Cerca de trinta ambulâncias formaram na noite desta quarta-feira uma longa fila à porta das urgências do Hospital Santa Maria. Mantiveram as luzes de emergência ligadas naquilo que a Liga de Bombeiros Portugueses, em declarações ao Observador, diz ter sido uma “manifestação espontânea”.

Num vídeo divulgado nas redes sociais vê-se a extensa fila de veículos de resposta médica à espera de serem atendidos na urgência de Covid-19 do hospital lisboeta. Rui Ramada da Silva, da Liga de Bombeiros Portugueses, explica que o protesto não teve “qualquer enquadramento especial” e deveu-se ao facto de os bombeiros em questão estarem “ali há várias horas sem comer”, realidade que tem sido “recorrente” e sobre a qual ” o Hospital [Santa Maria] já devia ter feito alguma”. A SIC também avançou que entre as queixas dos bombeiros estavam os longos períodos de espera para serem atendidos no referido hospital, realidade que Ramada da Silva diz prejudicar não só os doentes mas o resto da comunidade — “Se estão ali presos não conseguem acorrer a outras necessidades da população”.

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O Observador sabe que entretanto acabou por ser mobilizado um veículo de apoio logístico, de um corpo de bombeiros do distrito de Lisboa, que prestou o devido apoio alimentar.

Contactado pelo Observador, o Hospital de Santa Maria não quis comentar a situação. Apesar disso, num comunicado enviado durante o dia de ontem, explicou que o seu serviço de urgência Covid-19 tem registado “picos de afluência” com utentes residentes na área de influência do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte mas os mesmos são muito agravados por utentes residentes nas áreas de influência de outros hospitais — “70% dos doentes hoje [quarta-feira] atendidos na Urgência de Santa Maria são provenientes das áreas de outros hospitais.”

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O Santa Maria explica ainda que, de todos os utentes transportados de ambulância, “só 15% apresentam situações que justificam o recurso a uma urgência hospitalar”, sendo os restantes 85%  “triados com prioridade verde ou azul”. Estes dados representam uma “sobrecarga evitável”, na medida em que “o local de atendimento previsto para estas situações [não urgentes] são os Centro de Saúde, que dispõem de um atendimento específico para estes doentes.”  É feito um apelo para que a população “só recorra ao transporte de ambulância em situações justificadas e se dirija ao Centro de Saúde nas situações de ausência ou sintomas ligeiros”, isto para permitir que os recursos hospitalares, já “em situação de grande sobrecarga”, se concentrem no tratamento dos doentes com situações de maior gravidade. A Urgência Covid do Hospital de Santa Maria, explicam ainda no comunicado, “encontra-se em processo de ampliação de 33 para 51 postos de atendimento em simultâneo”, iniciativa que deverá ficar concluída “no próximo fim de semana”

Jaime Marta Soares, o presidente da Liga de Bombeiros Portugueses, esclareceu que o facto de apenas 15% das pessoas que estão nas ambulâncias precisarem de tratamento urgente não é da responsabilidade dos bombeiros. “Eles vão ao chamamento feito pelo 112 que depois passa pelo CODU”, esclarece. Os bombeiros “verificam os sinais vitais e o estado do doente” e o mesmo é depois comunicado ao CODU, que é quem “define para onde vão”, não os bombeiros. “Se são só 15% são realmente urgentes, os restantes não vão lá parar por livre arbítrio dos bombeiros, foram por indicação do CODU”, refere.

Sobre a questão logística da alimentação, Jaime Marta Soares esclarece que, no que toca ao doente, essa responsabilidade é exclusiva “da área social dos hospitais”. Apesar do apoio prestado aos bombeiros também poder ser visto pela mesma área, o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses explica que a responsabilidade é do comando da associação de cada operacional. “São eles que têm ou de render as tripulações que já estão há horas à espera de serem atendidas, ou a desbloquear o apoio logístico [entre eles o alimentar] necessário”, explica. O papel da Proteção Civil, afirma, pode passar apenas por ressarcir as corporações de bombeiros pelos gastos extraordinários que têm tido nos últimos tempos, “já que não é o Ministério da Saúde a fazê-lo”.

O Observador questionou a Autoridade Nacional de Proteção Civil sobre a sua posição neste assunto mas não conseguiu ter uma resposta a tempo da publicação deste artigo.