Pedro Santana Lopes tinha dito em outubro ao Observador que a “única exceção” que abriria de voltar a funções que já exerceu seria a Figueira da Foz. A ideia ganhou corpo, mas as estruturas locais fecharam completamente a porta e os notáveis do PSD na cidade nem querem ouvir falar em regressos. Mais do que isso: a concelhia já escolheu outro candidato. O presidente da concelhia do PSD/Figueira da Foz, Ricardo Silva, garantiu ao Observador que “a concelhia já decidiu, a comissão política distrital concordou, o candidato já aceitou e até já falou com a secretaria-geral.” Ricardo Silva não quer revelar o nome, mas o Observador sabe que é Pedro Machado, presidente do Turismo do Centro, que aceitou o desafio.
As estruturas locais garantem que, da parte da concelhia e da distrital, o nome de Pedro Santana Lopes nunca esteve em cima da mesa. Mas o nome ganhou tração quando Pedro Santana Lopes jantou com Rui Rio, José Silvano e Maló de Abreu a 16 de dezembro, tendo sido veiculada a hipótese de ser candidato a Sintra ou Figueira da Foz. Rio teria, no entanto, garantido o óbvio: que militantes de outros partidos não seriam candidatos nas listas do PSD. Independentes sim, militantes de outros partidos não. Mas Santana Lopes resolveu essa parte ao desfiliar-se.
Pela Figueira da Foz, o trabalho foi sendo feito ignorando a hipótese Santana. Logo quando se candidatou em junho, Ricardo Silva defendeu que o candidato deveria à autarquia deveria ser Pedro Machado. Na altura o atual presidente venceu a lista de Carlos Rabadão, que tinha nas suas fileiras defensores da opção Santana Lopes. O nome de Pedro Machado — aprovado logo a 2 de janeiro deste ano pela concelhia — será agora consensual, já que a estrutura acredita que este é um nome com hipóteses de vencer e de conquistar eleitorado ao Partido Socialista.
Já depois disso, ainda em entrevista ao Diário de Notícias a 3o de janeiro, Pedro Santana Lopes revelava ter sido convidado para várias autarquias. “Já veio a público que os vários desafios que me fizeram são para vários sítios do país e mais do que uma hipótese no distrito de Lisboa”, revelava o antigo líder do PSD já depois de se desvincular do partido Aliança.
Entre notáveis do PSD na Figueira da Foz já há várias vozes que se erguem contra um eventual regresso de Santana Lopes. O antigo presidente da câmara da Figueira da Foz (entre 1980-82), Joaquim de Sousa diz ao Observador que colocar Santana Lopes como candidato do PSD seria uma “péssima ideia”, e lembrou que a autarquia andou “20 anos a pagar a dívida que ele deixou”. E acrescenta: “Ainda se está a pagar a dívida”.
Apesar de se assumir como “outsider“, o antigo deputado do PSD (que curiosamente foi presidente da autarquia ainda pelo PS, tendo depois mudado de partido) diz que “a concelhia do PSD sempre apostou na candidatura de Pedro Machado”. Joaquim de Sousa que escreveu um livro que incluiu a gestão de Santana chama ao mandato de Santana Lopes o “reinado do efémero”, com “anos de facilidades, bastante ao gosto popular, em a Figueira foi posta do mapa à custa de uma grande despesa improdutiva.”
A melhoria da estrutura viária ou a construção do Centro de Artes e Espetáculos, que considera positivos, não são, no entender do antigo autarca, suficientes para justificar o aumento da dívida deixada por Santana Lopes: “A dívida não foram os 17 milhões que ele disse que existiam em 2001, eram afinal os 36 milhões que se descobriram em 2002”. Joaquim de Sousa admite que quando apareceu em 1997, Santana Lopes representou uma “esperança para a cidade depois de 15 anos negros”, mas que “no fim, o resultado foi mau”.
Quem é Pedro Machado?
Pedro Machado é presidente do Turismo do Centro desde 2008. Tem ligações à Figueira da Foz, cidade onde casou. Tem experiência autárquica, uma vez que durante 12 anos foi vice-presidente da câmara de um concelho vizinho da Figueira, Montemor-o-Velho.
O candidato que já aceitou o convite foi presidente da distrital de Coimbra e também membro da Comissão Política Nacional durante a liderança de Luís Marques Mendes. Pedro Machado tem 54 anos é licenciado em Filosofia, mestre em Ciências da Educação e doutorando em Turismo.