O sexteto Chão Maior cumpre a estreia discográfica no dia 29, com Drawing Circles, um álbum de experimentações sobre melodias, tempo e artes visuais, como contou o trompetista português Yaw Tembe, à agência Lusa.
Chão Maior é o mais recente projeto de Yaw Tembe, congregando cinco outros músicos com quem ambicionava trabalhar há algum tempo de uma forma mais consistente e que, musicalmente, se atravessam no jazz e no rock: Norberto Lobo (guitarra), João Almeida (trompete), Yuri Antunes (trombone), Leonor Arnaut (voz) e Ricardo Martins (bateria).
“O projeto surge de algumas composições que eu tinha preparado, pensando num quarteto de sopros; composições essas que vieram de várias gravações que fiz com um gravador portátil, pequenas melodias que fui encontrando através do trompete”, recordou.
A ideia inicial de fundar um grupo de sopros deu lugar a um ensemble mais alargado, juntando guitarra, voz e bateria, com a intenção de trabalhar a elasticidade temporal de uma melodia em cada tema composto.
“A música foi composta a partir de pequenos fragmentos, que podem ser vistos como pequenos ciclos ou ‘loops’, em que a música se vai desenrolando. De repente uma composição de dois minutos pode ser tocada durante uma hora. E dentro desse fragmento surgem improvisações. (…). A coisa só faz sentido com essa atitude mais livre sobre a composição”, explicou o músico à Lusa.
Drawing Circles, que apresenta seis temas intitulados “Círculo” e “Passo”, foi gravado em 2019 no Convento de São Francisco, em Montemor-o-Novo, na sequência de uma residência artística do coletivo, e teve algumas apresentações ao vivo, ainda antes da pandemia.
“Nós já estávamos a preparar o disco em 2018, já havia algumas composições e alguns ensaios. E por diversos motivos, desde a demora a fechar a mistura, meteu-se a covid-19; só agora estamos a conseguir pôr o disco cá para fora”, explicou Tembe.
O trompetista, que assinou outros projetos na música portuguesa, como Sirius e Zarabatana, acrescenta ainda que, por todo o processo de composição, Drawing Circles é o que está mais próximo das artes plásticas, pela relação com a forma dos círculos e pelo conceito de ‘deriva’.
“Mesmo a origem das composições teve muito na base passeios ou derivas, que estão ligados com o meu interesse em vários movimentos das artes plásticas e da Sociologia, como por exemplo, o grupo situacionista” e Guy Débord, disse o músico à Lusa.
Yaw Tembe tem 32 anos, nasceu na Suazilândia, mas vive em Portugal desde a infância e é cidadão português “há pouco tempo”.
Tem formação em Escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e, em Jazz, pela Escola Superior de Música, de Lisboa.
Chão Maior tem dois concertos de apresentação de “Drawing Circles”, que ainda se mantêm agendados, a 13 de fevereiro no gnration, em Braga, e 19 de fevereiro na Culturgest, em Lisboa.