Fazendo uma analogia com o ténis, durante vários anos a Juventus fez da Serie A um jogo onde conseguia alguns breaks nos sets iniciais e depois geria o resto da competição entre poupanças mediante as outras provas em que a equipa estava inserida. Foi assim com Antonio Conte, foi assim com Massimiliano Allegri, em gande parte foi assim com Maurizio Sarri (com menos umas quebras de serviço, vá). Não foi assim desde que Andrea Pirlo assumiu o comando dos bianconeri. Tanto que, após a derrota caseira com a Fiorentina, o conjunto de Turim ficou à distância de dez pontos do primeiro lugar do AC Milan, mesmo com uma partida a menos frente ao Nápoles. As regras do jogo tinham mudado e, em vez de beneficiar de set e match points, a Vecchia Signora apenas se defendia.

Daí para a frente, com mais ou menos dificuldades, correu bem: a Juventus ganhou à Udinese (4-1), foi vencer fora o AC Milan (3-1) e derrotou depois o Sassuolo (3-1), mantendo-se como a defesa menos batida e aproximando-se dos quatro melhores ataques da prova. No entanto, a pressão e a margem de erro nula mantinha-se, enfrentando mais uma saída sempre de risco a Giuseppe Meazza para defrontar um Inter a três pontos do AC Milan e com quatro de avanço sobre os bianconeri tendo mais um jogo. E com Ronaldo, que nos últimos três jogos marcara outros tantos golos e fez uma assistência, a ter um duelo particular com o segundo melhor artilheiro, Lukaku.

“O Zlatan Ibrahimovic sempre disse que me considerava um ídolo, um jogador único mas, mesmo que não tivesse tido lesões, eu não iria jogar até aos 40 anos. Se o Cristiano Ronaldo vai jogar até essa idade? Não sei mas acho que vai tentar. Ele está diferente do jogador que via no Real Madrid. Ronaldo sabe agora gerir melhor o esforço. Viram o que fez frente ao Sassuolo? Mesmo estando na sombra todo o jogo, pode ferir qualquer equipa num minuto”, destacou esta semana Ronaldo Fenómeno, internacional brasileiro e antigo melhor do mundo que jogou no Inter e no AC Milan, numa entrevista à Gazzetta dello Sport. “Ronaldo e Lukaku são dois jogadores muito diferentes mas têm algo em comum: quando tens jogadores tão fortes, é difícil não depender deles”, acrescentou.

“Como vai acabar o clássico? 1-0, com golo de CR7. Mas será apaixonante. Será importante para o título mas atenção ao AC Milan. Tem conquistado sempre bons resultados, é primeiro e não vai parar. A Serie A é dura. Cristiano Ronaldo é o número 1 dos rapazes de hoje em dia, tal como eu o era para os adeptos da Juventus durante os anos 80 e Sivori antes de mim. Ele e Messi são dois fenómenos totalmente diferentes mas têm sido dois jogadores maravilhosos nos últimos 15 anos”, apontou Michel Platini, também ele internacional francês e antigo melhor do mundo mas que em Itália representou apenas a Vecchia Signora. Tudo a apontar no mesmo sentido mas, como sempre, com uma ou outra exceção. “Seria uma bela dupla, o Lukaku com o Cristiano. Como adepto do Inter, penso que o Lukaku é um jogador mais decisivo. É indiscutível. Ronaldo foi um grande jogador mas parece-me um pouco decadente”, apontou o ex-internacional italiano Roberto Boninsegna.

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“Ninguém em Itália pode dizer que está ao nível da Juventus. Eles representam o nível máximo depois de terem dominado tudo nos últimos anos. É certo que nós estamos a ficar mais próximos mas eles também estão a ficar mais fortes todos os anos. Por isso, é uma ilusão pensar que a diferença está a ficar menor”, dizia Antonio Conte no lançamento do jogo. “Sabemos que não podemos errar. Os jogos agora são difíceis, devem ser jogados nos detalhes mínimos. Aprendi muito com o Antonio Conte, estou grato porque me ensinou muitas coisas e fez com que depois quisesse seguir esta carreira mas agora seremos adversários”, respondia Andrea Pirlo. Essa batalha tática foi outro dos aliciantes do encontro grande da jornada em Itália, com vitória clara para Conte em relação a Pirlo. E foi esse triunfo que deu possibilidades para que Lukaku tivesse ainda mais protagonismo do que já teria antes de um clássico e que Ronaldo fizesse um jogo tão mau ou pior do que a restante equipa. Platini falhou e por muito.

Com estratégias que entroncavam muito nas posições ocupadas na tabela classificativa, a Juventus esteve melhor nos minutos iniciais, tendo maior qualidade de passe num meio-campo onde entravam Betancur, Rabiot e Ramsey como falso médio esquerdo tendo Chiesa mais aperto à direita no apoio aos avançados Ronaldo e Morata, e chegou mesmo a marcar pelo português, numa insistência após remate travado por Handanovic que apanhou Chiesa em posição irregular antes da assistência (10′). No entanto, o Inter estava cada vez mais confortável numa posição de maior expetativa. E melhor ficou quando conseguiu chegar à vantagem: boa jogada de combinação pela direita, cruzamento largo de Barella e cabeceamento sem hipóteses de Vidal ao segundo poste (12′).

A perder num jogo onde estava obrigado a ganhar, aquilo que se esperava da Juve era uma atitude dominadora, capaz de sufocar a saída de bola do Inter e explorando os espaços que existiam nos corredores laterais perante um maior povoamento do centro do terreno; aquilo que se viu, ao invés, foi uma equipa perdida em campo, sem ter a capacidade de superar a linha defensiva contrária criando oportunidades e sobretudo permeável nos momentos de transição defensiva, algo que se viria a revelar fatal perante a equipa italiana que melhor joga dessa forma: Vidal obrigou Szczesny a uma intervenção complicada (18′), Lukaku teve duas arrancadas fortíssimas que criaram oportunidades de perigo (23′ e 38′), Lautaro Martínez não aproveitou uma recarga para marcar (31′). O golo era algo quase inevitável mas surgiria apenas no início do segundo tempo, com Bastoni a ter um fantástico passe longo para zona entre Chiellini e Frabotta que isolou Barella para o remate sem hipóteses ao ângulo (52′).

Pirlo tentou uma última mexida tática, colocando Bernardeschi como falso lateral esquerdo que ia trocando de posição com Chiesa, promoveu a entrada de McKennie para o meio-campo e lançou Kulusevski como ala direito mas nem por isso o jogo ofensivo da Juventus melhorou e continuou a ser o Inter a ter as melhores oportunidades de golo. Aliás, a certa altura dava mesmo ideia que sempre que os nerazzurri passavam o meio-campo, podiam chegar ao 3-0 e que sempre que os bianconeri chegavam ao último terço não havia perigo à vista, com uma única exceção num lance em que Chiesa ganhou espaço na área mas o remate foi bem defendido por Handanovic (86′). Quando os campeões não podiam falhar, mostraram a sua pior face. E o 2-0 acabou por ser curto…