De Alcanena a Mação, a rota do Médio Tejo tem histórias, tesouros e aventuras de outros tempos por descobrir. Não somos nós que lhe vamos contar, são os monumentos e locais históricos que pintam esta reportagem fotográfica. Bem vindos ao Médio Tejo, a terra que conta a nossa História. Bem no Centro de Portugal.
Abrantes
São muitos os recantos a descobrir no concelho de Abrantes, um belíssimo território situado numa grande encosta, que respira história e deslumbra com os seus monumentos religiosos: ora, é na cidade de Abrantes que podemos apreciar um dos elementos mais importantes de arquitetura militar, o Castelo de Abrantes, que nos permite voltar ao passado e conhecer as nossas origens – reza a lenda que foi conquistado aos Mouros por D. Afonso Henriques no ano 1148. Assim que conhecer a fortaleza não se vá logo embora: valerá a pena parar uns minutos para deliciar-se com a vista panorâmica de 360º sobre a cidade. Depois sim, desça até lá abaixo, ao centro histórico, e conheça o núcleo religioso de Abrantes, através da Igreja de São João Baptista, construída no século XIV, e da Igreja da Misericórdia, que remonta ao século XVI. Voltar ao passado pode ser divertido: a curiosidade é o único requisito. Importa sublinhar que a Igreja de São Vicente também merece uma visita pelo seu estilo barroco, do século XVIII – garantimos que vale a pena. E se quer conhecer melhor a história deste concelho, sugerimos uma visita ao Museu Metalúrgica Duarte Ferreira.
Alcanena
Em Alcanena, a História conta-se através de dois produtos artesanais muito antigos, que atualmente são considerados bens de luxo e mantêm o charme de sempre. A indústria evoluiu, as máquinas modernizaram-se, mas a tecelagem à mão e os materiais utilizados nas centenárias e famosas Mantas de Minde continuam a diferenciar este produto de origem portuguesa de tantos outros. É impossível falar de Alcanena sem também referir a indústria de Curtumes, é tão antiga como a história e o legado desta terra, a par da importância económica, visto que durante muitos anos foi este o sustento destas gentes.
As Mantas de Minde, tecidas artesanalmente com lã 100% de ovelha, são uma atividade que começou a partir dos finais do século XIX. No século XX, as mulheres de Minde, em teares artesanais, teciam as mantas que os homens se encarregavam de vender por todo o país. Hoje, poderá ver estas Mantas de Minde no Centro de Artes e Ofícios Roque Gameiro, em Minde, no concelho de Alcanena. Pode ver os vários tipos de mantas que eram e continuam a ser feitas, e pode ainda visitar o Atelier de Tecelagem, detentor de todo o equipamento necessário para fabricar as mantas.
Também a indústria de Curtumes – que trabalha o couro -, merecem a nossa atenção numa visita a Alcanena. Valerá a pena conhecer a empresa familiar Couro Azul, que há 78 anos trabalha o couro com paixão e dedicação, assumindo um compromisso com as melhores práticas ambientais.
Por estes lados, existe também um espaço de divulgação científica e tecnológica que pretende valorizar o património natural da nascente do rio Alviela e da zona que o rodeia: falamos do Centro Ciência Viva do Alviela – Carsoscópio. Ora, ainda no município de Alcanena, valerá a pena fazer uma paragem no Artspace, um espaço e projeto inovador que junta arte e indústria, alavancado na indústria dos Curtumes.
