A falta de capacidade para sequenciar os genomas do SARS-CoV-2, o vírus responsável pela Covid-19, pode estar a atrasar a identificação de novas variantes em mais países, afirmou esta sexta-feira a cientista britânica Sharon Peacock.

Preocupa-me que em sítios onde não temos dados de sequenciamento existam variantes preocupantes. A única razão por que conhecemos as variantes do Brasil e África do Sul é porque eles fizeram sequenciamento. São países que fazem mais sequenciamento que vão encontrar mais variantes e informar o resto do mundo”, afirmou esta sexta-feira numa conferência de imprensa com jornalistas internacionais.

Além de professora na Universidade de Cambridge de Microbiologia e Saúde Pública, Sharon Peacock está ativamente a trabalhar como diretora científica na direção geral de saúde de Inglaterra Public Health England e a dirigir o Consórcio COVID-19 Genomics UK (COG-UK).

O COG-UK foi criado para produzir o sequenciamento de vírus de genoma completo em larga escala e rápido aos serviços de saúde pública britânicos e ao Governo britânico, reunindo laboratórios públicos, o Instituto Wellcome Sanger e mais de 12 instituições académicas.

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Segundo Sharon Peacock, desde abril de 2020 foram sequenciados 240 mil genomas e o consórcio continua a sequenciar cerca de 20 mil genomas por semana para tentar perceber melhor como a doença se transmite e como poderá evoluir em termos de mutações e novas estirpes.

Esta informação é adicionada às bases de dados internacionais onde pode ser consultada de forma aberta.

Foi através do sequenciamento feito no Reino Unido que foi identificada a variante identificada em Inglaterra, também designada por B117, considerada mais infecciosa e potencialmente mais mortífera, na qual recentemente foram encontradas mutações de tipo E484K.

Esta mutação na proteína do espigão [spike] também foi encontrada nas variantes B1128, detetada no Brasil, e B1351, detetada na África do Sul, contra as quais os cientistas receiam que as vacinas sejam menos eficazes.

“Não é surpreendente que vírus em diferentes partes do mundo encontrem a mesma forma de fazer o mesmo, chama-se evolução convergente”, afirmou a cientista, numa referência ao fenómeno através do qual seres vivos de origens diferentes adquirem uma característica semelhante.

O sequenciamento do genoma do coronavírus poderá ajudar a informar os investigadores e farmacêuticas sobre potenciais alterações às vacinas para aumentar a eficácia contra certas variantes, acredita o diretor de ciências de dados do COG, Ewan Harrison.

“Vai ser essencial sermos capazes de sequenciar em todo o mundo. Vai ser uma parte importante para nos mantermos um passo à frente do vírus”, explicou.