Desde novembro do ano passado que o Tottenham não vivia um momento tão positivo. Depois de um período difícil, com seis derrotas em oito partidas, os spurs conseguiram levantar a cabeça e encarreirar numa série de quatro vitórias consecutivas entre Liga Europa e Premier League. Se os compromissos europeus permitiram eliminar tranquilamente o Wolfsberg e prosseguir para os oitavos de final, as jornadas da liga garantiram a reaproximação dos lugares de acesso às competições europeias da próxima temporada. E o nome de Gareth Bale não pode ficar alheio às duas semanas muito positivas do Tottenham.

O avançado galês, que a dada altura pareceu de fora das contas de José Mourinho e preparado para mais uma época praticamente vazia, parece ter voltado aos seus melhores dias e marcou cinco golos nesses últimos quatro jogos. Depois de elogiar Bale na sequência da partida contra o Burnley, em que o jogador bisou, o treinador português voltou a fazê-lo depois do encontro com o Crystal Palace, no passado fim de semana, onde o avançado marcou novamente dois golos. “Todo o mérito vai para ele. Acredito nele e nas sensações que tem do próprio corpo. Não o quero, nunca, em altos níveis de fadiga. Aos 55, 60 minutos, já estamos em contacto e o plano que temos é tirá-lo sempre que esses sinais começarem a aparecer. Normalmente, os jogadores podem ligar com isso e acabam os jogos exaustos. Mas, no caso do Bale, temos de ter muito cuidado porque precisamos dele”, explicou Mourinho, detalhando depois o nível elevado de comunicação que tem com o jogador emprestado pelo Real Madrid durante os jogos.

“Acredito que podemos ganhar por tua causa”: entre 101 segundos de conversa e a realidade, Mourinho criou um monstro chamado Kane

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“Quero dar seguimento a este bom momento dele mas é preciso geri-lo. A comunicação entre nós é boa, neste momento estamos a decidir em conjunto o que fazer. No jogo com o Crystal Palace, o quarto árbitro até estava aborrecido de eu tanto falar com o Bale. Perguntei-lhe se aguentava mais 10 minutos, mais 20… Tem jogado muito bem. É claro que eu gostava de que ele jogasse 90 minutos todos os jogos mas ele não aguenta”, acrescentou o técnico dos spurs. Esta quinta-feira, o Tottenham continuava o percurso na Liga Europa, onde é um dos candidatos à vitória final, e recebia o Dínamo Zagreb na primeira mão dos quartos de final.

Em Londres, Mourinho tinha praticamente toda a equipa à sua disposição — à exceção do lesionado Lo Celso — mas não deixava de ter um lembrete no calendário: no próximo domingo, o Tottenham visita o Arsenal no dérbi do norte da capital inglesa que é também um dos jogos mais importantes da época para os dois clubes. E entre poupar a pensar no Arsenal, fazer alterações para dar mais minutos aos menos utilizados ou manter as opções porque a equipa está num bom momento, o treinador português deixou claro que iria escolher um onze “forte de qualquer forma”. “Não vamos dar prioridade a esta ou aquela competição. Não, não vou estar já a pensar no jogo com o Arsenal. Para este jogo faremos alterações como fizemos nos anteriores, porque a equipa está a jogar bem e a ganhar. Toda a gente merece jogar e é fácil para mim confiar em todos (…) Poderiam pensar que, por estarmos num bom momento, eu não mudaria a equipa. Mas vou mudar. A equipa está a trabalhar bem, toda a gente a treinar no duro, por isso não interessa quem vai jogar, a equipa será forte de qualquer forma”, concluiu, deixando ainda a ideia de que é preciso respeitar o Dínamo Zagreb porque não existem “equipas fracas” nesta fase da competição. “Eles são bons, defendem bem e são fortes no contra-ataque”, atirou, sublinhando que os croatas sofreram apenas um golo durante a fase de grupos.