Constância
Chegou o momento de falarmos sobre a vila ribeirinha de Constância, também conhecida por Vila Poema e onde o Tejo e o Zêzere se encontram em profunda tranquilidade e dão vida a esta vila de casinhas brancas. Historicamente é um local que se reergueu vezes sem conta: conquistada aos mouros em 1150, foi D. Sebastião, em 1571, que, através de uma carta, decidiu tornar este território numa vila. Vários registos dão também conta de atos de vandalismo durante as Invasões Francesas. Contudo, o presente mostra-nos como Constância soube tão bem recuperar o património para que hoje possamos conhecer os seus segredos: é o caso da Igreja Nossa Senhora dos Mártires, situada na parte mais alta da vila, e da Torre do Relógio e a sua maravilhosa vista panorâmica. É no Parque Ambiental de Santa Margarida, com seis hectares, que encontramos um cenário digno de ser pintado por grandes mestres. É no parque que está localizado o Borboletário Tropical de Constância: não está nos trópicos, apesar das condições quentes e húmidas deste espaço nos levarem para lá através das sensações que proporcionam, está em Constância e prestes a entrar num parque que mais parece encantado com várias espécies de borboletas a voar. Queremos destacar ainda o Jardim-Horto de Camões, virado para o Zêzere, e casa de 52 espécies de flora referidas por Camões na sua obra: um jardim-homenagem a um dos nossos grandes poetas.
Entroncamento
Não se deixe enganar quando escrevemos que o Entroncamento é o segundo município mais pequeno do País: a beleza e o interesse não se mede pelo tamanho da área. Tesouros nacionais, segredos que trilharam a história do transporte ferroviário em Portugal, máquinas que impõem respeito e experiências de realidade aumentada, à parte de várias exposições temporárias, é o que poderá encontrar no Museu Nacional Ferroviário, o ex-libris do Entroncamento. Antes de avançarmos, queremos partilhar com o leitor uma dica especial: o Parque Verde do Bonito é a maior zona verde do concelho e deslumbra pela serenidade dos espaços verdes muito amplos, abraçados por uma grande ribeira. É o espaço ideal para praticar atividades ao ar livre e fazer trilhos pedestres.
Ferreira do Zêzere
É uma das sete maravilhas do nosso país, também chamada de Península Encantada ou Terra Mítica dos Templários: falamos da Aldeia de Dornes, uma pequeníssima povoação de casinhas brancas e de pedra, com uma beleza sem igual. Localizada no topo de uma península e envolvida pelas águas do Rio Zêzere, é impossível dissociar Dornes da história dos Templários em Portugal. A Torre Templária Pentagonal, um exemplo único da arquitetura medieval portuguesa, é um dos símbolos mais importantes desta vila: foi construída para facilitar a defesa do Tejo contra os Mouros, com vista a assegurar o poder da Ordem dos Templários em território português. Há mais mistério aqui, mas isso deixamos em aberto.
Mação
Mação conta-nos histórias de outros tempos sobre tesouros arqueológicos que ainda hoje podemos apreciar, dado o belíssimo estado de conservação. Trata-se de uma zona paleontológica e arqueológica muito rica e que nos permite, como um puzzle, reconstruir momentos históricos a que nenhum leitor vivo assistiu. Além de encontrarmos fósseis em todas as freguesias de Mação, o maior destaque que queremos fazer é do balneário romano em Ortiga, onde podemos observar parte dos muros que constituem a estrutura principal, o sistema de canalização antigo que fornecia água através da ribeira de Eiras. Merece ainda referência o rio Ocreza, onde vários trilhos nos levam a conhecer antiquíssimos painéis com pinturas rupestres, obras de arte com dez a quinze mil anos; e a ribeira de Eiras, em Ortiga, muito vasta e com pequenas quedas de água escondidas entre rochas e vegetação. Não se esqueça de conhecer melhor a história de Mação no Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado Vale do Tejo – garantimos que vale a pena.
