Continuam a chegar ecos de uma noite particularmente tensa na reunião da direção alargada do CDS. Depois do desafio de Adolfo Mesquita Nunes, Francisco Rodrigues dos Santos resistiu ao primeiro embate e não apresentou a demissão. Ainda assim, e mesmo fazendo a defesa dos méritos da sua liderança, o presidente do partido não escondeu algum desgaste.

De acordo com o que o Observador conseguiu apurar, o líder do CDS queixou-se daquilo que considera serem as resistências permanentes de uma ala associada a Paulo Portas que nunca aceitou a nova liderança.

“Não tivemos oportunidade de renovar o partido com queríamos. Nunca fomos aceites como legítimos dirigentes do CDS. Para algumas alas, nunca fomos aceites. Fomos vistos como usurpadores do poder. O nosso caminho foi difícil, mas devemos orgulhar-nos dele”, disse.

Apesar de ter dito, como explicava aqui o Observador, que entendia que não era tempo de convocar um congresso extraordinário e que tinha legitimidade para continuar no cargo, e de ter recebido incentivos para continuar, Rodrigues dos Santos manteve tudo em aberto. “Há uma altura em que as pessoas têm de ter amor próprio”, desabafou.

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Pergunto-me se valerá a pena. Confesso-vos que não sei se tenho disponibilidade para isto. Não sei se o partido merece um sacrifício destes. Nunca fui tratado na vida como estou a ser tratado pelos militantes do CDS. Acho que, mesmo conseguindo inverter a situação, saturei.”

Na sua última intervenção, depois de um reunião que durou cerca de sete horas, Francisco Rodrigues dos Santos chegou mesmo a nomear Adolfo Mesquita Nunes para dizer que, se abandonar a liderança, não será por causa da opinião do antigo vice-presidente do CDS.

“Se eu tiver a ideia de não continuar, não é pelo artigo do Adolfo Mesquita Nunes. É porque quero sair. É porque não estou para isto”, afirmou.

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Mais avisos à navegação

Descrita como uma reunião onde não se ouviram críticas lancinantes a Francisco Rodrigues dos Santos — a Comissão Política Nacional está, genericamente, com o atual líder do partido –, não faltaram alguns avisos à navegação.

Pedro Pestana Bastos, que, com Anacoreta Correia, tem o Movimento Alternativa e Responsabilidade (MAR), crónicos opositores internos de Paulo Portas, chegou mesmo a desafiar Francisco Rodrigues dos Santos a ouvir o partido e a refletir se é a pessoa indicada para levar o mandato até ao fim, avisando que não valia a pena enfiar a cabeça na areia.

Ainda assim, não faltaram vozes a defender Francisco Rodrigues dos Santos. “Não é com os meninos de Portas e de Cristas que lá vamos“, atacou Miguel Mattos Chaves. Houve alguns incentivos para que Rodrigues dos Santos não saísse sem ir à luta.

Entretanto, segundo o Expresso, depois de Filipe Lobo D’Ávila, líder do grupo Juntos pelo Futuro e primeiro vice-presidente do partido, e de Raúl Almeida e Isabel Menéres Campos, terem deixado a direção do partido, também Paulo Cunha de Almeida e José Carmo deixaram a Comissão Política Nacional, enquanto José Maria Seabra Duque e Tiago Leite decidiram sair Gabinete de Estudos dos democratas-cristãos. Os quatro são próximos de Lobo D’Ávila.

Apesar de ter perdido apoios importantes ao longo da semana, e de ter visto várias personalidades do partido a dizerem que não tinha condições para continuar, o líder do CDS decidiu não apresentar para já a demissão e também não mostrou abertura para convocar por iniciativa própria um congresso extraordinário.

Para já, o líder do CDS aceitou o desafio de Adolfo Mesquita Nunes e vai convocar um Conselho Nacional, órgão máximo entre congressos, para discutir o tema.

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