Uma semana depois de entrar em vigor a nova estratégia de testes à Covid-19, que alargou o rastreio a todos os contactos dos infetados e a um conjunto de setores estratégicos, o número de testes feitos em Portugal todos os dias não aumentou — antes pelo contrário, caiu para menos de metade em relação ao pico da pandemia.

De acordo com os dados oficiais da Direção-Geral da Saúde, na semana passada, a primeira em que esteve em vigor a nova norma de testagem, realizaram-se em média 33 mil testes por dia; no pico da pandemia, em janeiro, essa média foi de 70 mil testes. Com efeito, a semana que passou foi a semana de 2021 em que se realizaram menos testes à Covid-19.

Esta quebra no ritmo da testagem é confirmada ao Observador por vários laboratórios nacionais e também por representantes de alguns dos setores abrangidos pelo alargamento da estratégia de testes.

Covid-19. DGS muda estratégia de testagem. Todos os contactos vão ser testados e vai haver rastreios regulares em escolas

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“Bastante menos. Tendo em conta o que se passou até ao fim de janeiro, em que cheguei a ter 10.200, 10.400 testes por dia”, confirmou à Rádio Observador o médico Germano de Sousa, que lidera um dos principais grupos de laboratórios do país. “Desde o começo de fevereiro, os testes têm vindo a baixar e esta semana, particularmente, os testes reduziram-se para metade ou até menos de metade.”

Germano de Sousa, ex-bastonário da Ordem dos Médicos, diz que não é por falta de capacidade dos seus laboratórios e diz que até já avisou “quem de direito” que as suas instalações podem fazer mais. “Os meus laboratórios, se fossem precisos, estariam já a fazer 12, 13 mil testes por dia e, se necessário, com esforço, em oito dias passaríamos para 15 mil, dando resultados em 24 horas.”

Germano de Sousa: “Testámos metade face ao pico”

A nova norma de testagem, que entrou em vigor no dia 15 de fevereiro, alargou a realização de testes à Covid-19 a todos os contactos de um infetado, incluindo os de baixo risco. Em simultâneo, foi alargada a realização de rastreios em escolas, prisões, fábricas ou na construção civil nos concelhos de maior risco.

Vários fatores são apontados para explicar a redução no número de testes, incluindo a diminuição significativa do número de casos devido ao confinamento ou a limitação às deslocações para o estrangeiro, que exigiam a realização de um teste. Contudo, também se verifica um atraso em fazer sair do papel a nova norma da DGS.

Um dos setores onde o aumento da testagem era mais aguardado é o da construção civil, mas representantes do setor dizem à Rádio Observador que isso ainda não aconteceu.

“A aplicação direta dos testes à luz da norma, penso que não terá havido nenhuma evolução”, disse o presidente da Associação de Empresas de Construção, Ricardo Gomes, lembrando que “já existia uma prática de testes que vem desde o início da pandemia, mas à luz da norma não“.

Associação de Empresas de Construção: “Norma de testagem na construção civil? Não”

“A norma entrou em vigor na segunda-feira passada. Nós, associações, solicitámos à DGS uma clarificação sobre alguns pontos da norma para podermos indicar às nossas empresas como proceder”, acrescentou Ricardo Gomes, salientando que ainda não tinha recebido uma resposta da parte das autoridades de saúde.

A mesma versão é contada pelos trabalhadores. “A testagem que foi prometida em março ao setor da construção civil, posso dizer com toda a veemência que nas obras com maior risco isso não está a acontecer”, afirma o presidente do Sindicato de Construção de Portugal, Albano Ribeiro. “Nas obras de empresários de pequena, média e grande dimensão essa situação não se colocava numa primeira fase. É nas outras onde as pessoas não têm gel, não utilizam máscaras. Eu faço um desafio à senhora ministra da Saúde para ela visitar obras e que me diga quais foram as obras. Eu tenho falado com alguns associados do sindicato e isso não está a acontecer no setor.”

Sindicato: “Desafio a ministra da saúde a visitar uma obra”

Albano Ribeiro insiste que a testagem em massa “não está a acontecer” e reforça que é nas pequenas obras de reabilitação urbana, onde são comuns situações como seis trabalhadores terem de se deslocar numa mesma carrinha onde só deviam andar duas pessoas, que a testagem se deveria focar.

Já no setor da educação, os testes arrancaram, mas em número reduzido. “Temos conhecimento que esses testes já estão no terreno, são testes realizados periodicamente, mas a um número muito pequeno de funcionários e professores“, lamenta Filinto Lima, o presidente da Associação Nacional de Diretores de Escolas Públicas. “[A testagem] surgiu nos últimos dias, talvez na última semana. Há escolas de diversos concelhos que estão já a ser alvo destes testes de antigénio. Isso é positivo.”

Escolas: “Testes no terreno, mas são poucos”

Neste momento, as escolas não estão encerradas, continuam a lecionar, há alguns alunos, com certeza, e têm um número reduzido no seu espaço de docentes e professores“, diz Filinto Lima, pedindo mais coragem nas medidas para a educação. “Os professores e funcionários que estão neste momento neste contexto de escola deveriam ser priorizados em relação à toma da vacina. Estão também à frente da batalha.”

No que toca ao universo das prisões, a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais confirmou ao Observador que estão a ser realizados testes regulares, mas sem adiantar números.

O Observador procurou esclarecimentos sobre a redução do número de testes junto da Direção-Geral da Saúde, mas não obteve resposta até ao momento.