Ourém
Duas razões para visitar Ourém – escolhemos duas porque queremos guardar parte da sua atenção para outros locais fascinantes: o majestoso Castelo de Ourém, localizado na vila medieval, e monumento nacional desde 1910. Também conhecido por Paço dos Condes de Ourém, é especial por ser considerado uma das obras de arquitetura militar mais inovadoras do século XV, no nosso país. Um castelo antigo que inclui sistemas de defesa muito modernos para a altura em que foi concebido. Também Fátima, a cerca de 10 quilómetros de Ourém, é uma paragem e local de culto incontornável. É aí que está localizado um dos templos marianos mais visitados de todo o mundo, a Capelinha das Aparições. Poderá ainda visitar a Basílica de Nossa Senhora do Rosário e a Basílica da Santíssima Trindade, que todos os anos recebe milhões de visitantes portugueses e estrangeiros.
A fé, o sacrifício e a compensação – estes são os caminhos que nos levam a Fátima
Sardoal
No Centro de Portugal, eis o concelho de Sardoal: localizado entre o Alentejo e a Beira Baixa, é casa de um património histórico, cultural, e especialmente religioso riquíssimo. A Igreja Matriz com os belíssimos Quadros do Mestre Sardoal, os azulejos de Gabriel Barco e o altar-mor de talha dourada estilo Joanino, são três motivos que fazem valer a pena percorrer o caminho até lá. Contrariamente aos locais que referimos neste artigo, até agora grande parte das vilas cresceram em volta de um castelo ou forte, contudo a Vila do Sardoal merece toda a nossa atenção porque aqui aconteceu o contrário e isso é bonito de se observar: esta pequena vila foi construída de baixo para cima, desde a ribeira até ao ponto mais alto da colina onde se encontra o Convento de Santa Maria da Caridade, com a sua fachada branca com apontamentos amarelo muito vivo, e edificada em 1571 pelos monges Franciscanos da Província da Soledade. A Capela quinhentista de São Sebastião é também local obrigatório de paragem, admirada ainda hoje pelos combatentes da Guerra Colonial.
Sardoal é casa de um vastíssimo património religioso e fica aqui escrita uma última dica: durante a Semana Santa, as capelas e igrejas deste concelho vestem-se de flores. Como? Pergunta o leitor. Estes locais religiosos são decorados com os tradicionais tapetes feitos à base de pétalas de flores e verduras naturais, com desenhos e motivos que fazem jus à época. É bonito de se ver!
Sertã
Eis mais um município cheio de história. Comecemos pelo nome. Sabe o que significa Sertã? Frigideira. É um nome peculiar, concorda? Explicamos já o porquê: nas lutas que ocorreram para conquistarem Portugal, houve um ataque romano ao castelo da Sertã – durante o qual o chefe do castelo acabou por falecer. A sua mulher, ao saber da triste notícia, e percebendo que o inimigo estava a aproximar-se, subiu às ameias com uma enorme frigideira quadrada cheia de azeite a ferver e lançou o azeite sobre os invasores. É esta a história do nome da vila e, já que falamos no Castelo da Sertã, sugerimos uma visita, que dar-lhe-á uma vista privilegiada sobre a vila, lá bem no alto. Visite também a ponte romana, ou filipina, de grande importância estratégia durante as Invasões Francesas. Aproveite o passeio pela ponte e descanse na esplanada dos cafés que se encontram lá perto e que lhe dão uma vista tranquila, perfeita para uma tarde solarenga.
Tomar
Chegámos a Tomar, a mais conhecida cidade templária de Portugal, com a “jóia da coroa”. Sabe do que falamos? Do Convento de Cristo, o importante monumento do século XII, designado Património da Humanidade pela UNESCO, em 1983. O Convento inclui várias edificações históricas como a Charola, considerada a igreja original dos templários, a Janela do Capítulo com as suas características manuelinas e com ornamentos marinhos que honram a época dos descobrimentos, os claustros quatrocentistas, a igreja manuelina e o convento renascentista. Única no mundo é também a Festa dos Tabuleiros, a celebração mais importante da cidade de Tomar que acontece de quatro em quatro anos. Trata-se de uma das festas mais antigas do país: também conhecida por Festa do Espírito Santo, é no início do mês de julho que milhares de pessoas se juntam para assistir e participar na Procissão dos Tabuleiros que percorre as ruelas da cidade. Marque já na agenda: a próxima festa é em julho de 2023.
