Francisco Rodrigues dos Santos vai pôr a sua liderança à prova. O presidente do CDS convocou o Conselho Nacional do partido para as 11 horas de sábado e vai mesmo apresentar uma moção de confiança, tal como tinha escrito o Observador na segunda-feira. Será o embate decisivo entre Rodrigues dos Santos e Adolfo Mesquita Nunes.

A decisão foi comunicada ao núcleo duro do partido, numa reunião por videoconferência, já perto do final da tarde. O objetivo de Rodrigues dos Santos é perceber se tem ou não condições para ficar à frente do CDS.

De acordo com o que o Observador conseguiu apurar, Francisco Rodrigues dos Santos justificou esta decisão por entender que “não havia nenhum motivo forte” que o “impedisse de concluir o projeto” para o qual foi mandatado há um ano.

“Pela minha formação, custava-me muito a atirar a toalha chão. O nosso projeto merecia mais do que isso”, defendeu.

Perante a sua Comissão Política Nacional (CPN), a direção alargada do partido, Rodrigues dos Santos prometeu a “reestruturação da equipa” que lidera o CDS, chegando mesmo a falar em “personalidades” que querem “reativar a sua militância no partido”. Quem? O presidente do CDS não revelou.

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Rodrigues dos Santos dispara contra Mesquita Nunes

Depois da reunião com a sua Comissão Política Nacional, o líder do CDS deu uma conferência de imprensa a confirmar que ia de facto avançar com uma moção de confiança. Nas entrelinhas, o democrata-cristão fez várias críticas ao seu adversário e aos restantes opositores internos sem nunca os nomear.

Primeiro recado: “[No pior momento do CDS] não abandonei o meu partido. Não me escondi. Apresentei-me a votos e fui eleito pelos militantes do CDS para um mandato de dois anos. Sou daqueles que respeita e cumpre a vontade dos militantes do CDS”. Depois de muito se especular, Adolfo Mesquita Nunes acabou por não ir a votos no congresso de há um ano — foi João Almeida quem acabou por protagonizar a candidatura mais próxima da liderança de Assunção Cristas.

Segundo recado: “Quero reerguer o partido que o rumor anterior deixou desacreditado e arruinado”. Adolfo Mesquita Nunes foi vice-presidente de Assunção Cristas até deixar o CDS para ser administrador não executivo da Galp.

Terceiro recado: “Os portugueses querem e necessitam dos partidos que sejam oposição. Não querem tiros nos pés nem golos na própria baliza”. O líder do CDS tenta assim responsabilizar Mesquita Nunes pela fragilização do partido num momento crucial para a oposição a António Costa

Quarto recado: “Acredito neste caminho, acredito no CDS, acredito nas pessoas de valor que me acompanham e nas que se vão juntar”. Tal como fizera durante a reunião da sua CPN, Rodrigues dos Santos voltou a sugerir que há personalidades do partido que se vão juntar à sua direção.

Quinto recado: “Comigo haverá sempre CDS, sem mutações nem desvios de identidade. Comigo o CDS continuará a ser um partido nacional, e nunca se reduzirá a um pequeno grupo da capital. Comigo o CDS continuará a erguer um muro entre a política e os negócios”. Mais uma vez, Rodrigues dos Santos volta a sugerir que há um grupo do partido, presumivelmente associado à ala ‘portista’ e próxima de Adolfo Mesquita Nunes que controlar o partido a partir de Lisboa e que é permeável a outros interesses que não políticos.

“Estou pronto para confirmar a legitimidade política da minha liderança, no tempo e no lugar próprios. Eu não desisto do meu partido. Eu fico convosco. Há muita estrada para andar. Vale a pena continuar a acreditar”, rematou.

O que vai acontecer

O líder democrata-cristão tenta assim neutralizar a ameaça de Adolfo Mesquita Nunes. O antigo vice-presidente de Assunção Cristas pediu a convocação de um Conselho Nacional para discutir e aprovar a realização de um congresso extraordinário eletivo. Ora, se a moção de confiança de Rodrigues dos Santos for aprovada, Adolfo Mesquita Nunes receberá um sinal político muito pouco encorajador.

Se não for convocado um congresso extraordinário neste Conselho Nacional, Mesquita Nunes só tem uma saída para forçar eleições: recolher as assinaturas necessárias para o fazer.

No entanto, em entrevista ao Público, o antigo secretário de Estado defendeu que não era “útil para o partido” começar um “processo de disputa de liderança com recolha de assinaturas” e o Observador sabe que se o Conselho Nacional chumbar o congresso a hipótese de ser Mesquita Nunes ou algum dos seus apoiantes a forçá-lo é muito reduzida.

Líder do CDS vai avançar com moção de confiança

Em atualização