Assim, e em comparação com o jogo com o Crystal Palace, Mourinho tirava Matt Doherty, Alderweireld, Reguilón, Winks, Højbjerg, Bale e Lucas Moura e lançava Aurier, Eric Dier, Ben Davies, Sissoko, Ndombélé, Lamela e Dele Alli. Lloris, Sánchez, Kane e Son eram os únicos sobreviventes, enquanto que Bergwijn e Carlos Vinícius começavam no banco. Do outro lado, o macedónio Ristovski, ex-lateral do Sporting, era titular na direita da defesa do Dínamo Zagreb, enquanto que Misic, também antigo jogador dos leões, era suplente.

Numa primeira parte que o Tottenham dominou praticamente na íntegra, sem grandes percalços nem imprevistos, o Dínamo Zagreb raramente conseguiu chegar ao último terço dos ingleses. Os desequilíbrios dos croatas apareciam normalmente pelo corredor central — com Petkovic a ser travado em falta de forma frequente e eficaz — e os spurs anulavam todas as tentativas de contra-ataque que iam aparecendo. A equipa de José Mourinho tinha a partida controlada, embora estivesse longe de asfixiar o adversário, e preocupava-se em trocar a bola no meio-campo contrário para depois procurar a profundidade de Son e as desmarcações de Kane.

Sem nunca acelerar muito nem imprimir enorme dinâmica à partida, o Tottenham acabou por desbloquear o resultado ainda antes da meia-hora. Lamela desequilibrou pela faixa central, passou por vários adversários à procura do pé esquerdo para rematar e acabou por desviar já na grande área; a bola foi ao poste mas sobrou para Harry Kane, que só teve de encostar para dentro da baliza deserta (25′). Os spurs entraram de imediato numa espécie de lógica de gestão, sem necessidade de procurar rapidamente o segundo golo e sem obrigação de recuar porque o Dínamo Zagreb não ameaçava, e chegaram ao intervalo com uma vantagem magra mas um conforto mais do que notório. Kane ia fazendo a diferença mas era Lamela, um dos elementos que aparecia no onze devido à rotatividade promovida por Mourinho, o grande destaque dos ingleses — o argentino de 29 anos era um dos poucos que conseguia rasgar a defesa croata quase sempre que pegava na bola e assumia o papel de pêndulo ofensivo e criativo da equipa.

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Na segunda parte, sem que o jogo demonstrasse desde logo grande pontos de destaque, o Dínamo Zagreb acabou por ter a primeira oportunidade com um remate ao lado de Petkovic, na sequência de um contra-ataque rápido a partir da direita (60′). Mourinho percebeu que a equipa estava a perder intensidade e concentração, para além de que estava a ficar crescentemente suscetível a surpresas nas costas da defesa, e fez uma tripla alteração: saíram Lamela, Son e Dele Alli (este último em claro subrendimento), entraram Bale, Lucas Moura e Bergwijn. O impacto das substituições foi praticamente imediato e Bale, com um cruzamento de trivela a partir da direita, ofereceu desde logo um golo feito a Bergwijn, que com um remate pouco ortodoxo ao segundo poste permitiu uma enorme defesa de Livakovic (65′).

Pouco depois, a ameaça tornou-se efetiva. Ndombele abriu na direita com um enorme passe, Aurier fez um movimento diagonal e cruzou de primeira; Harry Kane beneficiou de um erro do central do Dínamo Zagreb para dominar na grande área, ainda pareceu perder o timing de remate mas esperou o suficiente para conseguir atirar rasteiro e aumentar a vantagem dos spurs, tornando simples um golo que chegou a parecer complicado (70′). O avançado inglês voltava a bisar, depois de o ter feito no fim de semana contra o Crystal Palace, e chegava aos 26 golos esta temporada.

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Até ao fim, para além de um extraordinário livre direto de Bale que obrigou Livakovic a uma defesa apertada (83′), pouco aconteceu. O Tottenham venceu o Dínamo Zagreb em Londres e tem desde já um pé e meio nos quartos de final da Liga Europa — sem ter precisado de acelerar muito, de fazer uma grande exibição ou de demonstrar enorme criatividade ofensiva. Kane, que ainda saiu para dar lugar a Carlos Vinícius, marcou mais duas vezes, carimbou a vitória dos spurs e continua a ser o outro príncipe Harry em Inglaterra.