de que a conta permaneceria bloqueada se as publicações não fossem removidas, ameaçando ainda banir mesmo Trump da rede social caso este continuasse a violar as políticas da empresa.
Mais tarde, também o Facebook acabou por bloquear a conta do presidente cessante dos EUA, pela primeira vez e por um período de 24 horas, após terem sido detetadas duas violações das políticas da rede social. Nesta quinta-feira, Zuckerberg acabaria por estender esse prazo “indefinidamente”.
We've assessed two policy violations against President Trump's Page which will result in a 24-hour feature block, meaning he will lose the ability to post on the platform during that time.
— Meta Newsroom (@MetaNewsroom) January 7, 2021
A empresa liderada por Mark Zuckerberg estendeu a interdição à conta que Donald Trump detém no Instagram, rede social de partilha de imagens e vídeos que também é detida pelo Facebook. E as suspensões não se ficaram por aqui. Também a rede social Snapchat impediu Trump de entrar na sua conta, mas ainda não foi divulgada a duração desta suspensão.
A posição adotada pelas quatro redes sociais vem na sequência das alegações infundadas que Trump tem feito sobre os resultados eleitorais e para as quais não há provas. O presidente cessante tem feito acusações de fraude eleitoral e no decorrer da invasão de quarta-feira chegou mesmo a elogiar pessoas “muito especiais”, os seus apoiantes que são responsáveis pelos confrontos no Capitólio. Enquanto tudo isto decorria, os membros do Congresso estavam reunidos para formalizar a vitória do presidente eleito nas eleições de novembro, Joe Biden.
Já esta manhã de quinta-feira, com a conta de Twitter bloqueada, Donald Trump teve de recorrer à conta do diretor de comunicação da Casa Branca, Dan Scavino, para transmitir a seguinte mensagem:
“Embora discorde totalmente do resultado da eleição, e os factos me deem razão, mesmo assim haverá uma transição ordeira no dia 20 de janeiro. Sempre disse que iríamos continuar a nossa luta para garantir que apenas os votos legais seriam contados. Embora isto represente o fim do melhor primeiro mandato da história presidencial, foi apenas o início da nossa luta para Fazer da América Grande Novamente (Make America Great Again)”.
…fight to ensure that only legal votes were counted. While this represents the end of the greatest first term in presidential history, it’s only the beginning of our fight to Make America Great Again!”
— Dan Scavino Jr.???????????? (@DanScavino) January 7, 2021
Contudo, esta não é a primeira vez que as redes sociais têm de intervir nas publicações de Trump. Há sete meses, o presidente cessante dos EUA respondeu aos protestos antirracismo em Minneapolis classificando os manifestantes de “bandidos” e dizendo que os distúrbios poderiam levar a “tiroteios”. A mensagem publicada no Twitter foi encarada como uma incitação à violência, o que levou a rede social a esconder o tweet e a colocar um aviso: “Glorifica a violência”. Já em outubro passado, o Facebook viu-se obrigado a retirar um post em que Trump também alegava, sem fundamento, que a Covid-19 era “menos letal” do que a gripe. O Twitter manteve a mesma publicação mas colocou uma nota: “Violou as regras do Twitter sobre a disseminação de informação enganadora e potencialmente prejudicial relacionada com a Covid-19”.
Mais recentemente, em novembro, durante o período das eleições à Casa Branca o Twitter escondeu e assinalou uma série de publicações em que Trump se declarava vitorioso na corrida presidencial e onde partilhava conteúdo que ainda não tinha sido verificado por fontes oficiais. “Algum ou todo o conteúdo partilhado neste tweet é controverso e poderá ser enganador em relação a uma eleição ou outro processo cívico”. Era esta a mensagem que aparecia a tapar os tweets.