(artigo atualizado às 14h40 de segunda, dia 18 de janeiro)
Depois de um fim de semana de grande pressão, com filas de ambulâncias paradas em frente às urgências do Hospital de Santa Maria e a transferência de doentes para o Algarve, a situação não melhorou.
Santa Maria só tem três camas disponíveis na Unidade de Cuidados Intensivos (UCI), enquanto os diversos hospitais que fazem parte do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central viram o número de internamentos subir nesta segunda-feira. No domingo, o Hospital Beatriz Ângelo voltou a ter necessidade de transferir doentes para as estruturas do setor privado e público.
Neste último caso, a sobrecarga de doentes Covid-19 levou a administração hospitalar a ponderar a suspensão dos tratamentos de quimioterapia para os doentes oncológicos e a transferência de tal serviço para os privados. Tudo para conseguir libertar espaço para aumentar a capacidade instalada para doentes Covid-19.
Covid-19. Hospitais de Lisboa sob pressão já estão a enviar doentes para o Algarve
Pressão mantém-se no Santa Maria. Sobram 3 camas nos cuidados intensivos
A tendência verificada no sábado e no domingo no Santa Maria mantém-se. O hospital que integra o Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN) tem atualmente 216 doentes Covid-19 internados, dos quais 45 estão em Unidades de Cuidados Intensivos, assegurou fonte hospitalar. Sobram 3 camas em UCI. No domingo contavam-se 202 pessoas internadas, incluindo 43 em UCI.
O hospital conta agora com um total de 200 camas em enfermaria, sendo que 20 foram adicionadas no fim de semana e outras 20 foram disponibilizadas esta segunda-feira. Nos cuidados intensivos continuam a existir 48 camas, ainda que mais 10 estejam previstas para esta semana. Este fim de semana começou também a ser utilizada uma segunda estrutura com o objetivo de apoiar a urgência Covid-19.
Ainda no fim de semana, fonte hospitalar assegurou ao Observador que a alocação de camas para responder aos doentes Covid-19 tem implicado uma “reengenharia de processos internos”, com alguns serviços a serem ocupados com doentes Covid-19.
O diretor do CHLN, Daniel Ferro, disse no sábado que o Hospital de Santa Maria está em “sobre-esforço” e assegurou que a unidade já está “a tratar doentes para além da capacidade que instalou”. “Não somos o único hospital em que isto está a acontecer”. Fez ainda um alerta: a capacidade do sistema “está muito próxima do limite”.
Internamentos continuam a aumentar no Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central
Os internamentos por Covid-19 voltaram a aumentar no Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central — que reúne São José, Estefânia e Curry Cabral. Sobra apenas uma cama nas unidades de cuidados intensivos do CHULC. Contam-se até às 00h de segunda-feira, dia 18 de janeiro, 248 internamentos, quando no domingo eram 241 e no sábado 237.
Dos atuais 248 internamentos:
- 205 estão em enfermaria, sendo que 7 deles estão em pediatria;
- há 43 pessoas em cuidados intensivos (ontem eram 39), 0 em pediatria;
- registaram-se 7 óbitos até às 00h de segunda-feira.
A lotação do CHULC destinada à Covid-19 é de 253 camas, das quais 201 para adultos, 8 em pediatria e 44 em UCI. Os hospitais do CHULC que recebem doentes Covid-19 são: São José (urgência + intensivos), Curry Cabral (enfermaria + intensivos) e Estefânia (pediatria).
À semelhança de sábado e domingo, ainda que o número de camas Covid-19 na Estefânia seja “volátil”, a unidade de pediatria está praticamente lotada.
Beatriz Ângelo: 60% da capacidade total de internamento da unidade está alocada a doentes Covid-19
Atualmente, o Hospital Beatriz Ângelo tem 201 doentes Covid-19 internados: 182 estão em enfermaria e 19 em cuidados intensivos (14 deles estão ventilados). Considerando que o total de camas no Beatriz Ângelo é cerca de 400, isso significa que 60% da capacidade total de internamento da unidade está alocada a doentes Covid-19, explicou ao Observador fonte oficial do hospital.
A capacidade máxima corresponde à presente ocupação dado que o plano de contingência, nível máximo, previa apenas 66 a 68 camas. O Beatriz Ângelo está no nível máximo “desde abril”, segundo explicou ao Observador Artur Vaz, presidente do conselho de administração daquela unidade, no domingo. A disponibilidade das camas para doentes Covid e não Covid é gerida “diariamente”.
Às 08h de domingo, o hospital Beatriz Ângelo tinha 204 doentes internados com Covid-19, dos quais 19 em UCI. Nesse mesmo dia iam ser transferidos doentes para diferentes unidades: para o Hospital dos Lusíadas (1 doente), para o Hospital das Forças Armadas (ainda não definido o número) e para Portimão (5 doentes).
Não foi a primeira vez que o Beatriz Ângelo se viu obrigado durante no mês de janeiro a transferir doentes para o setor privado. Tal necessidade, já tinha surgido “nos últimos dias”.
Também até às 08h de domingo, as urgências Covid-19 tinham 101 pessoas no circuito respiratório. Ao Observador, Artur Vaz confirma casos de doentes a serem ventilados — quer ventilação invasiva, quer ventilação não invasiva — nas urgências daquela unidade.
“Estamos a ponderar se mantemos a atividade de quimioterapia”, revelou ainda, explicando a necessidade de libertar recursos humanos. A ideia em cima da mesa passa por transferir igualmente esse serviço para o setor privado. Em causa não estão cirurgias oncológicas designadas “life-saving”.