Apenas duas das contratações da SAD do FC Porto para o plantel principal esta época — os laterais Zaidu e Nanu — implicaram a aquisição da totalidade do passe. Nos casos de Evanilson, Taremi e Toni Martinez a sociedade portista não adquiriu entre 15% a 25% de cada um destes avançados, de acordo com os dados recolhidos pelo Observador no mais recente relatório e contas semestral da SAD portista comunicado à CMVM, referente ao primeiro semestre desta época.
A prática tem sido habitual nos últimos anos, levando o FC Porto a ter já 11 jogadores nestas condições — ou seja, 58% de todos os atletas com valor contabilístico acima de 1 milhão de euros.
A SAD pode sempre mais tarde comprar o que resta dos passes — como fez ainda esta época com o internacional Danilo Pereira e como tem sido hábito entre os grandes do futebol português ao longo dos anos. Mas, para já, numa altura em que tenta sair da alçada do Fair Play financeiro da UEFA, o FC Porto mantém tendência de ficar apenas com parte dos passes.
Evanilson foi o mais caro. Aos 21 anos, foi comprado em 80% por 8,7 milhões de euros ao Tombense FC, uma equipa da série C brasileira — apesar de o jogador ter uma ligação de vários anos ao Fluminense, onde jogou na equipa principal nas duas últimas épocas. A SAD portista adquiriu ainda 85% do passe de Taremi (4,9 milhões de euros, incluindo encargos adicionais) e 75% do passe de Toni Martinez (3,4 milhões de euros). Já Zaidu, comprado na totalidade, custou 4,3 milhões de euros. E há ainda 5,3 milhões de euros gastos noutros jogadores mais baratos (de valor contabilístico inferior a 2 milhões), onde se inclui o lateral Nanu.
No final do ano passado, Nakajima era o jogador em que o FC Porto tinha menor percentagem do passe — apenas 50% (que custou 11,6 milhões de euros na época anterior). Seguem-se Manafá (60%), Corona (66,5%), Loum (75%), Luis Diaz (80%), Uribe (85%), Fernando Andrade (90%), Marega (95%) e os três avançados comprados este ano.
O guarda-redes Marchesín, os defesas Zaidu, Saravia, João Pedro, Marcano, Mbemba, Nanu e o médio Danilo Pereira são detidos a 100%. Ou seja, do meio campo para a frente, apenas o internacional português está, por enquanto, totalmente nas mãos da SAD portista — e não deverá ser por muito tempo, uma vez que o empréstimo ao PSG deverá envolver uma cláusula de compra obrigatória de 20 milhões de euros.
Fábio Silva rende 25 milhões em mais-valias
Nas vendas — que geraram um resultado de 43,2 milhões de euros neste primeiro semestre da época — o relatório e contas semestral permite perceber que dos 40 milhões de euros pagos pelo Wolverhampton, o jovem Fábio Silva rendeu 25 milhões de euros em mais-valias.
Este conceito contabilístico não coincide normalmente com o preço a que os jogadores são vendidos, já que é descontado, sempre que se aplique, comissões a intermediários, percentagens do passe detidos por terceiros e, entre outros, o valor que falta amortizar do jogador aquando da venda.
No relatório e contas, a sociedade portista refere que a “alienação dos direitos de inscrição desportiva do jogador Fábio Silva ao Wolverhampton Wanderers Football Club” gerou “uma mais-valia de 25.057.457 euros”. Este valor é obtido depois de deduzidos 14,9 milhões de euros relativos a “(i) custos com serviços de intermediação (ii) valor líquido contabilístico do passe à data da alienação (iii) efeito de atualização financeira das contas a receber a médio prazo originadas por esta transação”.
O FC Porto já tinha informado em setembro que havia 10 milhões de euros em serviços de intermediação (7 milhões para a Gestifute, de Jorge Mendes, e 3 milhões para a STV), pelo que, se nada tiver sido alterado desde essa comunicação, os restantes 5 milhões de euros são referentes ao valor contabilístico na hora da venda e à atualização financeira.
O FC Porto não especifica quanto cabe a cada uma dessas componentes, mas no primeiro caso o valor deverá ser residual ou mesmo nulo, uma vez que os jogadores da formação tendem a pouco ou nada significar do ponto de vista contabilístico — por não terem normalmente qualquer custo de compra associado nem implicarem prémios de assinatura milionários quando há renovação de contrato. É, aliás, por valerem pouco contabilisticamente que se torna mais tentador para as administrações das SAD venderem jogadores da formação.
Na primeira metade desta época, foi ainda vendido Alex Telles ao Manchester United, gerando uma mais-valia de 11,1 milhões de euros (de um total de 15 milhões). Aqui, no entanto, há que descontar algum valor contabilístico, porque os passes dos jogadores são considerados numa lógica de investimento — primeiro, fazem aumentar os ativos da SAD no exato valor de compra e, depois, esse valor vai sendo amortizado de forma proporcional enquanto durar o contrato. Não está em causa a modalidade de pagamento, mas o modo como as aquisições de jogadores são tratadas do ponto de vista contabilístico.
Alex Telles, que custou 6,5 milhões de euros, num contrato assinado a cinco anos, foi desvalorizando a um ritmo de 1,3 milhões de euros por ano. E, no momento da venda, foi descontado ao valor bruto o montante que faltava amortizar. Neste caso, o lateral brasileiro estava no último ano de contrato.
Mas não é só aqui que há desconto às mais-valias, porque na compra do jogador ao Galatasaray, em 2016, o clube turco ficou com direito a 10% de uma venda futura. E há que contar ainda com o mecanismo de solidariedade, a ser pago aos clubes da formação de Alex Telles, que envolve até um máximo de 5% do valor da transferência.
Finalmente, o FC Porto informa que as vendas de Chidozie ao Boavista e de Soares aos chineses Tianjin Teda renderam cerca de 3,5 milhões de euros cada em mais-valias e a alienação de Osório para os italianos do Parma gerou 1 milhão.
O FC Porto fechou o último semestre com lucros de 34 milhões de euros, uma melhoria substancial face aos prejuízos de quase 52 milhões de euros do mesmo período de 2019.
Artigo atualizado em 13 de fevereiro, às 10:18.