Valerá também a pena visitar a Mata Nacional dos Sete Montes, situada no centro da cidade. É o principal parque de Tomar e conta com 39 hectares de plantas e jardins onde se pode perder numa tarde solarenga que pede leituras descontraídas. E que tal, como última sugestão, visitar o Aqueduto dos Pegões, construído com a finalidade de levar água até ao Convento de Cristo e que conta com seis quilómetros de extensão. Grande, não?
Torres Novas
Não podemos dissociar Torres Novas de vários episódios da História de Portugal, fundada em 1190 pelo rei D.Sancho I. É precisamente no coração da cidade, junto à margem do rio Almonda, que o antigo Castelo Medieval de Torres Novas se ergue entre a vegetação: considerado monumento nacional desde 1910, as suas muralhas guardam o interior de uma estrutura bem conservada com onze torres de vigia e um jardim muito aprazível. A última sugestão é só para os mais corajosos: aventure-se por duas grutas, a Gruta das Lapas e a Gruta da Nascente, ambas em Torres Novas. Se quer conhecer realmente a história deste município, aventure-se no Museu Municipal Carlos Reis, onde pode ver objetos de interesse histórico e arqueológico, pinturas e curiosidades locais. Depois, leve os mais pequenos ao Monumento Natural das Pegadas dos Dinossáurios da Serra D’Aire, que tem um grande e importantíssimo registo do período Jurássico. E, por fim, percorra o património monumental que Torres Novas tem e visite as ruínas romanas e as Igrejas da Misericórdia, de Salvador, Santiago e São Pedro e perca-se na vastidão e beleza que cada uma delas nos traz.
Vila de Rei
É a 600 metros de altitude e com uma visão panorâmica sobre Vila de Rei e a linha do horizonte, que encontramos o marco de pedra que nos avisa do seguinte: é aqui que se localiza o centro geodésico de Portugal. Valerá a pena conduzir o carro até perto deste ponto geográfico e apreciar não só a vista do miradouro mas também interiorizar a ideia de estar no centro de Portugal. É belíssimo o que observamos lá de cima, garantimos! Valerá a pena visitar também o Museu da Geodesia, único no país e que mostra o legado científico e histórico deixado por grandes nomes da área das Ciências. E, claro está, teríamos de sugerir uma visita à Aldeia de Xisto de Água Formosa, que ainda mantém evidências de tradições antigas – recue no tempo nesta aldeia!
Vila Nova da Barquinha
É a “princesa do Tejo”, por fim, a nossa Vila Nova da Barquinha. A história está escrita no imenso património histórico e cultural como o famoso Castelo de Almourol, suportado por enigmas e mistérios e uma aura mística ímpar. Em pleno Rio Tejo, o castelo é um dos monumentos mais emblemáticos do país, não só porque foi edificado numa ilhota mas pela história complexa que o envolve. Não vamos ser nós a desfazer-lhe o prazer de descobrir por si as aventuras que tornam este local um dos mais especiais de Portugal. É ir lá. (e já agora, anote: reza a lenda que existe uma passagem secreta que passa por baixo do rio Tejo). Aproveite para visitar o Centro de Interpretação Templário Almourol, para recuar no tempo numa história fascinante, e termine a tarde com um passeio pelo Parque de Escultura Contemporânea Almourol!
Chegámos ao fim da viagem: este foi um roteiro por treze municípios que contam histórias de outros tempos, que nos mostram a bonita ligação entre o passado e o presente; de onde viemos, onde estamos. No Médio Tejo há tanto por descobrir. Abrimos-lhe a porta, agora é o leitor que decide se quer entrar. Esperemos que sim.
Saiba mais sobre este projeto
em https://observador.pt/seccao/centro-de-portugal/