É um dos discos de 2021 mais esperados na música portuguesa e é um dos muitos álbuns cujo lançamento foi retardado e ficou em suspenso devido à Covid-19. E é especialmente aguardado por vários motivos: pelo impacto que Gisela João teve no fado e na música nacional mal apareceu, com um primeiro (e aclamadíssimo) disco homónimo em 2013, pelo caminho trilhado de expansão musical além-fado (o tema que gravou com o produtor de música de dança Xinobi e os concertos feitos no passado com músicos de jazz assim o atestam) e pelo longo tempo passado desde o último disco de Gisela João, Nua, o segundo da discografia, editado em 2016.
Tudo isto está prestes a mudar: a cantora e fadista portuguesa começa agora a desvendar o seu AuRora, o álbum que tinha feito antes do início da pandemia da Covid-19 e que ficou à espera de melhores tempos para ver a luz do dia. E fá-lo com a revelação do primeiro single do disco, o tema “Louca”, publicado com a companhia de um teledisco:
Esta nova canção teve música e letra de Marco Pombinho. Os arranjos musicais ficaram a cargo do norte-americano Michael League. Na canção ouve-se a voz afadistada e profunda de Gisela João mas também guitarra portuguesa — tocada por Bernardo Romão —, guitarra (Nelson Aleixo), baixo (Francisco Gaspar), piano e teclados (Justin Stanton), mellotron e moog bass (Michael League) e palavras fortes:
Mas procura saber
do fogo que nos arde aos dois
do amor que deixas para depois.
Dizes que eu sou tudo ou nada
não sabes nada de mim
Já o videoclip do single foi filmado em São Paulo, funcionando “como o Canto I de uma trilogia de canções e respectivos vídeos, cuja narrativa os transforma numa curta metragem quando vistos na devida sequência”. Os vídeos com os telediscos — a este “Louca” seguem-se os vídeos de “Já Não Choro Por Ti” e “Canção ao Coração” — sairão até ao lançamento do disco, agendado para abril.
Um disco entre Lisboa e Barcelona, com Gisela letrista e compositora
A espera por música nova de Gisela João foi “longa” e durou “mais de cinco anos”, reconhece a agência que representa a cantora, em nota oficial enviada a propósito do novo single. Mas desses mais de cinco anos, um ano e um mês deveram-se à pandemia da Covid-19, já que o lançamento do disco AuRora chegou a estar apontado para março de 2020 e só sairá em abril deste ano.
O disco foi gravado em duas cidades, Lisboa e Barcelona, e teve produção de Michael League e co-produção de Nic Hard. É também “o primeiro disco em que Gisela João apresenta essencialmente canções originais e revela os seus dotes de letrista e compositora”, avança a sua agência. Algo especialmente relevante dado que no meio onde Gisela João começou por se afirmar, o fado, tradicionalmente não é o intérprete (e muito menos a intérprete) a compor a música e a escrever as letras dos fados que canta.
Michael League, o produtor de AuRora, já venceu três Grammys, é fundador da banda Snarky Puppy e enquanto produtor colaborou recentemente com o músico e cantor David Crosby — além de integrar uma banda que acompanhou Crosby, foi o produtor do seu disco Lighthouse, de 2016, que curiosamente tinha como fotografia de capa uma imagem do Farol de Felgueiras. Já Nic Hard, que colaborou com League na produção sonora, é um produtor e engenheiro de som que tem trabalhado regularmente com os Snarky Puppy.
