Um aumento de capital na EDP Renováveis e aceleração dos investimentos para quase cinco mil milhões de euros por ano até 2025, para que a EDP seja uma empresa verde (neutra em termos de carbono) até 2030.
Estas foram linhas chave da revisão do plano estratégico para os próximos cinco anos, o primeiro documento com o cunho da nova equipa executiva liderada por Miguel Stilwell de Andrade. E se os mercados receberam bem as novas metas — as ações da EDP seguiam a ganhar mais de 2%, sendo que as perdas da EDP Renováveis são explicadas pela intenção de aumentar o capital — o novo CEO da maior empresa portuguesa não se livrou do tema da venda das barragens do Douro, operação que alguns acusam de ter sido montada para evitar o pagamento de impostos.
A primeira notícia do dia é o investimento de 24 mil milhões de euros que a EDP se propõe fazer na transição energética. 95% do novo plano irá para o desenvolvimento da capacidade renovável (eólica, solar, hidrogénio). A EDP Renováveis deverá investir mais de 19 mil milhões de euros. É neste contexto que surge a ponderação de fazer um aumento de capital entre 1,5 mil milhões e 2 mil milhões de euros que será destinado a investidores institucionais, para já. E que ainda não tem data.
A EDP tenciona manter o sólido controlo acionista da Renováveis, acima dos 70%, mas tirar partido da visibilidade da empresa em mercado para a usar como veículo de financiamento o plano de investimento mais ambicioso de sempre e que tem como objetivo continuar garantir que a elétrica continuará a ser líder na transição digital.
A empresa conta também vender ativos no valor de mil milhões de euros e fazer rotação de ativos (venda de participações em operações madura para investir em novas) no valor de oito mil milhões de euros, com o compromisso de manter uma dívida controlada. O gestor sublinhou que a EDP fechou 2020 com a dívida mais baixa em 13 anos.
A maioria dos ativos para venda situa-se no Brasil e alguns são detidos em parceria com a acionista chinesa CTG. Questionado sobre as aquisições realizadas de forma autónoma pela China Three Gorges em mercados ontem tem presença, como Espanha, Miguel Stilwell de Andrade explicou que a CTG tem a sua estratégia própria de expansão internacional. Mas assinalou que essa estratégia deve ser feita em cooperação e não em concorrência perante ativos que a própria EDP pretenda. Nesse sentido, indicou que as aquisições de parques eólicos em Espanha foram concertadas previamente com a EDP.
Apesar de ser cada vez mais internacional, a EDP garante que irá manter o compromisso com Portugal onde planeia investir 6,2 mil milhões de euros até 2025. O mesmo para Espanha onde pretende investir dois mil milhões de euros. Entre os projetos destacados está o Windfloat, plataforma flutuante para produção eólica offshore, para além de investimentos nas redes da ordem dos 300 milhões de euros por ano, previstos ainda sem se saber como se a elétrica irá manter as concessões municipais da rede de baixa tensão que o Governo quer levar a concurso. Fora destes números está o projeto de hidrogénio para Sines que prevê um investimento de três mil milhões de euros a desenvolver por um consórcio que envolve também a elétrica.
Para a inovação de digitalização estão previstos dois mil milhões de euros. A Europa e os Estados Unidos vão absorve 80% do investimento, com o presidente executivo a destacar a opção por ambientes regulatórios estáveis e previsíveis que permitam retornos adequados.
Numa apresentação que começou com as alterações climáticas, o CEO reafirmou o objetivo de eliminar o carvão até 2025 e tornar a EDP limpa de energias fósseis até 2030. Esta estratégia irá implicar a prazo que as centrais a gás natural que empresa tem em Portugal e Espanha possam ser desconsolidadas do grupo, seja através de venda ou parcerias.
Para além das renováveis, o presidente executivo referiu ainda a necessidade de investir no reforço e capacitação das redes elétricas. Não só para acomodar com segurança a entrada de produção intermitente (renovável), mas também para evitar ruturas causadas pelo aumento de fenómenos climáticos extremos como os vividos recentemente no Texas. O hidrogénio também fará parte da estratégia de investimento da EDP com 20 projetos em carteira para alcançar uma capacidade de 250 MW.
O plano apresentado prevê que o grupo EDP chegue a lucros de 1,2 mil milhões de euros até 2025 — em 2020, os resultados foram de 801 milhões de euros — e um patamar mínimo de dividendos 19 cêntimos por ação, mas com potencial para ser maior.
O presidente executivo da elétrica reafirmou também a convicção de que a Contribuição Extraordinária sobre o Setor Energético, que a empresa tem vindo a contestar, irá gradualmente ser eliminada com a redução da dívida tarifária, como o Governo se comprometeu. Aos analistas, Stilwell de Andrade admitiu que espera que a CESE desapareça até 2025.
Atualizado às 14h5o com conferência de imprensa do presidente executivo da EDP.