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Jerry West tem 82 anos. Nos 14 anos em que jogou basquetebol ao mais alto nível, de 1960 a 1974, só representou os Lakers. Foi uma vez campeão da NBA, uma vez MVP das Finals, 14 vezes All-Star, está no Hall of Fame e em 2019 recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade, a mais alta condecoração para um civil norte-americano, das mãos do Presidente Donald Trump. Mas, pelo menos fora dos Estados Unidos, Jerry West é conhecido principalmente por outra coisa.
É de West, nascido em West Virginia em 1938, a silhueta que está no símbolo da NBA desde 1969 — a silhueta a branco, a meio do logótipo, ladeada por uma faixa azul e outra vermelha. Alan Siegel, o autor do símbolo, já assumiu várias vezes que se inspirou na figura de Jerry West mas apenas por motivos estéticos, não para o destacar acima de qualquer outro atleta. A NBA, por sua vez e apesar de todas as evidências, nunca reconheceu que o símbolo represente um jogador em concreto. Já o antigo basquetebolista, que depois de acabar a carreira foi treinador e diretor-geral dos Lakers mas atualmente faz parte da administração dos Los Angeles Clippers, sempre disse que nunca ficaria ressentido se a NBA decidisse colocar outra silhueta no símbolo. Uma possibilidade que no último ano ganhou uma força adicional.

Foi Jerry West (à esquerda), já enquanto diretor-geral dos Lakers, que assegurou a contratação do jovem Kobe Bryant, no verão de 1996
Desde janeiro de 2020, altura em que Kobe Bryant morreu num acidente de helicóptero, que começaram a surgir as primeiras declarações no sentido de impulsionar uma mudança no logótipo da NBA: uma mudança que incluía retirar a silhueta de Jerry West e colocar a de Bryant, como forma de homenagem àquele que foi um dos melhores jogadores da história da liga norte-americana de basquetebol. O assunto foi estando sempre em cima da mesa, entre fases menos e mais intensas, e voltou esta semana à atualidade desportiva graças a Kyrie Irving, jogador dos Brooklyn Nets que era amigo próximo de Kobe Bryant.
“Tem de acontecer, não quero saber do que dizem. Os reis negros construíram a liga”, escreveu Irving no Instagram, numa legenda que acompanhava uma montagem de Bryant no centro do símbolo da NBA. A declaração reuniu inúmeras relevantes mensagens de apoio, como as de James Harden ou LaMelo Ball, mas recebeu um like obviamente especial: o de Vanessa Bryant, mulher do antigo jogador dos Lakers.
Apesar de uma clara vaga de fundo que começa a existir no interior do basquetebol norte-americano, a verdade é que dificilmente a NBA vai tomar uma decisão deste calibre nos próximos tempos. E essa relutância prende-se principalmente com dois motivos: 1) o facto de não querer colocar Kobe Bryant à frente ou acima de nomes como Michael Jordan, Kareem Abdul-Jabbar, Larry Bird, Magic Johnson ou Bill Russell, todos eles enormes símbolos do basquetebol norte-americano; e 2), o facto de não querer alterar uma imagem e um logótipo que, atualmente e há mais de 50 anos, é reconhecido e interpretado no mundo inteiro como sendo o símbolo da NBA.