O primeiro-ministro australiano pediu esta sexta-feira à norte-americana Facebook para levantar o bloqueio aos utilizadores do país e voltar a negociar com as empresas de comunicação social da Austrália.
No entanto, Scott Morrison alertou que outros países podem vir a seguir o exemplo do governo de Camberra obrigando as grandes empresas digitais “a pagar pelo jornalismo”.
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O primeiro-ministro australiano disse que a decisão da empresa Facebook sobre o bloqueio do acesso de utilizadores deste país é “uma ameaça”. O bloqueio fez aumentar a determinação do Governo australiano em querer fazer com que os gigantes tecnológicos paguem às empresas de comunicação social pelos conteúdos partilhados.
“A ideia de desligar o acesso a portais, como eles fizeram ontem (quinta-feira), assim como todo o tipo de ameaças (…) não foi uma boa decisão por parte deles”, disse Morrison aos jornalistas hoje em Camberra.
“Eles devem rapidamente ultrapassar isto e voltar à mesa (das negociações)”, acrescentou.
A indignação pública australiana sobre o bloqueio do Facebook foi notória até porque foi cortado o acesso, pelo menos de forma temporária, a informações sobre a pandemia de Covid-19, serviços de saúde e serviços de emergência. Hoje os títulos dos jornais australianos escrevem “Faceblock” (numa alusão ao bloqueio) e “Não deem ‘likes’ à rede antissocial”.
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Um artigo sobre a forma como as notícias falsas podem prejudicar o jornalismo na Austrália tem como título “Facebook só quer saber dos lucros, não das pessoas”. Alguns títulos estrangeiros também foram afetados, com comentários a desaparecem Facebook porque foram escritos nas páginas das empresas britânica Daily Telegraph e Sky News, que partilham os nomes dos títulos com as delegações australianas.
O bloqueio foi uma reação ao projeto de lei aprovado pela Câmara dos Representantes da Austrália, na quarta-feira à noite, que obriga as empresas Facebook e Google a pagar compensações aos jornais e meios de comunicação social australianos pelos conteúdos jornalísticos utilizados pelas plataformas digitais. O projeto vai ter de ser aprovado pelo Senado que institucionaliza a legislação.
A Google reagiu rapidamente fechando acordos de licenciamento de conteúdos com grandes empresas de comunicação social da Austrália sob o modelo News Showcase.
A News Corp. de Rupert Murdoch anunciou um acordo com a Google que cobre a operação nos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália. A Sevem West Media, um grande grupo de comunicação social australiano também fechou um acordo esta semana. A Nine Entertainment também anunciou estar prestes a fechar um pacto assim como a empresa pública Australian Broadcasting Corp. (ABC) que comunicou estar em pleno processo negocial.
O primeiro-ministro australiano disse que discutiu os assuntos relacionados com o Facebook com o chefe do Executivo indiano, Narendra Modi, na quinta-feira. Morrison disse que também vai abordar a questão com os governos do Reino Unido, Canadá e França.
“Existe um grande interesse sobre o que a Austrália pretende fazer”, afirmou Morrison.
“É por isso que eu convidei, tal como fiz com a Google, a empresa Facebook para conseguirmos compromissos construtivos porque eles sabem que o que a Austrália fizer vai ser seguido pelas legislações ocidentais”, acrescentou.
O ministro das Finanças, Josh Frydenberg manteve uma conversa telefónica com o patrão da empresa Facebook, Mark Zuckerberg.
“Falamos sobre assuntos que faltam analisar e acordos e que as nossas respetivas equipas devem retomar. Vamos voltar a falar durante o próximo fim de semana”, disse Frydenberg através do Twitter.
O ministro disse ainda que a empresa Facebook estava a manter negociações construtivas com a Austrália sobre indemnizações antes de decidir “surpreendentemente” cortar o serviço. O presidente da Comissão Executiva da News Corp Australia demonstrou uma opinião diferente sobre as negociações por parte da Facebook. A News Corp. detém a maior parte dos títulos da Austrália e segundo analistas internacionais quer utilizar o governo conservador australiano para obrigar as empresas Facebook e Google a pagarem indemnizações.
“Esta legislação é puro protecionismo e que saiu da cabeça de Rupert Murdoch na tentativa de criar uma taxa contra os concorrentes”, disse Jeff Jarvis, jornalista e professor da Universidade de Nova Iorque, Estados Unidos.
A Facebook disse quinta-feira que a proposta legislativa australiana “confunde as relações entre a plataforma (digital) e as publicações que utilizam a rede”. Morrison disse que está disposto a “ouvi-los (Facebook) sobre aspetos técnicos” mas mantém-se determinado sobre a legislação.