Uma hora depois de se reunir na Câmara Municipal do Porto com Tiago Mayan Gonçalves, o candidato à Presidência da República apoiado pela Iniciativa Liberal, Rui Moreira reforçou, mais uma vez, a sua posição critica relativamente à data das próximas eleições. Pediu o adiamento, não foi ouvido, e vê “com muita preocupação” o que vai acontecer nos próximos dias, isto a poucas horas do Governo decretar novas medidas para um confinamento geral.
“Em primeiro lugar aquilo que hoje será anunciado é um confinamento extremamente violento. Não discuto o confinamento, naturalmente, são os especialistas que sabem, mas a verdade é que vai haver imensas pessoas que vão perder definitivamente os seus empregos, os seus negócios, vão ver as suas vidas afetadas, algumas delas irremediavelmente. Ao mesmo tempo, estamos a dizer que daqui a uns dias vai existir um dia em que nada disto é preciso, nada disto é necessário, nada disto faz sentido, porque nesse dia as pessoas vão exercer o seu direito de voto.”
Rui Moreira pede o adiamento das eleições presidenciais devido ao estado de emergência
O autarca do Porto não defende que não deveria haver eleições presidenciais, não acredita que a democracia deva ser suspensa, no entanto pede “bom senso” às forças políticas para que criem condições para as pessoas votarem “em total liberdade e segurança”, “não criando esta divergência entre a política e a vida dos cidadãos”. Para o independente, a solução passaria mesmo por adiar as eleições agendadas par ao próximo dia 24 de janeiro, isto porque o país está prestes a confinar novamente.
“Num estado de confinamento, das duas uma: ou precisamos de confinar as pessoas por razões de saúde pública ou não precisamos. Não podemos é confinar para umas coisas e não confinar para outras. Esta é uma medida de bom senso. Não consigo explicar ao meu barbeiro que provavelmente vai fechar atividade para sempre, porque ninguém lá pode ir, que daqui a uns dias vai haver eleições e nesse dia por acaso tudo pode funcionar para eleger alguém que pode ser eleito daqui a três ou quatro semanas, quando as coisas estiverem resolvidas. Não consigo entender, lamento. É uma questão de bom senso.”
Rui Moreira adianta que se inscreveu para o voto antecipado e acrescenta que o Ministério da Administração Interna ordenou que o Porto tivesse 16 mesas de voto, mas irá ter mais. “Vamos ter 22 mesas de voto no Centro Cultural e Desportivo, em Alves Redol, onde já temos 9 mil inscritos e acreditamos ter as condições de maior conforto e segurança para as pessoas. Fomos além das recomendações impostas, o que só demonstra o empenho da câmara municipal para que tudo corra bem.”
Votação nos lares representa “risco”, “irresponsabilidade” e “mau senso”
Depois de Eduardo Cabrita, ministro da Administração Interna, ter anunciado no passado domingo que os utentes dos lares vão poder votar, Rui Moreira enviou-lhe uma carta, onde se mostrou indignado com a falta de condições, uma vez que compete às autarquias recolher esse voto. “O grande problema que temos de saúde está no lares. Ir na terça e quarta feira a um lar considero que é imprudente”, refere o autarca, acrescentando que a cidade tem cerca de 80 lares, com 3.500 pessoas. Além dos lares, as autarquias serão também responsáveis pela recolha do voto junto das pessoas que estiverem confinadas em casa.
“Estamos a falar de um universo de 3.500 pessoas, fora as outras que estão confinadas em casa e a que também temos que ir. Eu ou os meus representantes vamos ter que chegar a um lar e equiparmo-nos, mas não posso impor às pessoas que vão comigo se vão usar ou não o equipamento de segurança, nem sei onde os vão buscar. Desde logo criamos um risco para as pessoas que estão nos lares, que vão ficar muito surpreendidas porque não puderam receber a filha, a neta, o bisneto, mas vão ter lá o presidente da câmara vestido de escafandro para recolher o seu voto.”
Outra das preocupações de Moreira é garantir o sigilo de voto. “Uma pessoa que está acamada? Não vou poder fazer a cruz por ela. Tudo isto me parece de uma total irresponsabilidade. Percebo que é muito importante haver eleições, ninguém gosta mais de eleições do que eu, agora tudo isto poderia ser prevenido e tratado com bom senso e está a ser tratado com um extremo mau senso.”
O autarca portuense confessa-se indignado e acredita que, em democracia, as leis são feitas pelos cidadãos e, por isso, podem ser alteradas. “Não podemos compreender como é que há tantas coisas que ainda não podemos fazer, nem sabemos quando as vamos poder fazer, e no entanto parece que a democracia é uma coisa diferente. Parece que para a democracia o vírus se suspende e infelizmente não é assim.”
Câmara do Porto aprova proposta de Rui Moreira para o adiamento das eleições presidenciais
Independentemente de não concordar com o processo de voto num ano atípico, marcado pela pandemia, a câmara do Porto “vai cumprir a lei” e apesar do presidente pertencer ao público de risco, garante que irá integrar uma das 30 equipas no terreno. “Pedi à comissão de trabalhadores para arranjar voluntários, não vou delegar alguém para aquilo que, para mim, represente um risco muito perigoso para a saúde.”
E se não houver voluntários suficientes para recolher a votação? Moreira responde: “Manda quem pode, obedece quem deve. O senhor ministro da Administração Interna que peça à Segurança Social para arranjar funcionários que façam isto. O Estado tem funcionários, que arranjem. Mas acho que vamos conseguir ter funcionários disponíveis em número suficiente.”
Sobre o facto de esta responsabilidade ser carregada pela câmaras municipais, o autarca do Porto diz já ser um cenário conhecido. “Tal como nos incêndios e em outras circunstancias, é muito fácil dar ordens, se corre bem foi o Governo, batem no peito ufanos, mas quando corre mal, foram os autarcas ou presidentes de junta que não souberem tratar dos assuntos.”