A sessão desta quinta-feira do julgamento do caso Tancos, que seria a 19.ª sessão, foi cancelada por decisão do juiz depois de o advogado Ricardo Sá Fernandes ter informado o tribunal que testou positivo para a Covid-19. Sá Fernandes representa um dos 23 arguidos no processo, o major Brazão — um dos três elementos da Polícia Judiciária Militar que ainda não prestaram depoimento no Tribunal de Santarém.
Ricardo Sá Fernandes é auxiliado na defesa por colegas de escritório que estão também em isolamento, pelo que pediu ao juiz que preside o coletivo, Nelson Barra, para suspender o julgamento durante o mês de janeiro ou, pelo menos, nos 14 dias que as autoridades de saúde lhe disseram que devia manter-se em casa até poder voltar à barra do tribunal para defender o seu cliente.
Na decisão do juiz a que o Observador teve acesso, Nelson Barra pede ao advogado que em dois dias entregue o comprovativo médico que o atesta para poder tomar uma decisão fundamentada sobre o período de interrupção do julgamento. Até lá cancelou já a sessão desta quinta-feira. O tribunal pede também que informe o juiz com quem esteve no Tribunal de Santarém na sessão de 5 de janeiro, uma vez que a essa data já tinha tido um contacto de risco, “a fim de serem tomadas as providências consideradas adequadas junto das autoridades saúde para rasteio das cadeias de contágio”, lê-se.
Ricardo Sá Fernandes representa o major Brazão, que disse logo no início do julgamento que queria prestar depoimento, mas a defesa lembrou que ele ainda não tinha tido acesso a provas que estavam em discos rígidos no processo porque ninguém os conseguia abrir. O tribunal conseguiu as passwords através da Polícia Judiciária e desde então a defesa está a estudar o que ali está para preparar o depoimento.
Só depois o ex-diretor da Polícia Judiciária Militar, Luís Vieira, prestará declarações. Um outro arguido da PJM, Nuno Reboleira, que trabalhava no Laboratório da PJM, também guardou possíveis declarações para o final. O coletivo de juízes decidiu então começar a ouvir testemunhas até estes arguidos decidirem falar. Já foram ouvidos cerca de dez inspetores da Polícia Judiciária Civil. Para esta quinta-feira estava previsto ouvir mais oito.
No caso de Tancos julgam-se crimes de associação criminosa, tráfico e mediação de armas e terrorismo, denegação de justiça, prevaricação e abuso de poder. Estão a ser julgados os suspeitos do furto aos paióis nacionais de Tancos, mas a seu lado no banco dos réus estão também os elementos da Polícia Judiciária Militar e da GNR — que também colaborou — responsáveis por uma investigação que correu paralela à da PJ civil. Entre os arguidos está ainda o então ministro da Defesa, Azeredo Lopes.